Pular para o conteúdo
Colunas

Policiais militares bolsonaristas são uma ameaça à democracia

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Bolsonaro quer dar um golpe e implantar uma ditadura, isto não é segredo para ninguém. Mas quem estaria disposto a dar a iniciativa de implantar a violência política, causar o caos e dar a cobertura militar ao fim da democracia? O risco de um golpe a curto prazo hoje é muito pequeno. Mas no médio prazo, o foco do golpismo pode ser as Polícias Militares (PMs). 

As Forças Armadas aparentemente estão coesas na defesa do governo, mas aparentemente não estão dispostas a entrar na aventura golpista. Além disso, o vice-presidente é o General Mourão, representante confiável dos militares, que passaria a ser presidente em caso de afastamento de Bolsonaro. Este é um bom motivo para o Exército, a Marinha e a Aeronáutica pensarem duas vezes antes de assumir um risco desnecessário. 

Grupos como os “300 do Brasil” são muito frágeis. A militante Sara Winter reuniu em seu acampamento poucas pessoas, em grande parte sem nenhum condicionamento físico nem treinamento. Os bolsonaristas que não trabalham nas polícias nem nas Forças Armadas podem causas alguns episódios de violência, mas não têm força sozinhos para gerar um caos no Brasil que justifique um golpe. 

No entanto, o problema são as PMs. O bolsonarismo tem uma base consolidada entre os policiais militares. Nesse meio, o governo com certeza ainda é majoritário. E existe uma ala da polícia com forte identificação com discurso violento e racista da família presidencial. 

Policiais bolsonaristas são um risco para os governadores

As Polícias Militares são controladas pelos governos estaduais, mas vemos indícios de policiais dispostos a quebrar a hierarquia da polícia em função da agenda ideológica da extrema-direita. O maior exemplo disto é o Ceará. Durante o motim em fevereiro, uma ala dos policiais aterrorizou a população e chegou a fazer um atentado contra o senador Cid Gomes. Tudo começou com reivindicações salariais, mas boa parte do movimento demonstrava lealdade a Bolsonaro. Inclusive houve influência direta de políticos bolsonaristas na organização do motim, que quase serviu de inspiração para policiais de outros estados

Não é coincidência o fato de que foi em Fortaleza, capital do Ceará, que o ato contra Bolsonaro em junho foi reprimido com mais violência. Em outros estados, militantes bolsonaristas entraram nos atos da oposição para causar confusão com vistas grossas da polícia, que só agiu depois das provocações. 

Em São Paulo, o governador João Dória teve que mudar o comando da Rota, ala da PM que com maior índice de letalidade. Um dos motivos apurados pela imprensa seria o fato do antigo comandante ser a favor dos cuidados para evitar a disseminação do Corona Vírus. A maioria da Rota seria contra estes cuidados e a favor do discurso bolsonarista, que vê a doença provocada pelo novo vírus como uma “gripezinha”. 

Em Brasília, um grupo bolsonarista pôde soltar fogos de artifício em direção ao Supremo Tribunal Federal com a vista grossa dos policiais. Depois do escândalo que isto causou, o governador Ibaneis Rocha exonerou o subcomandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal. 

No Rio de Janeiro, o vínculo da família presidencial com a banda podre da Polícia já é antigo. Flávio Bolsonaro está sendo investigado justamente por empregar parentes de ex-policiais ligados às milícias em seu gabinete. 

Isto mostra que, se Bolsonaro der o sinal verde, uma parte dos policiais militares pode se insurgir contra os governadores e causar o caos no país. Isto provavelmente é motivo da maioria governadores ser contra o impeachment. Eles estão com a faca no pescoço e com medo de motins de PMs em seus estados. 

Os governadores exercem muita influência sobre o “Centrão”, grupo deputados e senadores eleitos em grande parte por serem lideranças regionais. Por ser maioria no Congresso Nacional, é este grupo que tem o poder de decidir se o Presidente da República será afastado. Ou seja, a ala bolsonarista da Polícia Militar hoje é decisiva para segurar o atual presidente em seu cargo.

Banda podre da polícia é a milícia fascista do bolsonarismo

Além de defender de maneira oportunista as reivindicações salariais da categoria policial, o atual presidente tem o discurso de transformar todo agente de segurança pública em uma autoridade com o direito de matar impunemente. Este direito poderá ser usado das mais diversas formas, entre elas extorquir e aterrorizar a população. Para a banda podre da polícia, seria uma grande oportunidade de negócios. 

Quem foi aos atos contra o governo nas últimas semanas percebeu que a polícia não agiu com muita repressão na maioria das cidades. Isto aconteceu por ordem dos governadores, que estão se distanciando de Bolsonaro. Mas uma parte dos policiais estavam “coçando as mãos” para esmagar os atos com violência. Bastasse alguém fazer uma besteira. Felizmente, os manifestantes foram bastante disciplinados e a violência só ocorreu em casos isolados.

O fascismo se destaca pela organização de grupos paramilitares para atacar a classe trabalhadora. Na Alemanha nazista havia os camisas-pardas de Hitler, na Itália fascista os camisas-negras de Mussolini. No Brasil, o fascismo não tem a necessidade de criar grupos paramilitares. A banda podre da polícia já cumpre este papel.  

O estopim para o golpe de 64 foi um levante de algumas bases do Exército. Após esta iniciativa, o conjunto das Forças Armadas se movimentou em favor do golpe. O estopim do golpe bolsonarista pode ser um motim de policiais militares. Não existe risco maior à democracia hoje que este. Fiquemos atentos. O excesso de medo pode encorajar os golpistas. Mas a “valentia” irracional também.