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Não podemos repetir os erros de junho de 2013

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Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

O povo começou a ir às ruas na última semana. Muitos lembraram a coincidência dos atos serem em junho, mês da famosa jornada de 2013, em que milhões protestaram contra o sistema político brasileiro. Que a coincidência fique por aí, tudo o que não precisamos é de algo parecido com o que aconteceu há sete anos.

Quem participou até hoje ainda deve ter as lembranças. Um momento bonito e inesquecível. Os atos em si foram progressivos. O povo saiu às ruas gritando, entre outras coisas, que um professor vale mais que um Neymar. Mas junho de 2013 foi um processo que terminou em derrota. E esta derrota foi o início do ciclo de desgraças que hoje assola o Brasil.

A Nova Direita já estava se formando. No Orkut, antiga rede social, já haviam dezenas de “comunidades” com um discurso idêntico ao que Bolsonaro usa hoje. Parte da classe média sempre se atraiu por este discurso. Mas após a derrota dos atos de 2013, a maioria da população ficou desarticulada, desmoralizada e confusa. E esta confusão fez uma parcela dos que foram ou apoiaram os atos a cair na lábia dos grupos com um discurso religioso, populista e violento. A Nova Direita toma corpo a partir daí.

Um texto publicado no Esquerda Online em 2018, sobre os 5 anos de Jornadas de Junho, resgata os motivos da derrota. Esta discussão é bastante atual. Vejamos:

“Sem lideranças, as pessoas tomavam as ruas mobilizadas pelas redes sociais. Em primeiro lugar contra o aumento da passagem de ônibus, depois contra os gastos excessivos com a Copa do Mundo de 2014, depois contra tudo. Não havia nada planejado ou organizado. Mas o que parecia a beleza dos atos de junho também foi sua fragilidade. Sem uma forma de debater democraticamente o que fazer e formular pautas de maneira organizada, o movimento acabou se dissolvendo. Houve tentativas de organização, como a Assembleia Popular dos Povos do Distrito Federal ou a Assembleia Popular Horizontal de Belo Horizonte. Mas estas iniciativas acabaram não dando certo.

Os atos foram mobilizados por meio das redes sociais, em que pessoas conseguem se comunicar sem precisar criar laços de solidariedade. Sem sindicatos, organizações de bairro ou qualquer outro movimento social que desse um norte, os atos não passaram do grito de revolta de cada pessoa com seu cartaz. Infelizmente, as mobilizações acabaram se limitando a uma multidão de individualidades. Não foi formado um coletivo.

Foi daí que surgiram os aproveitadores. Grupos que usaram a confusão e o ressentimento surgidos da falta de resultados dos atos de 2013 e criaram “movimentos” como o MBL ou Vem Para Rua. Usaram alguns motes de 2013 para desviar a revolta popular a favor de suas pautas. Ao invés de pedir “hospitais e escolas padrão FIFA”, passaram apenas a “lutar contra a corrupção” com um discurso moralista, despolitizado e sem nenhuma pauta social. A revolta contra o sistema político foi trocada pela revolta contra um único partido: o PT. A falta de debate e organização fez com que milhares dos que ainda sentiam revolta se atraírem por este tipo de movimento. Especialmente as pessoas com maior poder aquisitivo.

Foi o início das marchas “coxinhas” de 2015 e 2016. Com o tempo, o discurso anticorrupção deu lugar aos preconceitos sociais mais asquerosos da nossa classe média alta. Dilma era uma “mulher louca” e Lula era um “analfabeto cachaceiro”. A porta do inferno foi aberta e o que existia de mais racista, machista, homofóbico, elitista e atrasado na sociedade tomou as ruas. Os movimentos que lideravam este festival de bizarrices sabiam o que estavam fazendo desde o início. Usaram a crise política para impor sua agenda de retirada de direitos da classe trabalhadora. Quando o vice-presidente Michel Temer assumiu esta agenda, passaram a defender o impeachment de Dilma. A parte mais elitista e rancorosa da classe média e os setores ainda confusos da população foram usados de massa de manobra. O resultado foi o golpe de 2016 e a aprovação de medidas que retiram direitos históricos, como a reforma trabalhista e a emenda constitucional que limita investimentos sociais por 20 anos.”

Em Resumo: seria um desastre a história se repetir. Que os novos atos tenham uma direção e um programa bem definidos. Que os rumos de junho de 2020 sejam definidos por uma construção coletiva. Não por grupos de Whatsapp compostos por aglomerados de indivíduos. Os erros do passados devem aprendidos para não serem repetidos.

Marcado como:
Junho de 2013