Pular para o conteúdo
BRASIL

Eleições Reitoria UFSCar 2020-2024: Por que não vamos votar na chapa 03 

Vinícius Bachmann* e Joelson Gonçalves de Carvalho**

Lago da UFSCar ressecado

Estamos, uma vez mais, vivenciando um período de eleições para a reitoria da UFSCar e, antes que sejamos mal interpretados pelo título de nossa carta, temos a convicção de que a melhor escolha nesse pleito é a Chapa 02: Juntos pela UFSCar. Essa chapa na qual votaremos, indicaremos votos e lutaremos para que seja empossada renova nossas esperanças de que nossa Universidade volte a trilhar os caminhos da democracia e do verdadeiro respeito às diferenças.

Mas esse texto tem outro propósito: apresentar os motivos pelos quais acreditamos que a chapa 03 não mereça voto daqueles e daquelas que prezam a democracia e a transparência como valores e práticas.

Se faz essencial nesse período de eleições que busquemos na história recente como foram os últimos anos na UFSCar, notadamente para os que travaram lutas em defesa da Universidade Pública. Para aqueles e aquelas que, como nós, estiveram nos diversos espaços da UFSCar, lutando contra o autoritarismo e contra os ataques à autonomia universitária, ler a “carta programa” da Chapa 3 sem se manifestar é impossível.

Como enfrentar grandes mudanças, que atacam a Universidade Pública e a permanência estudantil? 

Nos anos recentes, a Universidade Pública de fato tem sofrido grandes mudanças. Em 2017, logo após o golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff do cargo, Michel Temer condenou o futuro do país com a promulgação da Emenda Constitucional 95, congelando por 20 anos os investimentos públicos, notadamente em educação e saúde. Desde então, a precarização das Universidades Públicas se acelerou e algumas universidades, valendo-se de “soluções criativas”, buscaram administrar os cortes do governo federal impondo elevados custos sociais à sua comunidade.

Na UFSCar, cabe lembrar que a atual gestão, em 2018 aprovou o plano anual orçamentário em fevereiro, em pleno período de férias, com uma universidade esvaziada de estudantes.

Foi dessa forma que a Reitoria iniciou seu plano de “ajuste”, a saber: cortes de orçamento e aumento de preços das refeições no Restaurante Universitário, além da redução drástica dos trabalhadores terceirizados nas áreas de segurança e limpeza.

No começo de 2019, mais uma vez a Reitoria abriu o ano com as reuniões orçamentárias em um período de férias, mas, desta vez com maior resistência do Movimento Estudantil. Com  as ameaças de corte de bolsas e aumento do RU, a pressão estudantil aliada à presença de  alguns conselheiros progressistas do ConsUni e outros Conselhos Superiores, fez com que  bolsas de permanência fossem preservadas, apesar do absurdo aumento de 133% no preço  das refeições no RU.

Enquanto outras universidades enfrentaram os cortes do governo federal, aqui o  enfrentamento “às grandes mudanças” foi de aceitação acrítica. A UFSCar ficou  nacionalmente conhecida como a universidade que apoiou o programa de ataque à  autonomia universitária intitulado Future-se.

Importante frisar: o pior ministro da educação que esse país já teve fez referência pública e  elogiosa a UFSCar como exemplo de universidade apoiadora desse projeto de desmonte.

Para piorar, além de o Future-se nunca ser debatido e muito menos deliberado no ConsUni, a comunidade recebeu uma nota da reitoria indicando que este projeto era uma “importante  alternativa para arrecadação de recursos”.

Transparência e Participação? 

Felizmente é possível comparar a promessa de transparência e participação expressa no texto escrito da “carta programa” com a “pedagógica do exemplo” do que têm sido esses quase quatro anos. Ilustra bem esse argumento o fato de que uma das promessas da  campanha anterior era de uma jornada de trabalho de 30 horas para os técnicos  administrativos, mas o que veio foi a proposta de implantação do ponto eletrônico para essa categoria, por meio de uma Portaria do Gabinete da Reitoria em setembro de 2019.

