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BRASIL

Vidas Negras Importam: Ato denuncia genocídio negro e violência policial no Rio de Janeiro

da redação*
Hector Santos / Favelas na Luta

Na tarde deste domingo, 31, centenas de pessoas foram até o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, para um ato convocado em caráter de emergência. O ato surgiu a partir de coletivos e ativistas de comunidades e favelas que estão se organizando em campanhas de solidariedade, como os do Complexos da Maré e do Alemão, da Cidade de Deus, da Baixada, entre outras. A organização criou também um coletivo, o Favelas em Luta, para convocar o ato.

Pela internet, a convocação trazia fotos de vítimas da violência policial no estado – como o jovem João Pedro Mattos Pinto, 14, morador do Salgueiro, em São Gonçalo, e a menina Ágatha Félix, de 8 anos, vítima de uma operação da PM na Cidade de Deus – com a de George Floyd, homem negro assassinado sufocado por policiais em Minneapolis, e que despertou uma onda de protesto e uma explosão de raiva em quase todos os Estados Unidos.

O protesto denunciou a violência policial e lembrou execuções como a do jovem João Pedro, morto em casa e que teve o corpo levado de helicóptero. Em outro momento, Mônica Cunha, do Movimento Moleque, usando uma camisa com uma foto de uma vítima do estado, discursou: “O meu povo tem que continuar a viver, e a gente está aqui pra isso. O objetivo é: O povo negro vivo! Jovens negros vivos! Mulheres negras vivas!”. “Não dá mais para querer compactuar, para querer reformar essa polícia militar”, disse um manifestante. “Chega de chacina. polícia assassina”.

“Somos os primeiros milhares a estarmos indo às ruas no Brasil depois da manifestação da diáspora nos Estados Unidos. Esse é o recado: Vidas Negras Importam. E nós não vamos aceitar mais a morte de nenhum irmão nosso”, afirmou Wesley Teixeira, de Duque de Caxias, um dos organizadores do ato.

O genocídio negro se acentuou com a eleição do governador Wilson Witzel, que se elegeu prometendo “atirar na cabecinha”. A sua ruptura política com a família bolsonaro e o núcleo principal do fascismo não interrompeu ou sequer diminuiu a violência policial. Ao contrário, os agentes policiais mataram 1.810 pessoas em 2019. Em 2020, mesmo com a pandemia, os números seguem aumentando. No mês de abril, com quarentena, as mortes subiram 42,7% e foi o mês com mais mortes desde que o ISP (Instituto de Segurança Pública) começou a medição, há 18 anos. Segundo o Observatório da Segurança, esse aumento seria ainda maior, abril de 2020 teria tido 58% mais mortes do que no mesmo mês do ano anterior e as operações policiais aumentaram 28%.

VÍDEO | VEJA UM TRECHO DO ATO, NA TRANSMISSÃO DO EOL

O ato ocorreu sem incidentes, a não ser por um provocador bolsonarista, expulso no início. Mesmo assim, em um momento, um policial militar apontou um fuzil para um manifestante. Depois de falas e depoimentos, o grupo saiu em caminhada por ruas de Laranjeiras, com palavras de ordem e cartazes, como a que lembrou o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. “Marielle perguntou. Eu também vou perguntar. Quantos mais têm que morrer, para essa guerra acabar?”.

Ivan Dias / EOL

A manifestação durou pouco mais de uma hora e teve a preocupação de evitar a disseminação do contágio do coronavírus. Durante todo o tempo, a organização do ato alertava para a distância de 1,5 metro entre as pessoas. “Atenção ao espaçamentooooo, Atenção ao espaçamentooo!!”. Quase todas as pessoas usavam máscaras e outros equipamentos de proteção – alguns improvisaram máscaras “face shield” usando garrafas de plástico de água mineral. Seguindo a orientação, após a caminhada, a manifestação foi encerrada, com grupos seguindo em direções opostas, para evitar aglomeração.

 

* com informações de Veronica Freitas e Ivan Dias.