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BRASIL

Jorgetânia Ferreira: Uberlândia merece outra política. Vem ser semente com a gente!

Jorgetânia Ferreira

Por que sou pré-candidata a vereadora?

Segura que lá vem textão! Lá vem mulher! Quer saber quem eu sou? Aqui vou contar um pouco da minha trajetória e das minhas lutas. 

Eu sou Jorgetânia, sou mulher, mãe, professora de História na Universidade Federal de Uberlândia, onde me formei. Tenho 46 anos e uma vida coletiva intensa. Sou uma professora de muitas lutas.

Sou natural de Monte Alegre, filha da Terezinha e de José Arantes, uma das sete filhas e filhos. Minha família, por si só, já é um grande coletivo e, como sou a segunda filha, sempre precisei assumir tarefas, desde pequena, especialmente como cuidadora das irmãs e dos irmãos.

Além do trabalho doméstico em casa, também era comum – desde a infância, o trabalho na casa de outras pessoas, seja em troca de comida e de roupas ou por alguns trocados. Também trabalhei no Hotel Avenida, em Monte Alegre, como sacoleira, nas lavouras de abacaxi e de café, em fábrica de farinha e polvilho e até como costureira.

Desde pequena, entendia as injustiças e a pobreza como inaceitáveis e fui me tornando revoltada. Na adolescência, comecei a participar da Juventude Franciscana montealegrense, o que me deu a oportunidade de me articular com outras pessoas e de transformar essa revolta em indignação. Ah, ali eu encontrei minha turma! E foi nessa turma – que se vinculava à Pastoral da Juventude da Regional Uberlândia, que me engajei para as lutas sociais. Ainda usava as roupas da Igreja da minha mãe, que era evangélica, mas com um coração que batia forte com os ensinamentos e as vivências da teologia da libertação. Essa foi uma experiência forte e aprendi o verdadeiro sentido das lutas por uma sociedade realmente justa e fraterna. Fiz amizades sólidas, irmãos e irmãs de sonhos e de lutas e essa é uma das minhas turmas até hoje.

O ingresso neste grupo de jovens salvou minha vida. Senti-me parte de um coletivo, esperançoso por mudança e cuidadoso com as pessoas. Jovens que cuidavam de seus pais e mães, jovens que acreditavam em um mundo novo de justiças.

E assim fui me construindo. Quando completei o ensino médio meu pai estava gravemente doente. Ele era trabalhador, boia-fria, e, quando adoeceu, perdeu a renda. Minha família estava sem renda fixa e eu sentia vontade de ajudar. Assim, vim para Uberlândia trabalhar em uma empresa dentro das Lojas Americanas, a Facilita, uma empresa que vendia dinheiro a juros altos para o povo trabalhador. Lá, o meu trabalho era fazer propaganda no som interno da loja e entregar panfletos nas ruas e, com isso, passei a ter um salário que alimentava minha família. Conseguir alimentar minha família era um grande projeto. Todos os sábados, 30 minutos depois do fim do expediente eu estava no ônibus rumo a Monte Alegre, voltando para casa, voltando para minha família. 

Eu sou migrante e, um dia, chega a hora da migrante fixar. Fui fixando aqui em Uberlândia. Logo veio namoro, outros trabalhos, lutas políticas, faculdade, casamento e maternidade, mas aquelas turmas da Pastoral da Juventude, da Pastoral da Terra continuavam comigo. Era o ano do Fora Collor e, da porta das Lojas Americanas, eu acompanhei as passeatas, ali naquela praça, que rebatizamos de Ismene Mendes em 2017. Pertenço a um grupo de mulheres de luta que não aceitam mais que o nome de um assassino que matou sua esposa grávida merecesse tal homenagem. Rebatizamos e agora a nossa querida praça central tem o nome de uma lutadora que muito nos orgulha, Ismene Mendes. 

Na Universidade, era também ano de lutas pela posse de Nestor Barbosa: reitor eleito, reitor empossado – bem que Collor, então presidente, antes de sofrer impeachment, tentou impedir a posse de nosso reitor eleito. Que tempo bom com lutas importantes! Vencemos naquele momento, mas essas lutas continuam na ordem do dia porque Bolsonaro não tem respeitado nada, muito menos a autonomia universitária.

