A divulgação da última pesquisa do Datafolha sobre a avaliação de popularidade do governo Bolsonaro causou surpresa em alguns setores e abre novamente uma importante discussão entre aqueles ativistas, militantes e organizações que lutam cotidianamente pelo fim deste governo hegemonizado por um projeto de extrema direita neofascista.
Nosso país vive um terrível agravamento da pandemia, com mais de 3 milhões de infectados e 107 mil mortos, tragédia atinge majoritariamente os negros e negras e os mais pobres.
Diante desta grave realidade, chama a atenção o relativo crescimento da popularidade do atual presidente, que indica que, pelo menos até o momento, ele vem conseguindo se safar de ser considerado – por grande parte da população – como o evidente responsável principal pelo caos instalado em nosso país.
Apesar de ser uma medida temporária, parcial e insuficiente, sem dúvida a abrangência do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600,00 (R$ 1.200,00 para as mães que chefiam famílias), atingindo mais de 60 milhões de brasileiros, se transformou em uma das causas principais para esta resiliência da popularidade de Bolsonaro. Lembrando, inclusive, que o valor do auxílio tenha sido definido pelo Congresso Nacional, afinal o governo propôs apenas R$ 200,00.
Entretanto, esta não é a única causa. A situação política brasileira é muito complexa, principalmente a partir da derrota do golpe parlamentar de 2016. Portanto, sua compreensão exige a análise atenta de múltiplos fatores, que se relacionam de forma desigual e combinada. Inclusive, nas últimas semanas existem elementos que apontam para uma mudança do cenário conjuntural, relativamente mais favorável a manutenção do atual governo.
O recuo tático e momentâneo de Bolsonaro na aplicação da escalada autoritária de fechamento do regime político e ataques permanentes às liberdades democráticas, também contribuiu para uma relativa estabilidade da atual conjuntura. É evidente que Bolsonaro não abandonou sua estratégia golpista. Na verdade, foi forçado a dar um passo atrás, pela ampla rejeição que gerou suas ações e declarações que ameaçaram seriamente às mínimas liberdades democráticas.
Por outro lado, contribui decisivamente para esta conjuntura o fato que os partidos da direita tradicional, como DEM, MDB e PSDB atuaram de fato pela manutenção do governo. Com destaque para o papel reacionário Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, que se negou sequer a cogitar a abertura de qualquer um dos mais de 40 pedidos de Impeachment de Bolsonaro.
A postura dos partidos da direita tradicional e da maioria do judiciário reflete um fato importante para entender a atual conjuntura: a maioria dos grandes empresários defendeu a permanência de Bolsonaro, e aturam principalmente no apoio da agenda econômica ultra neoliberal de retirada de direitos do povo trabalhador e privatizações; no máximo, fazendo críticas moderadas contra a escalada autoritária desferida pelo atual presidente e pelos setores bolsonaristas.
Mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF), que chegou a tomar medidas de combate as ações golpistas do bolsonarismo, nunca chegou a questionar seriamente o atual governo, apesar de todos os crimes responsabilidade e ataques ao próprio judiciário desferidos por Bolsonaro.
Portanto, a chamada direita tradicional nunca esteve de fato a favor de derrubar Bolsonaro, seja por Impeachment ou cassação da chapa. Apostaram sempre na manutenção de Bolsonaro para, principalmente, manter e aprofundar a sua agenda econômica. E, para isso, atuaram para enquadrar o atual presidente nos limites do atual regime político. E, ao que parece, pelo menos momentaneamente, conseguiram impor limites a Bolsonaro, e seguem atuando para a aprofundar a aplicação da agenda de ataques e reformas neoliberais.
Inclusive, as críticas atuais do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a necessidade de manter o teto de gastos e a agendas de reformas reacionárias, demonstra mais uma vez sua conexão com os interesses das grandes empresas e bancos. Os ricos e poderosos apostam no atual governo, na medida que ele siga comprometido e aplicando a agenda ultra liberal.
O acordão entre o governo e o Centrão é o exemplo mais concreto sobre a mudança da linha atual de Bolsonaro, abandonando a defesa de uma saída golpista de forma imediata, apostando prioritariamente nas “negociatas” com os setores mais reacionários e corruptos do Congresso Nacional, tanto para viabilizar a sua permanência na presidência como tentando viabilizar sua reeleição em 2022.
Chama a atenção também os erros de setores da esquerda, especialmente do PCdoB e setores da direção do PT, que apostaram e apostam numa aliança política com os setores da velha direita para enfrentar Bolsonaro, apresentada como o nome de frente ampla.
A evolução dos acontecimentos nos últimos meses confirmou que este acordo com os ditos setores liberais não se demonstrou vantajoso para os que querem realmente derrubar Bolsonaro. A estratégia da frente ampla, a nova versão da política de conciliação de classes, se revela como uma armadilha para a esquerda e os movimentos sociais. A unidade democrática correta é pelo #ForaBolsonaro ou, no mínimo, pela abertura imediata do processo Impeachment.
Sobre as tarefas da esquerda
Devemos evitar duas posturas erradas na esquerda: a primeira que transfere a luta pelo #ForaBolsonaro para as eleições de 2022; e a segunda, que defende que a derrubada deste governo neofascista seja uma tarefa de fácil concretização.
Não há atalhos possíveis. A luta para derrubar o governo Bolsonaro passa centralmente pela mudança na correlação de forças entre as classes sociais no Brasil, colocando os movimentos sociais novamente na ofensiva, promovendo ações massivas por suas reivindicações políticas e econômicas. De fato, não vivemos hoje uma situação de ofensiva das lutas dos trabalhadores, da juventude e dos oprimidos.
Portanto, nosso objetivo mais importante mudar esta situação desfavorável. Um importante espaço para acumularmos no sentido desta mudança é campanha nacional pelo #ForaBolsonaro, construída a partir das Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, a maioria das Centrais Sindicais, partidos de esquerda, além de importantes movimentos sociais brasileiros. É fundamental construir, fortalecer e enraizar essa campanha nacional, montar seus comitês e desenvolver seu calendário de atividades pelo #ForaBolsonaro, especialmente as manifestações do Grito dos Excluídos, no dia 7 de setembro. Neste dia, inclusive, acontecerão atividades simultâneas em outros países.
Além da centralidade desta campanha #ForaBolsonaro, nossa tarefa passa por apoiar as lutas, manifestações e greves que estão ocorrendo, na maioria dos casos para defender medidas de preservação de vidas na pandemia e os direitos sociais da classe trabalhadora. As vitórias destas lutas, mesmo que parciais, como no caso dos Metroviários de SP e dos Metalúrgicos da Renault do Paraná, são muito importantes para acumular forças e mostrar o caminho necessário para o fortalecimento dos nossos objetivos.
Inclusive, umas das tarefas mais importantes do momento é o apoio ativo do conjunto dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda a greve nacional dos Trabalhadores dos Correios, iniciada nesta segunda-feira, movimento contra a privatização da empresa e defende seus direitos trabalhistas.
E, por último, mas não menos importante, precisamos entender às eleições municipais de 15 de novembro como mais uma oportunidade, muito importante, para disputar a consciência do povo trabalhador e fazer o balanço de Bolsonaro, demonstrando que para salvar vidas, direitos sociais e às liberdades democráticas esse governo precisa acabar o quanto antes.
#ForaBolsonaro
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