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Os homens do presidente: quem são os empresários que frequentam o Planalto

Marcos Correa/Presidência da República

Empresários acompanham Bolsonaro e Guedes ao STF, no dia 07 de maio

Andar de cima

Acompanhamento sistemático da ação organizativa, política, social e ideológica das classes dominantes no Brasil, a partir de uma leitura marxista e gramsciana realizada no GTO, sob coordenação de Virgínia Fontes. Coluna organizada por Rejane Hoeveler.

Elaine Bortone*

Não é nenhuma novidade que muitos empresários vêm apoiando Bolsonaro desde as eleições de 2018. Chamaram atenção do público e da imprensa aqueles mais caricatos e que gostam de holofotes, como o “veio da Havan” (Luciano Hang) ou Flávio Rocha, que cogitou ele mesmo lançar chapa à presidência em 2018 antes de decidir apoiar Bolsonaro. Entretanto, analisando os nomes que vêm frequentando o Palácio do Planalto no último período, especialmente em maio de 2020, observamos que este conjunto empresarial vai muito além dessas figurinhas tarimbadas – e, na verdade, trata-se de uma lista que só vem crescendo, apesar de toda inépcia administrativa e política do governo diante da pandemia e da crise econômica.

Somente no mês de maio, foram realizadas dois importantes encontros do presidente com grupos empresariais distintos. No dia 7 de maio, o presidente se reuniu com os empresários do grupo Coalizão Indústria. Uma semana depois, a reunião foi com membros do Instituto Brasil 200 e uma série de empresários dos quais alguns, até então, não tinham estado presentes em reuniões diretas com o presidente. Observa-se, portanto, que a lista parece crescer e que a presença de empresários que acompanham Bolsonaro desde a campanha é minoritária. Mas o que estes empresários buscam junto ao presidente? Fazem exigências e pressionam por seus negócios, ou oferecem algum tipo de apoio ao Bolsonaro?  Pretendem contribuir para combater a pandemia?

Quem é a “Coalizão Indústria” que marchou com Bolsonaro ao STF

No dia 7 de maio, no episódio grotesco que envolveu uma “marcha” sobre o STF, estavam com Bolsonaro empresários do grupo Coalizão Indústria:

  • Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil;
  • José Ricardo Roriz Coelho, Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST);
  • Fernando Valente Pimentel, Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT);
  • Reginaldo Arcuri, Presidente-Executivo do Grupo FarmaBrasil (FARMABRASIL), por videoconferência;
  • José Velloso Dias Cardoso, Presidente-Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), por videoconferência;
  • José Augusto de Castro, Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), por videoconferência;
  • Antonio Sérgio Martins Mello, Vice-Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA);
  • Ciro Marino, Presidente-Executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), por videoconferência;
  • José Carlos Rodrigues Martins, Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC);
  • Humberto Barbato, Presidente Executivo da Associação Brasileira Indústria Elétrica Eletrônica (ABINEE), por videoconferência;
  • Haroldo Ferreira, Presidente-Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (ABICALÇADOS);
  • Synésio Batista da Costa, Presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (ABRINQ).
  • Elizabeth de Carvalhaes, Presidente Executiva da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (INTERFARMA);
  • Paulo Camillo Penna, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento Portland (ABCP);
  • José Jorge do Nascimento Júnior, Presidente-Executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos, por videoconferência.

A Coalizão Indústria surgiu a partir de uma crise que se desdobrou em uma cisão no próprio seio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), levando parte da elite empresarial a dispensar a mediação da FIESP. Insatisfeitos com a condução política de Paulo Skaf, representantes de algumas importantes associações industriais optaram por construir uma relação direta com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sem a intermediação da entidade. Embora não tenha atividade formal, o grupo foi apelidado de Coalizão Indústria e funciona como uma espécie de “Fiesp do B”.