Quando estava ainda no grupo de jovens em Monte Alegre, o Frei da Paróquia conseguiu recursos da Itália para ajudar jovens pobres a ingressarem na universidade. Ele escolheu jovens de nosso grupo e eu fiquei bastante animada, mas somente os homens foram escolhidos. Para eles, foi alugada uma casa no centro de Uberlândia, na Rua Olegário Maciel, bem perto da Ismene Mendes. Tinham casa, comida e mensalidade em escola particular. Naqueles tempos ninguém questionou o motivo de serem apenas homens. A experiência deles me fez pensar que se eles, pobres como eu, podiam estudar, eu também poderia. Não me passou pela cabeça questionar o padre, certamente não iria adiantar, só pensei que eu também faria um curso de graduação na UFU. Com meu salário, pagava minhas despesas, comprava comida para minha família e comecei a fazer cursinho noturno. Assim, ingressei no curso de História na UFU. 

Ingressei na Universidade em 1993, junto com o reitor Nestor Barbosa. Novamente, senti que estava no meu lugar. Estava em contato com um conhecimento que tratava da capacidade humana de mudar os rumos da sociedade, vi tudo se conectando e fazendo muito sentido para mim. Logo fui escolhida pela professora Coraly para participar de um projeto de pesquisa sobre a História de Trabalhadores e Trabalhadoras e fui estudar as domésticas. Isso tudo há mais de 25 anos!

Nestes tempos namorei, morei em repúblicas, estudei, participei do movimento estudantil e de suas lutas, fui coordenadora do Centro Acadêmico de História, me casei e me tornei mãe aos 22 anos. Tudo muito intenso.

Fui até trabalhadora concursada do município no departamento de vigilância epidemiológica, mas pedi exoneração para ser professora e fazer mestrado.

Assim comecei mais uma jornada, fui professora substituta na Faculdade de Educação da UFU entre 1998 e 2000. Trabalhei na campanha para eleição do Professor Arquimedes e do Professor Antônio de Almeida para a reitoria. Foram tempos muito bons!

Simultaneamente, ingressei em mais uma luta com a aquele mesmo pessoal da pastoral da juventude – que já não era mais tão jovem. Dessa vez, nos articulamos e criamos o Pré-Vestibular Alternativo, que, depois, se transformou no Cursinho Paulo Freire. Foi uma luta muito importante e que participei por quase dez anos e visava a inclusão de pessoas de baixa renda, negros e negras, pessoas com deficiência, juventude e idosas na universidade. 

Minha irmã Meire estudou no cursinho Paulo Freire e depois fez faculdade de Odontologia na UFU, também Kelynha, Mavi, Crisley e tantos/as outros/as. Fui a primeira pessoa da família materna a ingressar numa universidade e vieram comigo minha tia Divânia, meu tio Francisco, minhas irmãs e irmãos e tantos/as outros/as. Acredito, como nos ensinou o mestre Paulo Freire, na obra Pedagogia da Indignação e Outros Escritos, que “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Minha vida foi transformada pela educação e eu a transformei na inserção em projetos coletivos e no ingresso na universidade. Por isso, parte importante da minha luta é em defesa de uma educação de qualidade, democrática e laica para todas as pessoas.

Fui professora em várias universidades particulares Unitri, Unipac, Faculdade Católica, também, na UFG, campus Catalão – hoje UFCAT e na Ulbra em Itumbiara. Eu sonhava em estar na universidade pública como professora efetiva, e trilhando esse caminho, fiz mestrado e doutorado na PUC São Paulo. Eu era jovem mãe e, quando comecei o mestrado, minha filha tinha 9 meses. Desmame forçado, muitas dores e muitas alegrias de aprendizado. Fiz doutorado viajando grávida do segundo filho, passando várias noites fora de casa. Foi muito intenso, mas era o possível e o necessário naqueles tempos. 

