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BRASIL

Nova fase do Projeto Fotografias por Minas estende seu prazo e inclui mais entidades para receberem as doações

A campanha Fotografias por Minas dá início a uma nova fase. Agora, o projeto se abre para um novo momento e estende seu prazo e dá visibilidade para trabalhos de pessoas negras, de origem indígena e LGBTIQs+.

A fotógrafa Fabiana Cândido, que se integrou à organização nesse período de transição, reforça a importância dessas duas plataformas para os profissionais em início de carreira e que ainda não têm muita visibilidade sobre sua produção. “Todos nós somos responsáveis para equilibrar as diversidades. Mas para que isso realmente aconteça é preciso que mais projetos como Fotografias por Minas se preocupem em criar estes espaços onde novas vozes sejam ouvidas”, ressalta.

O projeto começou convidando profissionais e amantes da fotografia, mineiros ou residentes no Estado, para participar com suas imagens com a temática “para imaginar um mundo novo”, sem que houvesse qualquer outro tipo de seleção. Ao todo, mais de 320 profissionais atenderam ao chamado e enviaram suas imagens.

A vendas seguem até o dia 03 de julho, com o valor de R$ 150 para cada foto, com impressão de alta qualidade e durabilidade em papel fine art no tamanho 20×30 cm. A compras devem ser feitas no site www.fotografiasporminas.com.br e as entregas serão feitas pelos Correios até novembro. Há também uma conta no Instagram (@fotografiasporminas) onde diariamente são publicados os trabalhos dos participantes. A nova meta é arrecadar 210 mil reais.

Bolhas

Integrante da organização da campanha, a fotógrafa Amanda Canhestro conta que “no meio do processo, resolvemos fazer uma análise de perfil dos participantes para identificar o grau de diversidade humana que os definia. Foi quando nos demos conta de que apenas 10% das pessoas que aderiram à campanha eram negras, e havia um número ainda menor de indígenas e pessoas LGBTIQs+”, afirma a colaboradora.

Apesar da abertura que foi dada para que qualquer pessoa enviasse uma foto em adesão à campanha, a organização, com sua maioria de pessoas brancas, concluiu que a dificuldade de se atingir outros setores da sociedade acabou restringindo a divulgação da chamada. “Percebemos que havíamos caído na armadilha das bolhas sociais. A comunicação do projeto não conseguiu ir além de seus círculos mais próximos”, afirma Canhestro.

“Vamos tentar subverter os algoritmos que muitas vezes nos prendem em espaços virtuais muito restritos. Será um esforço coletivo para atingir outros lugares e pessoas”, destaca a fotógrafa.

Entidades

De acordo com a organização, as entidades que receberão o repasse ao final da campanha, listadas no site do projeto, foram escolhidas seguindo-se critérios de visibilidade reduzida, falta de apoio, urgência em suas carências e diversidade de causas. A quantia arrecadada não será repassada em dinheiro, mas na forma de suprimentos necessários para cada instituição, conforme suas próprias indicações. Caso a segunda meta seja batida, o grupo está estudando a possibilidade de novos apoios à mais entidades.

Povo Pataxó Hãhãhãe – O povo Pataxó Hãhãhãe do grupo Kuturãma representa aproximadamente 22 famílias (122 indígenas), das quais 14 famílias (62 indígenas, dentre eles idosos e crianças) vivem atualmente de forma precária no aglomerado Jardim Vitória, em Belo Horizonte.Em decorrência das dificuldades desencadeadas pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho/MG, viram-se obrigados a se retirar da aldeia Pataxó Hãhãhãe Naô Xohã, em São Joaquim de Bicas/MG, localizada no vale do Rio Paraopeba. O Grupo Katurãma Pataxó Hãhãhãe se encontra em condições de extrema vulnerabilidade na periferia de Belo Horizonte sujeito a violações de seus direitos culturais, territoriais e está exposto em uma região onde há violência e casos comprovados de Covid-19.

 

Povo indígena Xakriabá – O Povo Indígena Xakriabá está localizado no Município de São João das Missões, Norte de Minas. Atualmente, a Terra Indígena Xakriabá tem uma extensão de 56 mil hectares (o que representa menos de 1/3 de seus direitos), contam com 31 Aldeias e cerca de 10 mil indígenas. O grupo luta pela ampliação do território através das “retomadas de terra” para que possam chegar até a margem do Rio São Francisco. Impactados e extremamente vulneráveis a Covid-19, o cuidado com as Aldeias precisa ser redobrado. A terra Xakriabá está localizada numa região de clima semiárido, onde nos últimos anos tem-se intensificado os períodos de seca o que inviabilizou o cultivo de subsistência.