Donos de 32% do PIB industrial, este grupo começou a ganhar corpo no fim de 2018, na reta final das eleições – mais precisamente a cinco dias do segundo turno – quando houve a primeira reunião dessas lideranças com a equipe do, então, candidato do PSL, Jair Bolsonaro. O encontro se deu por conta da suposta “inviabilidade política e eleitoral dos outros candidatos”. Esse time de empresários incluía representantes de indústrias como aço, máquinas e equipamentos, elétrica e eletrônica, têxtil, calçados e construção civil (BORTONE, 2020). Já estava claro que a única alternativa a um governo Bolsonaro, com tudo que ele implicava, seria Fernando Haddad. É interessante notar que nenhum empresário brasileiro relevante declarou apoio ao candidato do PT: a maior ou menor proximidade com a chapa de Bolsonaro era, portanto, uma questão de grau, não de conteúdo.

Na ocasião, os empresários da Coalizão Indústria entregaram um documento para o candidato, onde afirmaram que “a violência, o desemprego e a falta de esperança da juventude” não podiam ser enfrentados sem o “crescimento sustentável da economia e equilíbrio das contas públicas”. Também fizeram uma série de pedidos para o “setor produtivo”, entre eles, a redução dos impostos e dos juros.

A crise dentro da FIESP já era visível, mas ganhou força após os empresários Pedro Passos, ex-presidente do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e conselheiro da Natura Cosméticos; Pedro Wongtschowski, atual presidente do IEDI e conselheiro da Ultrapar e Horácio Lafer Piva, ex-presidente da FIESP e conselheiro do IEDI, publicarem artigo na Folha de S. Paulo, no dia 21 de janeiro, criticando a atuação da entidade paulista e de seu presidente, que vem concorrendo, até agora sem sucesso, a cargos públicos.

O grupo criticava o presidente da FIESP, Skaf, pelo excesso de proximidade da federação com Bolsonaro, afirmava que havia um conluio entre o presidente e Skaf, que poderia decretar a “morte anunciada” da indústria. O texto dizia ainda que a “FIESP está em acelerado processo de destruição”, “centrada na sua insignificância, num processo de auto-engano” e lamenta a destruição na cadeia produtiva da indústria.

Convém lembrar que alguns nomes que aparecem nessa reunião já estavam próximos de Bolsonaro desde 2018. O Instituto Aço Brasil representado por Marco Pollo de M. Lopes; ABIT- Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, representado por Fernando Pimentel; ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos; AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, representado por José Augusto de Castro; ANFAVEA- Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores; ABIQUIMN – Associação Brasileira da Indústria Química, representado por Fernando Figueiredo e CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção, entre outros, estiveram presentes em encontros com o então candidato oferecendo seu apoio em troca de uma agenda econômica ultraliberal que avançasse em cortes de direitos trabalhistas, realização de contrarreformas, etc. (BORTONE, 2020).

Em dezembro de 2018, anunciada a vitória de Bolsonaro, Paulo Guedes, o “posto Ipiranga” de Bolsonaro, garantiu uma interlocução direta e sistemática dos industriais da “Fiesp do B” com a pasta da Economia. “Com essa interlocução assegurada, estamos aqui para dar todo o apoio ao novo governo”, garantiu o presidente do Aço Brasil. Tal interlocução lhes deu a condição de fazerem sugestões ao governo: “Levando em conta a premissa do presidente Bolsonaro de enxugamento da máquina pública, sugerimos a criação do ministério da produção, trabalho e emprego. Nossa preocupação era de que para um segmento como a indústria não houvesse a interlocução adequada”, afirmou Lopes durante uma coletiva no Instituto Aço Brasil. O ministério não foi criado, o que não impediu o grupo de seguir apoiando o governo.

Em encontro realizado em dezembro de 2018, a Coalizão, que já reunia dez entidades, listou uma série de propostas, definindo prioridades para “estimular a retomada do setor”. Figuravam centralmente as reformas da previdência e tributária, o “estímulo a construção civil, infraestrutura e exportações e a defesa da soberania nacional”.