Um outro procedimento da atual gestão foi a alteração no rito democrático de condução do ConsUni, colocando a manifestação dos conselheiros para o final da pauta e impedindo a inserção de pontos de pauta pelos conselheiros no início da abertura dos trabalhos, trazendo prejuízos à participação dos conselheiros.

Outro ponto marcante se deu nas eleições de representação discente para os colegiados superiores entre 2017 e 2018. Tamanha foi a ingerência da atual gestão, inclusive por meio da judicialização do processo que, o Conselho máximo da UFSCar ficou sem representantes discentes por meses.

Não podemos nos esquecer de falar também sobre a transparência e a participação no ano de 2019, quando a presidência do conselho realizou suas sessões de portas fechadas, inclusive com a presença de seguranças, impedindo o acesso do corpo estudantil ao espaço.

Foi em uma dessas sessões o preço do RU foi aumentado novamente.

Colaborando com a “pedagogia do exemplo”, podemos lembrar da denúncia de ingerência da FAI na Rádio UFSCar que motivaram a renúncia da então Coordenadora da Rádio UFSCar em abril de 2017.

E como deixar de lembrar os embates entre a atual gestão e o doador da Fazenda Lagoa do Sino, o escritor Raduan Nassar, sobre a natureza e os objetivos daquele campus, ocupando, inclusive as páginas de um dos principais jornais de circulação nacional.

Diversidade e inclusão e apoio ao estudante? 

Não bastasse o aumento do Restaurante Universitário de R$1,80 para R$ 4,20, existem outros episódios emblemáticos sobre visão dessa gestão quanto à diversidade e inclusão e apoio a estudantes e aqui cabe fazer referência a um dos episódios mais vergonhosos dos 50 anos da UFSCar, quando a atual gestão dessa universidade se valeu da força policial para a desocupação da reitoria que estava ocupada por estudantes que reivindicavam que não fosse aumentado o valor das refeições no RU. Além da vergonha inédita do uso da força policial, a Reitoria abriu um processo judicial, contra sete dos estudantes que cometeram o “crime” de lutar por condições mínimas de permanência estudantil. Tal decisão foi tomada sem consulta ao ConsUni, que, quando consultado, se posicionou contrariamente a processar estudantes, solicitando que a ação fosse retirada, o que não foi feito.

Cabe lembrar que o tema da segurança interna é debatido há anos na UFSCar, com destaque para 2014, em que um projeto de segurança alternativo foi proposto e aprovado pela maioria da comunidade, com aumento das atividades noturnas, ocupando a universidade para a construção de uma segurança coletiva. À revelia desse debate, assistimos a maior presença da Polícia Militar no campus de São Carlos, sem, mais uma vez, a discussão coletiva e democrática para se afirmar que essa é a melhor forma para garantir a segurança da comunidade.

Vencer a extrema-direita nas eleições à Reitoria 

Essas eleições representam mais do que escolher quem dirigirá os caminhos da UFSCar nos próximos quatro anos. Está muito nítido que o ambiente interno espelha de forma inequívoca o cenário político nacional.

Aqueles que aceitaram os cortes impostos pela Emenda Constitucional 95 e que os administraram em desfavor da permanência estudantil; aqueles que elogiaram o ataque à autonomia universitária representado pelo Future-se; aqueles que se valeram de força policial e processos judiciais contra estudantes que lutavam por direitos não merecem nosso voto.

Esperamos que não mereçam o seu também. Assim, nesses dias 03 a 05 de agosto, convocamos toda a comunidade da UFSCar a retomar uma Universidade democrática e progressista, temos a grande tarefa de eleger e empossar a Chapa 2, Juntos Pela UFSCar!

Reitor eleito, reitor empossado! 

 

*Vinícius Bachmann é Militante do coletivo Afronte e estudante de Ciências Sociais na UFSCar

**Joelson Gonçalves de Carvalho é Professor associado do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Marcado como:
são carlos / ufscar