Cio da Terra – Coletivo de mulheres migrantes, criado em 2017, para unir mulheres de várias nacionalidades na luta de seus direitos migrantes. Trata-se uma rede de apoio e troca de experiências que dá suporte e auxilia no fortalecimento da autonomia e autoestima destas mulheres. A pandemia afetou os migrantes em vários aspectos. Todos os eventos foram cancelados prejudicando a fonte de renda, impossibilitando a compra de alimentos e dificultando a sua sobrevivência. Além disso, migrantes que estão em situação irregular, também são muito afetados pela impossibilidade de usufruir dos auxílios governamentais, como a renda básica. O Cio da Terra estendeu suas atividades, tendo que atender não só mulheres, mas também incluindo a assistência a homens migrantes e famílias como um todo, com doações de cestas básicas, roupas e fraldas para crianças pequenas.

Albergue Santo Antônio – Lar para pessoas idosas situado na cidade de São João Del Rei. Atua há 107 anos proporcionando dignidade e uma vida mais confortável para pessoas de toda a região. Atualmente, o espaço atende 64 pessoas idosas e conta com uma equipe de 54 funcionários/colaboradore, entre eles: cuidadores, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, psicólogo, assistente social, cozinheiros, ajudantes e prestadores de serviços gerais. A instituição tem um alto custo de manutenção e vem passando por dificuldades financeiras neste momento de pandemia.

Comunidade Quilombola Vazanteira de Caraíbas – Situada no Norte de Minas, na margem direita do rio São Francisco, no município de Pedra de Maria da Cruz, é composta de 25 famílias que praticam a pesca artesanal, a agricultura de vazante e a coleta de frutos nativos. Reconhecida pela Fundação Cultural de Palmares, a Comunidade Quilombola vem lutando pela regularização fundiária de seu território, enfrentando conflitos e pressões do agronegócio nesta área. É é uma das poucas que resistiram às invasões violentas das terras, em meados de 1970, organizadas por fazendeiros. Agressões que continuam a acontecer e que são constantemente denunciadas pelos moradores da comunidade.

 

Comunidade Quilombola São Geraldo – A Comunidade Quilombola São Geraldo situa-se no município de Coração de Jesus. Os primeiros ocupantes foram indígenas e escravos fugidos das grandes fazendas que chegaram na área, há cerca de 180 anos. O nome São Geraldo passou a ser utilizado quando Wenceslau Ramos da Cruz, um latifundiário da região, doou o terreno para os moradores. Atualmente, formada por 150 famílias, a comunidade tem como principal atividade a agricultura familiar – lavoura do milho, feijão, fava e mandioca. Devido às secas recorrentes, as famílias enfrentam dificuldade para manter-se, e, com a chegada da pandemia, a situação se agravou ainda mais.

Projeto Fotografias por Minas

Em 2018, foi criado o grupo “Fotografia pela Democracia”, formado por fotógrafas e fotógrafos em vários lugares do país. Em Belo Horizonte, o primeiro encontro presencial reuniu 127 pessoas. As conversas continuaram pelo whatsapp, discutindo política e assuntos ligados à fotografia. A partir do grupo de profissionais que se reúne virtualmente, surgiu a ação Fotografias por Minas, inspirada em iniciativas semelhantes realizadas em outras partes do Brasil e do mundo.

“Esse primeiro momento da campanha foi um sucesso, tivemos uma receptividade e engajamento incrível, inclusive de doações vindas do exterior. Nossa ação foi para além da fotografia, emocionando as pessoas e convocando essa necessidade de  ‘imaginar um mundo novo’. Nesta segunda fase, esperamos poder ajudar ainda mais entidades, aumentando  o engajamento das pessoas com a nova convocatória, que traz a importância de imaginar e construir um mundo novo”, salienta Márcia Charnizon, colaboradora também do projeto.

O projeto Fotografias por Minas tem parceria e o apoio de empresas mineiras, como a Greco Design, a Artmosphere Fine Art e a ETC Comunicação.