Uma onda de mobilizações irrompem em meio ao caos produzido pela incapacidade dos governos em deter o Covid-19. O maior grupo de risco nos países é o da população racializada e dentro dela as mulheres e LGBTI+. Esse “grupo de risco” é construído todos os dias por um sistema de exclusão social que tem seus alicerces na lógica racista e misógina.
A disseminação do vírus em nível mundial trouxe consigo o desmascaramento das desigualdades sociais em todas as suas tonalidades, em especial a que vem determinando quem não consegue voltar a respirar após o contágio: a cor da pele preta!
Quanto mais fascista as ideias dos governantes, menos nós negros e negras conseguimos respirar, entenda-se aqui, respirar como sobreviver. A radicalidade desse projeto em curso em países como Brasil e EUA trouxe como reação a maior onda de luta antirracista das últimas décadas no mundo.
Os perigos da irrupção: o peso da estrutura racista e os privilégios da branquitude!
A luta por justiça por George Floyd virou símbolo mundial de resistência pela vida em meio à pandemia e vem fazendo Trump ter que recuar no uso indiscriminado das forças de segurança nacional, isolado-o diante de outras instituições do país. Já são 14 dias de protestos ininterruptos com milhões pelas ruas de todos os EUA, desafiando o toque de recolher e o próprio vírus.
Se o assassinato racista de George Floyd foi o estopim para luta pela sobrevivência em todo o mundo, não podemos nos enganar: somente o enfrentamento ao racismo pode garantir uma vida digna para todos: negros e brancos.
Devemos levar esta afirmativa até às últimas consequências. Isso não é somente uma luta pelo microfone, ou pela foto em melhor ângulo. É a luta pela consciência dos que se propõe com coragem enfrentar esses governos. Portanto, o protagonismo negro nas manifestações deve ser encarado pelas organizações como uma necessidade estratégica para ampliarmos nossas mobilizações.
É importante lembrar que uma das consequência em afirmar que o racismo é algo estrutural, em especial no país mais negro fora da África, é saber que as estruturas da branquitude estão empregadas em todos os aspectos da vida social. E, infelizmente, a luta política, mesmo a realizada por organizações de esquerda, não está livre da pressão destas estruturas. Não há vacinas que imunizam senão a construção de um programa e de uma prática radicalmente anticapitalista, antirracista e socialista.
Assim, diante de todas as contradições existentes, não podemos incorrer no risco de escamotear as pautas raciais, uma vez que não está dado que o antifascismo no país do mito da democracia racial compreenda em seu programa a luta antirracista. Nesse sentido, não devemos vacilar, precisamos dar a devida importância e priorizar as bandeiras de luta contra a opressão racial nesse momento histórico. Nenhuma vida terá valor enquanto a vida negra valer menos.
#VidasNegrasImportam em primeiro lugar!
Ao contrário do que a lógica do racismo tenta incutir nos trabalhadores a todo momento, ao elevarmos à potência máxima a luta pelas vidas negras, lutamos por todos nós. O capitalismo em crise, que tenta mais uma vez se reinventar, promete ser ainda mais violento em sua dinâmica racial de superexploração e genocídio de camadas negras em todo o mundo. Ao contrário do que alguns podem pensar, isso não é um problema exclusivo dos negros: matam negros e negras na ponta do fuzil aos milhares por mês no Brasil, exatamente para manter sob a custódia de um trabalho ultra flexibilizado o restante da população. A morte do negro é a ameaça ao branco.
Que a grito, A Vida dos Negros Importam, seja a luta mais coerente pela vida e por democracia no Brasil. Essa ideia é altamente poderosa e subversiva? Sim! No país do mito da democracia racial, harmonia falaciosa entre escravizados e senhores, ver a unificação de brancos e negros em prol das vidas negras é dizer que não acreditamos mais nessa mentira. Essa conclusão é urgente!
Como reflexo dos atos iniciados nos EUA, manifestantes derrubaram no último sábado (06/06), em Bristol, na Inglaterra, a estátua de Edward Colston, grande responsável pelo tráfico de africanos que eram escravizados e levados para as Américas. Esse fato é emblemático do potencial da mobilização negra. São manifestantes multirraciais que vão em direção à derrubada das bases materiais do capitalismo em cada parte do mundo. Existem muitas estátuas dessa sociedade racista para serem derrubadas!
Portanto, ainda que não haja dicotomia entre a luta antifascista e a luta antirracista, saber que a eliminação do racismo é um dos pilares fundamentais do anticapitalismo não é fazer debate no campo semântico. Ao contrário, hierarquizar a luta antirracista é ser intransigentemente antifascista no país que mais mata negros no mundo!
Que o nós por nós, seja cada vez mais nós!
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