No dia 06 de março, já com a pandemia chegando ao Brasil, a Coalizão se reuniu com Guedes no Rio de Janeiro. Dois dias após a divulgação do PIB de 1,1% referente ao ano de 2019, a Coalizão reforçou, em entrevista, seu apoio à política econômica do governo Bolsonaro, defendendo maior agilidade na tramitação da reforma tributária para “destravar investimentos”. Na ocasião, afirmaram que uma mudança urgente no sistema de arrecadação de impostos traria um “alívio”: “a reforma tributária tem que ser resolvida com a maior rapidez possível. Na nossa visão, ainda no primeiro semestre”, afirmou Marco Polo de Mello Lopes.

No dia 25 de março, a Coalizão se reuniu com Bolsonaro, Guedes e Onyx Lorenzoni, em Brasília, para fazer uma avaliação do andamento da “Agenda Brasil”, defendida pela indústria, que tem como principal objetivo a retomada do crescimento econômico, que só será obtido, segundo os empresários, com a realização do ajuste fiscal, tendo a Reforma da Previdência como grande prioridade.

O governo se comprometeu a revogar uma série de regulamentações nas semanas seguintes, com o objetivo de “incentivar os negócios e reduzir custos”, e prometeu lançar em 15 dias um pacote de medidas para melhorar a competitividade do setor. O pacote não foi lançado, e também não gerou nenhuma ruptura desses empresários com o governo.

Mas foi certamente a reunião do dia 7 de maio, que culminou na vergonhosa “Marcha” dos empresários mascarados ao Supremo Tribunal Federal (STF), que lançou luz sobre este grupo. Sem agendamento prévio, Bolsonaro levou os empresários presentes, representantes de entidades associativas empresariais, à Casa máxima do poder Judiciário, onde foram recebidos pelo presidente do STF, Dias Toffoli. Participaram da reunião os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto; da Economia, Paulo Guedes; da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos; da Justiça e Segurança Pública, Andre Mendonça; da Infraestrutura, Tarcisio de Oliveira, e o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (SEPEC) do Ministério da Economia, Carlos Alexandre da Costa.

A reunião, inicialmente, tinha uma pauta bem precisa: situação da indústria, ações e doações para o combate ao novo coronavírus, retomada do setor produtivo – com a explicação de que a pandemia veio logo após uma longa crise que atingiu as indústrias – e retomada do crescimento econômico, com diminuição do custo Brasil e a volta da agenda de reformas.

O governo afirmou que tinha como objetivo no encontro com Toffoli “apresentar a situação das diferentes atividades produtivas em função da crise da Covid-19”, “as ações que estão sendo empreendidas pela indústria nacional no enfrentamento dessa situação”, e as “perspectivas para a retomada das atividades após a crise ser vencida”, “com foco em construção civil, infraestrutura e edificações, exportações e valorização do produto nacional”.

No vídeo da reunião com Toffoli, que foi transmitido ao vivo pelo perfil do presidente em uma rede social, podemos ver o ministro Paulo Guedes afirmando a Toffoli que o Brasil “vai entrar em colapso” – ficava subentendido que não se referia à pandemia e à morte de milhares de pessoas, mas às medidas de quarentena impostas por prefeitos e governadores para diminuir o ritmo da escalada da epidemia.

O empresário Marco Pollo Mello Lopes, coordenador da Coalizão Indústria e presidente da Aço Brasil, chegou a pedir a reabertura do país em 15 dias (!). Foi proveniente dele a pérola de que haveria “morte de CNPJs” se não houvesse um relaxamento da quarentena, entre outras metáforas mórbidas que conformaram o vocabulário dos presentes, como a “economia na UTI”, etc.

Por sua vez, Synésio Batista da Costa, da ABRINQ, citou países que estão retomando as atividades, chegando a afirmar, contrariamente ao que diz todo o noticiário internacional, que “o mundo está operacional”. Ele citou países em que a curva da pandemia já estaria descendo, omitindo, obviamente, que o caso do Brasil é exatamente o oposto.

