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BRASIL

Qual a saída?

Ernesto Vanzetti*, do Rio de Janeiro, RJ
Marcelo Casal Jr. / Ag. Brasil

Jair Bolsonaro, Guedes e ministros(as), no Palácio do Planalto

O atual governo é a imagem e semelhança da elite brasileira: autoritário, prepotente, autocentrado, violento e saudoso dos tempos da ditadura civil-militar de 1964-85. Por este motivo, o presidente da República serve perfeitamente às oligarquias que governam este país há 520 anos:

– A política econômica ultraliberal, comandada por um pinochetista arrogante e boquirroto, agrada ao sistema financeiro;

– A política (de destruição) ambiental é apoiada pelo agronegócio, mineradoras, madeireiras, entre outros;

– A política de Segurança pública (que não existe, mas suas medidas sim), ao aparato repressivo estatal, ao privado e às milícias;

– A política de saúde (que também não existe, mas suas medidas sim), aos planos de saúde privados;

– Educação, Relações Exteriores, Direitos Humanos (?), Cultura (?) atendem aos fundamentalistas neopentecostais e aos delirantes olavistas.

Todos os ministérios são entrepostos do que há de mais danoso na sociedade brasileira e são liderados por títeres incompetentes e orgulhosos de sua ignorância e truculência. Militares da reserva e da ativa abarrotam a máquina pública como “nunca antes na história deste país” e fariam corar a face do mais cínico dos generais sessentistas. A inépcia para a gestão e a conivência com o crime daqueles que vestem verde-oliva terão ao menos a vantagem de dissolver a falácia cultivada durante décadas de que tratar-se-ia de gente séria, competente, responsável, disciplinada, reta e blá blá blá…

Os “donos do poder”
estão plenamente
satisfeitos, contemplados e com a barriga cheia

Portanto, os “donos do poder” estão plenamente satisfeitos, contemplados e com a barriga cheia. No máximo, o inconveniente surge quando o fascismo se torna indisfarçável, como no caso do ex-secretário nacional de Cultura, evidenciando as suas semelhanças com o que há de mais sórdido na história da humanidade. 

No instante em que escrevo, o mundo inteiro observa atônito um governante aplicar uma política genocida contra o seu próprio povo, ampliando a cada 24 horas o número de mortes, desprezando os efeitos de um vírus letal, desqualificando as medidas de prevenção e de controle de uma pandemia, que se aproxima do registro de 50 mil vítimas no país (obviamente, sem mencionar as subnotificações). Dia após dia, todo o esforço deste presidente parece ser no sentido de criar crises, produzir diversionismos e acenar para o seu eleitorado cada vez mais fanático, cego e enlouquecido. 

Em que pese todos esses fatores, uma deposição, seja por meio de impeachment, ou pela cassação da chapa, parece-nos algo improvável, haja vista que, em ambos os casos, os juízes também pertencem ou servem a essas mesmas oligarquias: tanto os parlamentares, como os juízes do STF e do TSE. O mesmo “grande acordo nacional”, que apeou Dilma do poder, elegeu e mantém Bolsonaro nele. Tanto que o ex-juiz que manipulou e direcionou a eleição presidencial de 2018 para o seu desfecho foi recompensado com um ministério. O presidente da República cercou-se de bajuladores que parasitam e são parasitados por ele, em uma relação de simbiose, mantendo um equilíbrio de forças que só é rompido quando algo fere os interesses particulares do primeiro, ou de sua família. Deste modo, para que ocorra uma queda, seria preciso que este equilíbrio fosse rompido por um movimento brusco de uma das partes, o que, até agora, tem sido habilmente evitado. 

Uma ruptura institucional, neste momento, beneficiaria o próprio presidente, que detém o controle do aparato repressivo do Estado e também do privado – e, por isso, fala em “armar a população”. Tal discurso (o da ruptura) tem também um segundo sentido: o de alimentar o medo e nos fazer crer que tudo o que é ruim pode piorar. É até possível que isto seja verdade. Contudo, esta chantagem não pode continuar resultando na covardia e no imobilismo daqueles que deveriam agir para garantir a democracia e frear os ímpetos despóticos do presidente da República.

Uma revolta popular também não está descartada. No entanto, a quem ela favoreceria? A classe trabalhadora, que historicamente está sendo reprimida e explorada por esses mesmos oligarcas, e que em grande parte, também se desencantou com os últimos governos de centro-esquerda? Ou o próprio governo, que teria, neste caso, o argumento conveniente para suspender direitos, fechar instituições, reprimir violentamente a população e governar autocraticamente?

Estaríamos então em um beco sem saída?

Uma medida necessária e urgente é chamar à responsabilidade os representantes que ocupam mandatos eletivos e cargos nas instituições republicanas: não apenas a Câmara dos deputados, o Senado, o STF e o Ministério Público, mas também a OAB, a CNBB, a ABI, centrais sindicais, partidos políticos e demais entidades da sociedade civil organizada. Dentre esses, destaco os que defendem e zelam pelos princípios democráticos, pelos direitos humanos, pela redução das desigualdades e das injustiças sociais, pelo combate à violência policial, ao racismo, ao machismo, à LGTBfobia, ao extermínio indígena. É preciso que esses representantes abram mão de suas conveniências e que despertem de sua letargia, de seu transe, de sua hibernação, de sua postura narcisista e autorreferente e se recordem do sentido original dessas mesmas instituições. Desencastelem-se de seus gabinetes, voltem-se para as suas abandonadas bases, escutem-nas, representem-nas e façam valer os princípios de democracia, igualdade e justiça social contidos na Constituição Federal.

Caso isto não ocorra, estaremos admitindo que a experiência desta tão recente quanto vilipendiada democracia burguesa (ou liberal, como preferirem) fracassou neste país e que a busca por outros caminhos se tornou inevitável.

 

* Ernesto Vanzetti é jornalista e antifascista.

Marcado como:
Governo Bolsonaro