Desse modo, entrei na UFU em 2007. Foi uma grande conquista ser aprovada em um concurso na universidade pública que estudei e assumi minha vaga no campus Pontal, sendo a quarta professora do Curso de História do Pontal. Integrei à universidade, bem no comecinho do campus, quando muitos sonhos estavam sendo construídos. Antes disso, participei da movimentação pela expansão da universidade, como assessora do ex-deputado Gilmar Machado, do PT, cargo que ocupei de 2003 a 2007. Anteriormente, militei durante muitos anos no Partido dos Trabalhadores, partilhando muitos projetos de mudança social. Em 2009, fiz outro concurso e fui chamada para o Curso de História em Uberlândia. 

Como professora da UFU, tenho desenvolvido o ensino, a extensão e a pesquisa com focos na inclusão, na crença de que todas as pessoas podem aprender e na superação de toda forma de opressão e desigualdade. Foco em uma educação para a diversidade, por uma educação não capacitista, não idadista, não lgbtfóbica, não racista, não machista. 

Fui coordenadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, PIBID, e fiz parte de comissões de interesses coletivos como a comissão para regulamentação da promoção e da progressão na carreira na UFU, na qual defendemos, com firmeza, a não punição a docentes por critérios criados após o percurso acadêmico, integrei também a comissão de discussão do ponto eletrônico, o qual posicionou-se contrário à implementação em função da desnecessidade desse mecanismo e pela natureza do trabalho na universidade e atuamos na comissão de acompanhamento da ocupação do Glória, Assentamento Élisson Prieto, atuando com punhos firmes por uma saída negociada.

Em 2009, ainda no campus do Pontal, integrei a chapa “Democracia pela Base” para a direção da ADUFU, Seção Sindical dos/as Docentes da UFU. Desde então, tenho participado intensamente do nosso sindicato e, inclusive, tive a honra de tê-lo presidido entre 2013 e 2017, nas gestões “Democracia do princípio ao fim” e “Fortalecer as lutas”. Durante esses anos, as lutas sociais se fortaleceram para tentar impedir a avalanche do processo de retirada de direitos e nosso sindicato teve um papel importante na articulação da resistência no município e uma atuação nacional no ANDES, Sindicato Nacional. Nesse contexto, articulamos amplas frentes, a princípio em defesa da democracia e contra o impeachment/golpe da presidenta Dilma Rousseff e, posteriormente, contra as reformas de Temer. Foram anos muito importantes de lutas. 

Junto ao Sindicato dos/as Técnicos/as da UFU, SINTET-UFU, a ADUFU protagonizou atos na greve de 2016 contra a PEC do Fim do Mundo (PEC 241), em 2017, contra a reforma trabalhista e reforma da previdência. Formamos um povo sem medo de lutar que, com muito diálogo, produziu muitos atos unitários, como a articulação das mulheres em 8 de março históricos, com destaque para o de 2017, ano do rebastimo da Praça Ismene Mendes como contei anteriormente. 

À frente da ADUFU destaco ainda o trabalho coletivo que permitiu a construção de uma nova sede, a realização de eventos importantes como o debate com Leonardo Boff e a inauguração da sede com show do Chico César. Teve muito debate, muita assembleia, muita reunião da direção colegiada, muito boteco na ADUFU e muita música! 

Mesmo depois das gestões que fui presidenta, continuei atuando em nosso sindicato, por meio da direção colegiada, de grupos de trabalho e de comissões, como a de Comemoração dos 40 anos da ADUFU, ocasião em que realizamos várias atividades políticas e culturais, ressaltando o Show com a Mart’nália na UFU.

Já em 2017, me filiei ao PSOL por ter encontrado em sua militância e na luta cotidiana, uma sintonia nos enfrentamentos aos governos. E, em 2018, topei o desafio de ser candidata a deputada federal pelas Muitas/PSOL, uma movimentação que elegeu duas mulheres negras ao parlamento: Áurea Carolina, deputada federal (de quem sou a primeira suplente), e Andréia de Jesus, deputada estadual. Obtive 10.754 votos e tenho orgulho de dizer que nosso trabalho contribuiu para maior representatividade e combatividade no parlamento brasileiro. 

