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EDITORIAL

Queiroz foi preso, mas falta pegar o chefe da organização criminosa

Editorial de 18 de junho de 2020
Reprodução

Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e amigo íntimo de Jair Bolsonaro, foi preso na manhã de hoje em Atibaia (SP), em uma ação conjunta do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e do MP-SP (Ministério Público de São Paulo). A prisão é preventiva, portanto, sem prazo. Policiais também realizaram busca e apreensão no local.

Queiroz foi encontrado em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Flavio. Ontem (17), Wassef esteve na posse novo ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD), que contou com a participação do presidente.

Um imóvel próximo de uma casa declarada por Jair Bolsonaro à Justiça Eleitoral também foi alvo de busca e apreensão. Segundo o delegado que comandou a operação de prisão, Queiroz estava escondido na casa do advogado de Bolsonaro há cerca de um ano.

As evidências apontam para um escandaloso esquema de proteção de Fabrício Queiroz envolvendo diretamente a família presidencial. É fundamental que as investigações avancem para responder, entre outras questões, à seguinte pergunta: por que Bolsonaro, Flávio e o advogado da família, Wassef, protegiam Queiroz? O que eles querem esconder?

É preciso chegar ao comando da organização criminosa

O Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro investiga desvios e irregularidades financeiras no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele exercia mandato de deputado estadual.

Segundo o MP, Fabrício Queiroz recebeu mais de 2 milhões de reais de 13 funcionários do gabinete do filho “01” de Bolsonaro. O montante recolhido por Queiroz abastecia o esquema milionário de enriquecimento ilícito de Flávio, que utilizava uma loja de chocolates para “lavar” o dinheiro sujo. Os recursos públicos desviados pela organização criminosa comandada pelo “01” funcionava desde 2007. Além do esquema na Alerj, Flávio é investigado por transações suspeitas que envolvem 37 imóveis no Rio de Janeiro.

O escândalo da “rachadinha” oferece novas evidências das relações carnais entre a família Bolsonaro e as milícias cariocas, assim como demonstra cabalmente que a corrupção patrocinou o rápido enriquecimento da família presidencial. Queiroz, o operador do esquema foi preso, mas o chefe da organização criminosa, Flávio, ainda não.

Queiroz era amigo de miliciano morto em circunstâncias suspeitas

O ex-policial militar, Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de ser um dos principais chefes da milícia “Escritório do Crime e que foi morto de modo suspeito pela polícia da Bahia, no início do ano, quando se encontrava foragido no estado, era amigo pessoal de Fabrício Queiroz.

Capitão Adriano, como era conhecido, já foi homenageado por Flávio Bolsonaro na ALERJ, quando já era acusado de um homicídio. A sua mãe e sua esposa foram por anos funcionárias do gabinete de Flávio. Conversas entre Queiroz e a esposa de Adriano no aplicativo WhatsApp comprovam o elo entre o esquema do gabinete de Flávio e o miliciano morto.

Segundo a investigação do MP do Rio de Janeiro, Queiroz se utilizou de duas empresas controladas pela milícia que Adriano comandava para lavar dinheiro da operação fraudulenta que dirigia, a partir do gabinete de Flávio Bolsonaro.

Mais de 70 mil reais dos depósitos na conta de Queiroz vieram de dois restaurantes localizados no bairro do Rio Comprido, do qual a mãe de Adriano era uma das sócias, funcionando como “testa de ferro”. A agência bancária onde foi feita a maioria dos depósitos na conta de Queiroz fica em frente a um dos restaurantes.

Ainda de acordo com o MP, parte do dinheiro desviado dos salários dos funcionários de Flavio na ALERJ pode ter ido diretamente para Adriano à época.

Jair Bolsonaro não sabia de nada?

Queiroz era amigo antigo e íntimo do presidente, tanto que depositou R$ 24 mil na conta da atual esposa de Bolsonaro em 2018. Muitos dos funcionários do gabinete de Flávio foram anteriormente funcionários do gabinete de Jair Bolsonaro, quando ele era deputado federal.

Todo mundo sabe que a “família” atuava sempre junta, nas disputas políticas e eleitorais. Por que seria diferente nos esquemas corruptos de financiamento e nas relações que mantinham com as milícias?

Bolsonaro declarou que não sabia nada sobre as atividades do filho e de seu amigo Queiroz. Assim, tenta se esquivar de uma possível futura investigação e sair do foco do escândalo de corrupção.

Ronnie Lessa, o principal suspeito de ter executo Marielle Franco e Anderson, também era ligado à mesma milícia do capitão Adriano. Suspeita-se, ademais, que as relações dos Bolsonaros com Lessa vêm, pelo menos, de 2009, quando a família pode ter ajudado o ex-policial financeiramente, na recuperação de sua saúde, depois de ter sofrido um atentado a bomba, que o fez perder uma das pernas, quando fazia um trabalho de segurança para um contraventor.

O comparsa de Lessa na execução de Marielle, Élcio Queiroz, que dirigiu o carro na noite do crime, visitou o condomínio na Barra, onde moram Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e o próprio Lessa na noite do assassinato.

Por uma investigação séria, profunda e transparente

Todos estes fatos são mais que suficientes para que seja realizada uma investigação séria, profunda e transparente sobre as irregularidades e crimes praticados pela família Bolsonaro. Há evidências significativas que justificam, inclusive, uma prisão preventiva de Flávio Bolsonaro.

Mais do que nunca, queremos saber:

– Qual é a origem do meteórico enriquecimento da família Bolsonaro nos últimos 15 anos?

– Quais são as relações entre Queiroz e a família Bolsonaro com a milícia “escritório do crime” do falecido capitão Adriano e de Ronnie Lessa?

– Quem mandou matar Marielle e Anderson?