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BRASIL

Pessoas como Pedro nunca morrem!

Cleber Melo da Silva, de Porto Alegre, RS
Reprodução / Arquivo pessoal

Na manhã deste sábado, a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria e a Ordem de Santo Agostinho comunicaram ao mundo a partida de Dom Pedro Casaldáliga. As complicações respiratórias decorrentes da doença de Parkinson levaram à imortalidade de Pedro. 

Pessoas como Pedro nunca morrem. Seu testemunho de fé e de luta criaram raízes profundas no solo do Brasil. Brasileiro nato assim que chegou ao país aos 40 anos de idade – seu nascimento na Catalunha fora apenas mais umas das peças pregadas pela vida – dedicou a vida a causa dos excluídos. Foi dele a primeira denúncia de trabalho escravo no Brasil que ganhou visibilidade internacional em plena ditadura militar, nos anos de chumbo da década de 70. A defesa da floresta, dos povos indígenas, da justiça social e dos direitos humanos foram a causa de uma vida. Através dela o verbo da luta se fez carne em conquistas. Pedro Casaldáliga enfrentou a ditadura, a violência de grileiros, madeireiros, latifundiários e grandes produtores rurais, por isso, passou parte da vida marcado para morrer.

Mas pessoas como Pedro nunca morrem. Não morrem porque, como disse o Frei Xavier Plassat: “Ele conseguiu, pela denúncia intrépida e pelo testemunho arriscado, pela profecia inconveniente, pela poesia cortante, pela mística e pela espiritualidade que encarnava, contagiar a muitos e muitas”. 

Casaldáliga não titubeava em criticar o capitalismo, o chamando de pecado capital, denunciando as mazelas sociais consequentes do perverso sistema econômico vigente. Ao criticar o capitalismo, sempre lembrava a passagem de Jesus de Nazaré, dizendo que não podíamos servir a dois senhores, afirmando “o outro senhor é o capital”

Também, não menos importante, denunciou por vezes a imoralidade da dívida externa: “Não é só imoral cobrar a dívida externa, também é imoral pagá-la, porque, fatalmente, significará endividar progressivamente os nossos povos”. A luta contra o sistema era a luta da vida contra a morte.

E pessoas como Pedro nunca morrem. Assim como o outro Pedro, apóstolo, Casaldáliga virou pedra. Pedra fundante para todos aqueles que lutam por justiça, igualdade e humanidade. O Bispo de São Félix do Araguaia nos ensinou da importância de sermos firmes na nossa luta e humanos com nossos pares. Em uma parte da sua vasta produção literária escreveu a seguinte estrofe: “Trazemos no corpo/ o mel do suor/ trazemos nos olhos/ a dança da vida/ a morte vencida”. 

Hoje, Pedro venceu a morte. Pois pessoas como Pedro nunca morrem.