É interessante apontar que alguns empresários reclamaram da decisão de Bolsonaro de levá-los até Dias Toffoli para defender o fim do isolamento social. Consideram que caíram em uma “armadilha”. José Veloso Dias Cardoso, por exemplo, afirmou a uma revista que foi surpreendido com a iniciativa do presidente de discutir a flexibilização do isolamento no STF. A ANFAVEA se pronunciou dizendo que a reunião, que antecedeu a ida ao STF, era para falar sobre assuntos econômicos e a visita não estava programada.

Embora tenhamos todos os motivos para desconfiar de tamanha ingenuidade, não é de se descartar que alguns desses empresários, que gostam de holofotes, tenham realmente sido constrangidos àquela ação. Bolsonaro, de uma só tacada, mandou um recado ao STF e à sociedade de que há um setor social importante pressionando-o e apoiando-o; ao mesmo tempo, mostrava a este setor que seria o Poder Judiciário quem o impedia de atender suas demandas. Direcionava-os, portanto, a um confronto direto, no qual ele posaria de “mediador”, enquanto na verdade agira como um provocador. Esse tipo de pirotecnia política é típico do modo de governar de Bolsonaro.

A lista de empresários aumenta

Na semana seguinte, dia 14 de maio, um grupo ainda maior de empresários se reuniu com Bolsonaro, Paulo Guedes e Braga Netto. Eram eles:

  • Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da Península Participações ****
  • André Bier Gerdau Johannpeter, Pres. do Conselho de Administração do Grupo Gerdau;
  • Carlos Alberto de Oliveira Andrade, Presidente do Grupo Caoa; 
  • Carlos Sanchez, Presidente do EMS; 
  • Carlos Zalenga, Presidente da GM América do Sul;
  • Christian Gebara, Presidente e CEO da Vivo; 
  • Constantino Junior, Pres. do Conselho de Administração da GOL Linha Linhas Aéreas; 
  • Dan Ioschpe, Presidente do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion; 
  • Edgard Corona, Presidente do Grupo Bio Ritmo/ Smart Fit; 
  • Elie Horn, Presidente do Conselho de Administração da Cyrela; 
  • Eugênio De Zagottis, Vice-presidente grupo Raia Drogasil; 
  • Eugênio Mattar, Presidente da Localiza;
  • Fernando Cestari de Rizzo, Diretor Presidente da Tupy; 
  • Fernando Galletti de Queiroz, Presidente da Minerva Foods; 
  • Flávio Rocha, presidente das Lojas Riachuelo S.A; 
  • Francisco Gomes Neto, Presidente da Embraer; 
  • Jerome Cadier, CEO da Latam Airlines Brasil;
  • João Carlos Brega, Presidente da Whirpool América Latina;
  • João Guilherme Sabino Ometto, Vice-Presidente Grupo São Martinho; 
  • John Peter Rodgerson, Presidente da Azul Linhas Aéreas Brasileira; 
  • José Roberto Ermirio de Moraes Filho, Membro Conselho Administração Votorantim;
  • Juliana Azevedo, Presidente da Procter & Gamble Brasil; 
  • Lorival Nogueira Luz Junior, CEO BRF; 
  • Luiz Carlos Trabuco, Presidente do Conselho de Administração do Bradesco; 
  • Marcos Lutz, Diretor-Presidente da Diretoria Executiva da Cosan; 
  • Noel Prioux, Presi Presidente do Carrefour; 
  • Patrick Mendes, CEO do Grupo ACCOR; 
  • Paulo Moll, Diretor da Rede D’Or; 
  • Paulo Souza, Presidente da Cargill no Brasil; 
  • Raúl Padilla, Presidente da Bunge; 
  • Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo S/A – Casas Bahia; 
  • Rogélio Golfarb, Vice-presidente para América do Sul da Ford; 
  • Rubens Menin Teixeira de Souza, Pres do Conselho de Administração da MRV Engenharia;
  • Rubens Ometto, Presidente do Conselho de Administração da Cosan; 
  • Salo Davi Seibel, Presidente do Conselho de Administração da Duratex S/A; 
  • Thierry Fournier, Presidente da Saint Gobain para o Brasil, Argentina e Chile; 
  • Victorio De Marchi, Presidente da AmBev; 
  • Wesley Batista Filho, Presidente de Operações América Latina JBS.

