Hoje é um dia triste. Acabo de saber, através da postagem do Chico Alencar, de D. Pedro Casaldáliga, o “Frei dos despossuídos”, um cristão que passei a admirar (mesmo sendo ateu) lá no início dos anos 1990 quando estava na graduação de História, na Universidade Federal Fluminense.
Sua fé inquebrantável nos humildes, nos camponeses e nos indígenas em sua luta por justiça social e direitos era o que mais admirava. Quando esteve à frente da CPT (Comissão Pastoral da Terra) era impressionante os dados que sempre trazia do grande número de assassinatos no campo, sobretudo do Sul do Pará. Lembro de ter feito um trabalho para um curso sobre História Agrária, com bases nesses dados terríveis que vem lá do final da Guerrilha do Araguaia e que continuam vitimando lideranças populares que lutam contra o latifúndio, a grilagem de terras e agora, cada vez mais o garimpo ilegal. A pastora Dorothy Stang foi mais um dos casos, que mais ganhou repercussão, em 2005 quando foi assassinada com seis tiros numa emboscada.
Quando fui à Brasília (pela primeira vez em 1997) para a marcha de 1 ano do Massacre de Eldorado dos Carajás, pude ver de perto D. Pedro Casaldáliga. Ele estava ali. Estava muito chocado e emotivo por ver as viúvas e outros familiares das 21 vítimas desse genocídio que, estavam, numa tenda improvisada. Fazia um enorme calor. E quando vi aquele ser franzino mas com uma intensa altivez, as lágrimas me correram e, logo ele veio e disse “o que há jovem, está tudo bem?” e sem falar mais nada me deu um forte abraço. Me deixou paralisado. Agradeci muito e disse em voz alta “vocês são os verdadeiros heróis desse pais”. E olhando para ele disse “Você, d. Pedro é uma referência para mim e para muitos. Obrigado”. E nos despedimos. Não havia celular para registrar. Não importa, guardo essa cena na memória. Descanse em paz D. Pedro Casaldáliga. Ao lado de D. Paulo Evaristo Arns você inspira os melhores sonhos de consciência de luta, coragem e coerência de vida. Descanse em Paz.
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