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BRASIL

A popularidade do genocida em plena pandemia

Pedro Augusto, de Santo André, SP
Alan Santos/PR

Bolsonaro e o governador do Pará, Helder Barbalho, em solenidade.

Racismo estrutural e décadas de mito da democracia racial formaram um país tolerante à morte de vidas negras em larga escala. Isso explica parte da resiliência de Bolsonaro pós-pandemia registrada na pesquisa da Datafolha, e até mesmo a sua própria eleição.

A Folha de S. Paulo comemorou em editorial que o genocida “modulou o tom”, pois isso ajuda a manter a farsa histórica caprichosamente montada.

A burguesia brasileira e as suas representações políticas bancaram a eleição de um neofascista contra o PT, porque consideraram o projeto ultraliberal do Guedes tão “sem defeitos” que valia a pena. Temeram o Bozo mais pelo risco que a instabilidade política oferecia às reformas do que propriamente pelo seu racismo, misoginia ou LGBTQIfobia.

Uma política genocida feita em fogo brando, com aparência de “normalidade”, de “perdas inevitáveis pelo progresso”, “porque o Brasil não pode parar”, sempre fez parte do cardápio de tolerância da elite no Brasil, vide a própria ditadura empresarial-militar chamada de “ditabranda” pela mesma Folha, anos atrás.

É aí que entra em cena o papel “normalizador” do mito da democracia racial, que despolitiza e desracializa a desigualdade, atenuando os efeitos do negacionismo de Bolsonaro justamente entre os mais atingidos pela crise sanitária e econômica, pois encontra-se com o senso comum.

A necessidade emergencial pós-pandemia encontrou a renda básica emergencial que Bolsonaro inicialmente tentou sabotar, mas que soube se relocalizar para tornar-se o pai da criança. De quebra, Bolsonaro encontrou um “caminho” para a reeleição admitindo a flexibilização do teto de gastos, mas entregando a Guedes carta branca para desmontar o Estado de outras maneiras.

O jogo está sendo jogado, e o Coronavírus provou que fazer previsões de médio ou longo-prazo pode ser muito perigoso em um mundo tão instável e interconectado. Mas isso não pode nos impedir de utilizar as ferramentas que permitem compreender de forma mais profunda o funcionamento da sociedade brasileira, com todas as suas contradições. A mesma que elegeu Bolsonaro na eleição mais anti-democrática desde a redemocratização, em base ao anti-petismo e ao lavajatismo criado e estimulado pela grande mídia e pelas principais representações da burguesia do país.

A luta antirracista para que as vidas negras de fato importem, se levada às últimas consequências, vai se chocar frontalmente com a “normalidade” que faz crescer a popularidade de um genocida no Brasil, em plena pandemia.

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Governo Bolsonaro