Dos dias 03 a 05 de agosto, teremos um processo eleitoral muito diferente na UFSCar. Nossa comunidade votará para a Reitoria em meio a uma pandemia, com os debates e a campanha eleitoral passando sobretudo pelas redes sociais. Esse cenário, por si só, já dificulta um debate amplo e democrático sobre uma mudança tão importante, que define a política de nossa Universidade para os próximos quatro anos.
Mas, ainda maiores são os desafios políticos de se fazer uma eleição para Reitoria em um momento que o Governo Bolsonaro interrompe processos democráticos e coloca interventores em Federais, como ocorreu com a UFC, retomando uma prática da ditadura militar que desconfigura a democracia desses processos. Como se não bastasse a extrema-direita na presidência, dentre as 3 chapas que disputam esse processo, duas delas, em nossa opinião, são muito próximas do projeto político de Bolsonaro. Temos diferenças com o programa apresentado pela Chapa 2, Juntos Pela UFSCar, mas em nossa opinião é uma tarefa de toda a comunidade da UFSCar lutar para eleger e empossar a Chapa 2 e vencer a extrema-direita em nossa Universidade.
A atual gestão da Reitoria, representada pela Chapa 3, teve um histórico de 4 anos de ataque aos direitos democráticos e estudantis da UFSCar. Passamos, pela mão dessa Reitoria, por ataques como: Aumento do Restaurante Universitário de R$1,80 para R$4,20, com uma longa luta do movimento estudantil, que ocupou a Reitoria e foi reprimido com uma reintegração de posse com processo judicial a 7 estudantes e criminal a mais duas; inserção da iniciativa privada na Rádio UFSCar através da FAI, diminuindo a grade de programas e colocando propagandas privadas na programação; cerceamento dos debates no Conselho Universitário, com a Reitoria impedindo ativamente encaminhamentos de deliberações, judicializando conselheiros que votavam com posições distintas da sua; entrada da Polícia Militar no Campus de São Carlos sem consulta à comunidade, que aborda violentamente e de forma racista pessoas que têm o direito de estar no espaço público do Campus; apoiar o Projeto Future-se sem nenhuma consulta à comunidade, indo inclusive na contramão da ampla maioria das Universidades que repudiaram esse projeto privatista; indiferença e inclusive conivência com casos de assédio internos à Universidade, como no polêmico Conselho Universitário de 2019 onde a Reitoria, após um empate na votação sobre a expulsão de um estudante que estuprou uma estudante de sua turma, utilizou do seu voto de minerva para favorecer o agressor. Todos esses fatos refletem uma vergonhosa história de uma Reitoria comprometida com a destruição do caráter público da Universidade, e indiferente às mazelas da comunidade estudantil.
Já a Chapa 1, que entra no processo se afirmando enquanto “apolítica”, tem representantes diretamente ligados aos militares. O principal deles, o candidato a reitor Fernando Araújo, já atuou em conjunto com o Gabinete de Segurança como membro de uma comissão técnica, prestou consultoria para os militares em relação a biodefesa durante a Copa de 2014, além de trabalhar como pesquisador colaborador da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Com esse histórico, o projeto de segurança deles apresenta uma proposta que aparenta servir como uma carta-branca para censura de pesquisas que podem ser consideradas problemáticas para o Exército. Como se não bastasse, o mesmo Fernando atuou ativamente junto com um agrupamento de estudantes de direita para boicotar a greve estudantil contra o Golpe e a Ponte Para o Futuro de Temer que o movimento estudantil da UFSCar articulou em 2016. Na ocasião, membros desse grupelho ameaçavam os estudantes em greve com bastões de beisebol e abriam prédios fechados pela greve, inclusive fazendo uso da coerção física.
Nesse contexto de outras duas chapas com um caráter reacionário, de ataque direto ao movimento estudantil, e à Universidade pública como um todo, a Chapa Juntos Pela UFSCar escreve com precisão em sua carta programa um compromisso com as instâncias democráticas da Universidade e com a permanência estudantil. Ao longo do texto, nos chama a atenção a defesa de políticas para retomar os espaços de lazer da população, enfrentando a atual política de esvaziamento e restrição dos campi, o posicionamento incisivo contra o Future-se, que “se constitui em um ataque direto à autonomia universitária e uma tentativa de eximir a obrigação do Estado de financiar as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES)”, a defesa da permanência estudantil e a proposta de políticas de foco às mulheres, às negras e negros e LGBTs.
Durante nosso estudo da carta programa da Chapa 2, percebemos algumas diferenças com suas pautas que gostaríamos de expressar em tom de diálogo, visando através dessa unidade fortalecer propostas que pesem pela defesa do caráter público da UFSCar. Da mesma forma que o Future-se representa um grave ataque às Universidades, a filosofia do empreendedorismo não fortalece um ambiente crítico e coletivo de produção científica. Acreditamos que o ambiente de pesquisa nas Universidades precisa ser pautado pela solidariedade, pelo ensino emancipatório, não pela competitividade destrutiva da “Universidade Operacional”, como diria Marilena Chauí. Da mesma forma, para que consigamos recuperar a democracia na UFSCar, é preciso fortalecer o diálogo com o Centro de Culturas Indígenas, a Comissão de Moradia, retomar a política de um Restaurante Universitário acessível e fazer da luta pela permanência estudantil um pilar do nosso projeto de Universidade.
Mesmo assim, a Chapa 2 não esconde suas críticas ao Governo Bolsonaro e à situação reacionária em que as classes dominantes enfiaram nosso País, como bem escrevem logo na abertura de sua carta programa: “ “[…]o momento atual é singular na história e nos coloca talvez os maiores desafios dessa nossa geração. As políticas que o atual governo tenta impor às universidades e a toda a educação brasileira representam ataques ao próprio cerne da nossa instituição, que é a produção e disseminação do conhecimento de excelência e socialmente comprometido. Dentre os elementos constituidores desse colapso anunciado, testemunhamos a desvalorização do conhecimento científico e das instituições que promovem a ciência e tecnologia no País, a desqualificação das ciências humanas e das pesquisas básicas, o desrespeito à autonomia nos processos decisórios institucionais e na própria produção de conhecimento, dentre outros.”
Não nos resta dúvidas de que nas eleições para a Reitoria da UFSCar, a Chapa 2, Juntos Pela UFSCar, representa a democracia real, por ser aquela que respeita nossas pautas e está aberta ao diálogo. Em defesa do caráter público da UFSCar, para vencer a extrema-direita em nossa Universidade e em defesa da história de lutas do nosso movimento estudantil, o Afronte São Carlos declara seu amplo apoio à Chapa 2.
Nos dias 03 a 05 de agosto, estaremos Juntos Pela UFSCar na construção de uma universidade mais inclusiva e mais democrática.
Se alguns poucos querem uma universidade elitizada, nós iremos juntos na derrubada dos muros e construção de uma UFSCAR pintada de povo!
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