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BRASIL

Ibope mostra Zuleide Queiroz (PSOL) com 11% no Crato (CE): há esperança com as trabalhadoras negras no poder

José Pereira de Souza

Pelas ruas de Seminário, um dos bairros mais populares do Crato, um agrupamento em sua maioria de mulheres negras e jovens distribui panfletos e conversa com as pessoas nas ruas. Em uma das calçadas pessoas sentadas são abordadas, à frente uma mulher negra se destaca com seus cachos, aborda educadamente a família que ao fim da tarde busca a brisa da rua para se aliviar do aperto das moradias simples e do calor escaldante do Crato. A abordagem é sutil: “Boa tarde! Me chamo Zuleide Queiroz, sou candidata à prefeita do Crato pelo PSOL e estamos passando por sua rua para perguntar às pessoas se uma mulher trabalhadora e negra pode participar da política?”. 

A pergunta por vezes causa espanto, mas a resposta quase sempre é “sim”, essa é a deixa esperada para que a conversa se desenvolva com a apresentação de um programa para a cidade voltado para a maioria; para defesa de uma democracia direta, com a voz dos trabalhadores, negros e negras, mulheres e LGBT sendo ouvida em um congresso da cidade. Nossa voz no poder é o lema da campanha repetido milhares de vezes em diferentes bairros, distritos e localidades rurais por onde esse agrupamento passou no cotidiano dessa campanha histórica para o Crato.

Histórica por novamente colocar para a esquerda a necessidade de que nossas campanhas devem ser construídas pela atividade militante, em unidade com os movimentos sociais e com independência de classe. Assim, com pouco dinheiro, em uma campanha orçada em menos de 20 mil reais, enfrentando campanhas com valores muito superiores (1), mas com muita esperança de que os debaixo possam se levantar juntos e construir um novo mundo. A campanha de Zuleide e de seu vice, o também professor Juciel Lima, vai sendo construida e ocupando um espaço importante na cidade e no campo junto com o movimento de mulheres e do movimento negro da região. 

Nas ruas dos bairros periféricos e nas zonas rurais apresentamos a ideia de uma cidade na qual o centro deve ser a periferia, priorizando o gasto público nos bairros mais distantes, nas localidades onde mais se precisa de investimento público. Caminhando pelos bairros – Seminário, Alto da Penha, Barro Branco, Baixa do Maracujá, Palmeirinha, entre tantos outros – isso fica explícito, o esgoto a céu aberto por todas as ruas denuncia a necessidade de saneamento básico, a falta de água cotidiana, a ausência de iluminação pública, falta atendimento de saúde. Os problemas que a classe trabalhadora e o povo negro enfrentam nas periferias das grandes cidades são ainda mais duros na realidade do Crato.

Como Boulos, Zuleide faz campanha num Celta

No campo as dificuldades começam pelas estradas de acesso, o celtinha que leva Zuleide – Sim! Como Boulos, Zuleide faz campanha num Celta – por todos os cantos desse município sofre para superar os buracos das entradas de acesso às comunidades rurais. Um problema que população do Baixio e da Vila Jenipapo sofre cotidianamente. As denúncias do transporte irregular realizado em camionetes e a ausência de serviços básicos de saúde e de educação somam-se ao problema do acesso à terra e à moradia no campo. Famílias inteiras que, em três gerações, residem e trabalham na terra são ameaçados de expulsão pelos proprietários que passam a investir na criação de gado. A paisagem de fundo de nossa conversa é a do campo de futebol que por gerações serviu de lazer para os habitantes locais, rodeado de cercas e arame farpado. Em uma lógica onde o moderno e o atrasado se combinam ao trabalho no modelo de meeiros, logo, vem sendo substituído pelo trabalho por jornada diária, num modelo de capitalismo que estabelece a superexploração do trabalho no campo e combinada com a opressão baseada na ameaça física e de expulsão das famílias de suas casas. Nossa campanha, nesses espaços, retoma o debate sobre a reforma agrária e se coloca a serviço da luta do povo do campo pelo direito à terra e à moradia. Sementes de resistência começam a ser plantadas num campo onde só havia pasto, fazendo brotar a esperança da luta coletiva. 

