Pular para o conteúdo
TEORIA

Prolegômenos a um obituário | 49 anos sem Lukács

Breno Nascimento da Silva*, de Niterói, RJ

Morria há 49 anos, no dia 04 de junho, um dos maiores pensadores marxistas do século XX, György Lukács (1885 – 1971), vítima de um câncer pulmonar. Em sua vida combateu o marxismo escolástico de Stálin, que reduzia o socialismo científico a um mero taticismo. Foi também destacado crítico do individualismo metodológico nas ciências e do irracionalismo nas artes e na filosofia, expressão do que ele sustentava ser a decadência ideológica da burguesia após a Primavera dos Povos de 1848. 

Seu livro História e Consciência de Classes (mais tarde rejeitado parcialmente pelo próprio autor) seria um dos mais impactantes de toda a filosofia do século XX, influenciando diversas correntes filosóficas como a Escola de Frankfurt e os Existencialismos. Fez notáveis avanços no estudo da estética e da crítica literária. Sua obra sempre se notabilizou pelo apelo à totalidade (o todo é mais complexo que a simples soma das partes) na compreensão dos fenômenos e sua essência. Advogava em favor da ortodoxia no marxismo, que diz respeito ao método e sua coerência interna para a análise crítica da realidade e ação transformadora do mundo, o que se opõe ao dogmatismo, que seria a repetição de fórmulas estáticas (por isso pouco dialéticas) no campo teórico e a reprodução mecânica das ações passadas de grandes lideranças do movimento revolucionário dos trabalhadores.

O Lukács menos conhecido é o da política, tendo ingressado no Partido Comunista da Hungria ao final de 1918, no ano seguinte nos 5 meses de duração da República Soviética Húngara seria um dos responsáveis pelo Comissariado do povo para Educação e Cultura do breve regime revolucionário. Foi um dos dirigentes mais destacados do PC húngaro na década 1920 ao lado de Béla Kun, tendo polemizado nas famosas Teses de Blum de 1928 contra a linha ultraesquerdista de Stálin na Internacional Comunista de “Classe contra Classe”, que proibiu as alianças entre comunistas e social-democratas mesmo frente a ascensão fascista, alegando que ambos seriam equivalentes e reacionários. Acabaria alijado dos cargos de direção do partido por essa contestação e viveria no exílio (primeiro na Alemanha e com a ascensão nazista na URSS) a partir de 1929 devido o recrudescimento da ditadura de Horthy em sua terra natal, à qual só retornaria após a Segunda Guerra Mundial. Sempre defensor da democracia proletária, Lukács participaria ainda do levante húngaro de 1956 reprimido pela URSS. No entanto, sabia dos avanços civilizacionais conquistados no bloco socialista e sempre o defendeu contra as investidas do imperialismo capitalista.

Em tempos de corona vírus e crise econômica, política e social lembremos da lúcida abordagem totalizante de Lukács, pois não podemos nos deter em criticar uma forma particular assumida pela sociedade do capital que é o neoliberalismo, devemos criticar o modo de produção capitalista e sua sociabilidade em todas as suas modalidades. Faz-se necessário construir uma nova sociedade, a sociedade comunista.

 

*Texto publicado originalmente na página de facebook da Casa de Resistência Rosa Luxemburgo.

Marcado como:
Lukács / Marxismo