Diferentemente da outra reunião que era composta por representantes de entidades empresariais, esta foi formada por uma miscelânea de empresários. Alguns são membros do Instituto Brasil 200, tais como Eugênio De Zagottis, Eugênio Mattar, Elie Horn e Rubens Ometto (Edgard Corona e Flávio Rocha saíram do Instituto em maio deste ano). Estes, além de Abilio Diniz e Antonio Sérgio Martins Mello – que não são membros do Brasil 200 – estão com Bolsonaro desde a campanha em 2018. José Roberto Ermírio de Moraes Filho participou de reuniões para ouvir as propostas de Bolsonaro, em 2018. Os empresários que formam o Instituto Brasil 200 continuam apoiando as ações do presidente. Alexandre de Moraes, ministro do STF, alguns dias depois, afirmou que empresários do Brasil 200, tais como Luciano Hang e Edgard Corona, colaboram entre si fornecendo diferentes recursos para impulsionar vídeos e materiais contendo ofensas e notícias falsas, com o objetivo de desestabilizar as instituições democráticas e a independência dos poderes.

A reunião tinha como objetivo pressionar para o fim do isolamento social e a reabertura do comércio nos Estados. Os participantes não demonstravam preocupação com as quase 24 mil pessoas mortas pela Covid-19 e 378 mil infectadas.

Bolsonaro iniciou a reunião acusando o STF e governadores de responsáveis pela não retomada da atividade econômica durante a pandemia. Flávio Rocha defendeu a reabertura do comércio e criticou a adoção do lockdown em algumas localidades. Guedes sugeriu que os empresários pressionassem os parlamentares cujas campanhas eleitorais eles financiaram, para forçar apoio ao governo em matérias analisadas pela Câmara e pelo Senado.

É interessante notar que embora os empresários cheguem ao governo com uma série de demandas, que não se reduzem ao fim da quarentena (por exemplo, os estímulos fiscais, pacotes de ajuda, etc.), o governo manobra para que este seja o único ponto em questão, visando atingir seus próprios objetivos políticos. Atuando dessa maneira, os empresários, portanto, se colocam como uma “voz da sociedade” que dá pleno suporte à investida bolsonarista. 

Podemos concluir que o apoio empresarial a Bolsonaro, em todo o período que vai desde as eleições, em 2018, até o presente momento, quando já contamos mortos na casa de dezenas de milhares, não apenas não sofreu defecções relevantes, mas ainda aumentou, conforme chegam os fortes ventos da crise econômica mundial. O que os une não é propriamente uma fidelidade ao ex-capitão ou mesmo ao Paulo Guedes, e sim a certeza de que este governo atenderá seus interesses mesmo que para isso tenha que passar por cima de milhares de cadáveres. Basicamente, o que sela essa união espúria é a indiferença à vida. 

Uma análise da composição das duas reuniões e das declarações desses empresários nos permite ver que, ao contrário do que se poderia esperar, nem governo, nem empresários estão preocupados com a exponencial escalada  dos números de infectados e de mortos de covid-19 no Brasil. 

 

* Elaine Bortone é graduada em Psicologia e historiadora. Mestre em Administração Pública (UFF), Doutora em História Social (UFRJ) e pesquisadora do Grupo de Trabalho Empresariado e Ditadura e GTO – Grupo de Trabalho e orientação.

 

Referência

BORTONE, Elaine de Almeida. Frações do empresariado em campanha pró-Bolsonaro (2018.) Revista Debates, Porto Alegre, v. 14, n. 1, p. 60-83, jan.-abril. 2020.