A campanha nesses 40 dias se colocou a serviço dos que lutam, nosso tempo de rádio e vídeos nas redes sociais apoiaram a luta pela defesa da educação do campo das comunidades do sitio Cipó, de João Grande e dos Currais, Sítio Juá, Assentamento 10 de abril e Palmeirinhas do Vilá que resistiram ao decreto de “nucleamento” da atual gestão do PT que acabou por fechar as escolas. Somamos-nos à luta por moradia das 982 famílias do conjunto São Bento que, desde julho, aguardam a entrega de suas casas; dando voz as mulheres em sua luta organizada em defesa da vida, pautando os casos Silvanir, assassinada em praça pública no Crato ou Mari Ferrer em seu julgamento inquisitório. Como sementes de Marielle Franco, as campanhas do PSOL e Zuleide Queiroz colocam a defesa da vida das mulheres como um tema central em nosso programa político, em cada porta as histórias de opressões contadas semeiam a luta feminista.

Colocar a vida acima dos lucros tem sido o papel central de nossa campanha. Para isso, nossas vozes denunciam a redução do auxílio emergencial e política de morte de negação do isolamento social por parte do governo Bolsonaro. Esse enfrentamento se repete com as duas candidaturas no município alinhadas com as ideias do presidente genocida Arthur de Zé Adega (PSL) e Aloisio Brasil (PROS). A campanha de Zuleide Queiroz e o PSOL mostram que o caminho para derrotar o fascismo é a luta organizada dos trabalhadores, negros, mulheres e LGBT.   

Além da candidatura majoritária, os candidatos a vereadores, o Coletivo Sementes com cinco mulheres negras – Ivaneide Severo, Luana Ricarto, Veronica Isidoro, Lorena Jessica e Valeria Carvalho – representam a luta das mulheres trabalhadoras e negras, pautando um projeto de cidade que seja antirracista, antimachista e antilgbtfóbica e em favor das trabalhadoras.

E também Expedito Guedes, agricultor, de 70 anos de idade, numa história de luta em defesa da terra, apresenta um projeto de agricultura familiar e de um Crato ecossocialista.  

Com Zuleide Queiroz, com o Coletivo Sementes e Expedito Guedes e a militância do PSOL e dos movimentos sociais os trabalhadores do Crato passaram a acreditar que outro futuro é possível. A pesquisa realizada pelo IBOPE indica Zuleide com 11%, podendo chegar a 15% pela margem de erro de 4% para mais ou menos. Um empate técnico com os candidatos adeptos do bolsonarismo – Arthur de Zé Adega (16%) e Aloisio Brasil (17%) – em terceiro e segundo lugar respectivamente, a pesquisa indica Zé Ailton, do PT, liderando com 44%. 

Esse é um resultado expressivo para esquerda revolucionária que apresentando um programa radical em uma situação marcada pelo avanço da extrema direita e no meio de uma pandemia que dificulta a adesão militante para a campanha conquista um crescimento expressivo do PSOL no Ceará e em particular na cidade do Crato. O PSOL chega a reta final dessa campanha muito maior, mas próximo dos trabalhadores, negros e negras, mulheres e LGBT que declaram cotidianamente seu apoio a nossa candidatura. E podemos ser ainda maiores depois dia 15, com a afirmação da luta anticapitalista, antirracista, anti-machista elegendo pela primeira vez uma mulher negra e trabalhadora para o executivo da cidade, assim como vereadoras e vereadores de luta. As trabalhadoras do Crato poderão fazer do voto no PSOL um grito de “Fora Bolsonaro”, e afirmando que os debaixo podem construir outro futuro através da luta contra a exploração e a opressão. 

O PSOL afirma que um mundo socialista é possível e a luta por colocar as vozes das trabalhadoras no poder não se encerra no dia 15 de novembro, permanece no esforço de organizar as comunidades, os trabalhadores negros, as mulheres, os e as LGBT das comunidades. O PSOL continuará nos território de Ponta da Serra; Palmeirinha; Baixa do Maracujá; Quebra do Coco; Vila Alta; Pantanal; Caixa D’água; Vila Novo Horizonte; 10 De Abril; Batateira; São Miguel; Baixio Verde; Bela Vista; Malhada; Vila Padre Cícero; Chico Gomes; Juá; Barro Branco; Pinto Madeira; Baixio das Palmeiras, Oitís; Mulatos, dentre tantos outros. Por todo o Crato plantamos a resistência contra o fascismo e construiremos um mundo socialista. A virada começa domingo, esperançar é o verbo de nossa campanha. Esperança de que todo o poder seja dos explorados e dos oprimidos.

 

NOTAS

1 –  Segundo o site Miséria, Zé Ailton Brasil (PT), candidato a reeleição, tem sua campanha orçada em R$ 388.428,70 e Aloisio Brasil (PROS), com R$ 93.529,26. 

 

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