Neste domingo ocorreram manifestações em diversas cidades do país. Embora reconheçamos a necessidade de isolamento social e de preservação à vida durante este período da pandemia do COVID-19, não nos deram outra saída: é preciso ocupar as ruas em manifestações unitárias e organizadas!
Nos últimos dias o Brasil se tornou o epicentro mundial da pandemia. Estamos na curva ascendente de contágios e óbitos, e o governo Bolsonaro é o principal responsável pelo desastre na política de contenção da pandemia. Também a maioria dos governos estaduais e municipais estão sendo pressionados pelo empresariado a adotarem medidas de retomada das atividades econômicas não essenciais, como é o caso do prefeito Samuca, de Volta Redonda. O agravamento da pandemia virá nas próximas semanas. De tal modo, os perigos da conjuntura nos colocam a necessidade de luta. Como se não bastasse a crise sanitária, o governo tem se utilizado de uma escalada autoritária jamais vista, com ofensiva sobre as liberdades democráticas e ataques as instituições democráticas no país. Diante de seu enfraquecimento político em todo país (lembrando que em Volta Redonda Bolsonaro se elegeu com quase 70% dos votos), Bolsonaro tem reagido com explícitas ameaças golpistas, pretendendo mobilizar sua base neofascista e em ações criminosas para controlar a Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República e com conexão com as milícias e redes de fake news. É preciso interromper a escalada golpista dos neofascistas.
Estivemos presentes no ato de hoje em Volta Redonda. Algumas impressões gerais:
Em resumo, tivemos um ato extremamente progressivo e unificado, com cerca de 6 dezenas de manifestantes. As principais características do ato deste domingo na cidade foram: unidade da esquerda contra a escalada fascista e muita organização no que se refere às medidas de segurança.
Composição social: não foi um ato de massas, mas de vanguarda. A maioria juventude, com forte presença da negritude antifascista. Apesar de 60 ativistas, estes representaram dezenas de milhões.
Direção: foi criada na unidade por diversas organizações sem destaque para nenhuma delas, a não ser os antifas de VR (jovens). Havia muita organização de segurança e com as palavras de ordem. Foi assegurada fala livre para quem quisesse falar durante a concentração do ato.
Das palavras de ordem: “Fora Bolsonaro”, “cadê Queiróz”, “presidente genocida”, “PM assassina de negros na periferia”, “unificou: juventude e trabalhador”, “abaixo o fascismo” e “ditadura nunca mais”. Ressalte-se também a recuperação, nas falas dos jovens ativistas, da memória e da tradição de luta de Volta Redonda, cidade de pólo operário com importante histórico de lutas.
Em síntese, um ato reduzido em termos quantitativos, mas muito progressivo e organizado, com todas medidas de proteção e orientação de segurança (álcool gel, máscaras de proteção, distanciamento de 2 m entre cada manifestante e GT de segurança).
O protesto iniciou as 14h na Praça Juarez Antunes, em frente a CSN. A estátua de Dom Waldir, importante liderança religiosa (bispo) que atuou em resistência à ditadura na região Sul Fluminense, foi tomada pelo manto antifascista dos Antifas de Volta Redonda. Após a concentração, por volta das 15h os manifestantes saíram em filas e em passeata até a biblioteca municipal, no centro da cidade. Após intervenções dos participantes, lembrando a importância da Frente Única contra o fascismo, o ato retornou em passeata de volta até dispersão organizada do ato. O Psol se pronunciou em nome da Frente em Defesa da Vida de Volta Redonda, composta por PSOL, PT, PCB, PV e movimentos sociais e sindicatos da região.
Apesar de muito policiamento, não houve ocorrências. As forças de repressão apenas observaram, a distância, os gritos em unidade antifascistas e em defesa das liberdades democráticas de uma juventude bastante aguerrida.
Em síntese, o ato foi realizado com todas medidas organizativas para proteger os manifestantes. A orientação foi que quem fosse grupo de risco e morasse com pessoas do grupo de risco deveria permanecer em casa. Todos respeitaram as regras de proteção da saúde como uso de máscara, álcool gel e distanciamento de dois metros entre os manifestantes. O ato contou ainda com equipes de segurança e defesa jurídica. Desfeito o ato a orientação foi que todos fossem direto para casa, em grupo.
Neste momento, militantes honestos se perguntam: é hora de irmos às ruas?
Apesar do medo de muitos ativistas em sair às ruas durante a pandemia, a conjuntura nos coloca um desafio. A tragédia da pandemia tem se agravado no país. E tende a se agravar. No RJ os leitos já estão lotados, a saúde pública encontra-se em caos. O número de contagiados e de óbitos chega a um patamar de verdadeira tragédia sanitária. Mais de 30 mil mortes no país, dois Ministros da Saúde caíram. Para agravar, as pífias medidas de renda emergencial propostas são insuficientes dado o quadro de recessão econômica, e os comércios e atividades não-essenciais já estão em processo de abertura, demonstrando uma equivocada flexibilização do isolamento social. Enquanto isso, a esquerda deve assumir a onda quietista de ficar em casa, limitando-se a atos virtuais?
Os movimentos dessa semana nas ruas, no Brasil e no mundo, nos permitem respirar: é possível resistir! Por aqui, a luta contra a pandemia é a mesma contra Bolsonaro. E este governo não vai cair sozinho, precisa ser derrubado com a mobilização social. Os atos antifascistas em diversas cidades de hoje foram superiores aos atos pró-bolsonaristas. E isso é importante! Precisamos mostrar que as ruas não constituem monopólio dos fascistas. Saímos às ruas para salvar vidas. Dias perigosos se aproximam caso Bolsonaro permaneça no poder.
Naturalmente, não é uma situação normal convocarmos ações de ruas durante o auge de uma pandemia Mas eles nos obrigam a retomar as ruas. Não vivemos uma situação normal. Temos um presidente genocida com pretensões golpistas. Não é hora da esquerda ficar imobilizada. Dadas as devidas orientações de cuidados e segurança, precisamos retomar as manifestações organizadas contra o neofascismo e pelo Fora Bolsonaro!
Os desafios para o Sul Fluminense
Iremos nos esforçar em construir qualquer espaço de Unidade de Ação contra o Fascismo e em defesa das liberdades democráticas, rumo a construção da Frente Única da Esquerda em Volta Redonda e no Sul Fluminense.
Opinamos ser preciso e possível disputarmos a narrativa democrática com nossa população em defesa dos direitos humanos e das liberdades democráticas. A onda mundial das mobilizações, impulsionada pelas manifestações dos EUA, chegou ao Brasil.
Volta Redonda e o Sul Fluminense pode ter iniciado sua recuperação de capacidade de mobilização social de esquerda. Hoje pode ter sido um ponta pé inicial para essa luta.
Dia 13 de junho é dia nacional pelo Fora Bolsonaro. Proteste nas ruas, e se não puder, proteste nas redes virtuais.
*Michelangelo Torres. Professor do IFRJ e militante da Resistência/Psol em Volta Redonda.
** Danilo Caruso. Professor do IFRJ e militante do Psol em Volta Redonda.
*** Giglio. Ativista cultural e militante do Psol em Volta Redonda.
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