Defino-me como uma pessoa inconformada com a injustiça e com a desigualdade. Acredito que o modelo de sociedade que vivemos é injusto e desigual e uma dessas desigualdades que me marcam muito é a de gênero. Vivemos em uma sociedade que ama os homens, que privilegia os homens e nos maltrata, violenta e mata, pelo simples fato de sermos mulheres. A luta pelos direitos das mulheres é um tema que atravessa toda a minha inserção na militância, por isso não sei quando exatamente encontrei o feminismo. Desenvolvi projetos voltados para a formação política e profissional de mulheres e articulei esses projetos com meus estudos. Assim, juntei-me à luta das trabalhadoras domésticas por direitos já garantidos a outras categorias, à luta pela aposentadoria das donas de casa, à luta das mulheres da periferia, às lutas das creches comunitárias, às lutas pela educação não sexista, não racista, não lgbtfóbica, não capacitista, não idadista, à luta do povo por terra, por teto, articulada pela Pastoral da Terra, JOC, Pastoral da Educação. 

Hoje, anos depois, continuo inconformada. Eu queria que não tivesse tanta injustiça para não precisar de tanta luta. A luta é importante e necessária, mas a luta intensa e permanente é muito árdua e impõe muitos sacrifícios. Não me arrependo, mas queria ter tido mais tempo para minha família, para minha filha e meu filho e para a vida pessoal. O modelo de sociedade que eu defendo é para que a gente tenha direito ao trabalho, à terra, à saúde, à alimentação saudável, à moradia, ao amor, à cultura e às artes, ao descanso, à convivência familiar e com todas as pessoas que amamos. Ainda quero ter tempo para estudar mais, para ler sem compromisso, para viajar, para estar com família e amores. 

Entretanto, nesses tempos tão difíceis e sombrios, as lideranças que se construíram nas lutas são chamadas a se colocarem à disposição dessas causas urgentes mais uma vez. É por entender que mudar é urgente e necessário que coloco meu corpo, minha história, minha vida à disposição da coletividade para ocupar uma vaga no legislativo municipal. Sou pré-candidata a vereadora pelo coletivo Somos Sementes, que apresenta candidatura à Prefeitura de Uberlândia e à Câmara Municipal.

Por tudo isso sou pré-candidata a vereadora na construção coletiva. “Somos Sementes”, com Wallace e Liliane para a prefeitura e com valorosas/os companheiras/os de lutas rumo ao legislativo municipal.

Vamos com compromisso de construir um mandato que tenha como eixo central o fortalecimento das lutas, o apoio aos movimentos sociais e populares, a luta contra as desigualdades e contra as opressões. Será um mandato democrático, horizontal, feminista, antirracista, pelos direitos das pessoas com deficiência, pelos direitos das pessoas LGBTQIA+. Será um mandato anticapitalista, por entendermos que não há saída dentro desse sistema que impõe que a mãe Mirtes cuide do cachorro de Sari, enquanto seu filho Miguel é abandonado pra morrer. Esse sistema produz e mata de frio os sem teto quando há tantos imóveis disponíveis prontos para serem habitados. Esse sistema destrói a natureza e ameaça a nossa existência, produz individualismo, competividade e adoecimento. Esse sistema, mesmo durante a mais grave crise sanitária que a humanidade já vivenciou, estabelece o lucro e não as vidas como prioritárias. Não há saída no sistema capitalista. 

Defendemos o ecossocialismo, a agroecologia, tanto nas ações do campo quanto da cidade. Temos o compromisso de defesa das pautas das mulheres e do movimento feminista. Construiremos junto aos educadores, projetos de valorização profissional e defesa da educação pública, gratuita, laica, democrática, referenciada nas necessidades da população trabalhadora. Priorizaremos a defesa dos serviços públicos e das políticas públicas. Outra ética precisa imperar e os cuidados precisam estar no centro. 

Compreendemos que um mandato não muda o sistema capitalista. Seremos parte de uma luta maior por igualdade de oportunidades e contra toda forma de opressão. Participamos de uma luta coletiva. Somos sementes de novos tempos. Semente de coletividade, de unidade nas lutas. 

Uberlândia merece outra política. Vem ser semente com a gente!

 

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