Mais do que confirmar o objetivo de Bolsonaro de interferir na Polícia Federal (PF), o vídeo da reunião ministerial de 22 abril revelou um encontro de aloprados, vendilhões e fascistas discutindo, caoticamente, os rumos do governo federal.
Não se falou naquela devassa reunião em combater a pandemia da covid-19 — que já tirou, até aqui, a vida de mais de 23 mil brasileiros. Muito pelo contrário. Bolsonaro afirmou que, para acabar com as medidas de isolamento social, queria “escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado!”. Leia-se: o presidente quer armar as milícias e organizações bolsonaristas, em meio à pandemia, a fim de alcançar seus propósitos golpistas e genocidas.
O show de horrores não se restringiu às falas abjetas de Bolsonaro. Ricardo Salles (Meio Ambiente) afirmou que era hora de aproveitar o momento para “ir passando a boiada” da desregulamentação da proteção ambiental. Abraham Weintraub (Educação), além dizer que odiava o termo “povos indígenas”, defendeu a prisão daqueles que, segundo ele, estavam atrapalhando o governo, “começando no STF”. Damares Alves (Direitos Humanos), por sua vez, afirmou que ia pedir a prisão de governadores e prefeitos que estão impondo medidas de isolamento social.
Coube a Paulo Guedes (Economia) a defesa da preservação do programa neoliberal extremista, apesar do contexto de depressão aguda da atividade econômica e dos investimentos privados. Contrapondo-se ao plano de investimentos públicos esboçado pelo núcleo militar (chamado de Pró-Brasil), Guedes disse que o programa apresentado pelo general Braga Netto (Casa Civil) era “bonito (…), mas isso é o que o Lula, o que a Dilma tão fazendo há 30 anos”.
O “chicago boy” defendeu, ainda, a privatização imediata do Banco do Brasil (“vende logo essa porra”), jogar “uma granada no bolso do inimigo” (congelamento dos salários dos servidores públicos), que ajudar pequenas empresas é perder dinheiro e, por fim, argumentou a favor de um plano de trabalho militarizado para contratar 1 milhão de jovens por R$ 200 por mês (medida inspirada na política adotada por Hjalmar Schacht, ministro da economia da Alemanha Nazista entre 1934 e 1937, que foi citado nominalmente por Guedes na reunião).
Uma análise do conjunto da reunião revela, por um lado, um governo confuso, despreparado e acuado, sem qualquer capacidade ou interesse em controlar a crise humanitária, econômica, social e política em pleno aprofundamento. Por outro lado, revela que Bolsonaro aposta na radicalização fascista para proteger seu governo — o qual, segundo ele, pode estar “indo em direção ao iceberg” — e os negócios criminosos de sua família (o que explica o desespero do ex-capitão pelo controle da PF). Tudo sugere que o presidente miliciano trabalha para que o caos se instale no país — situação que seria mais propícia para uma aventura golpista.
O núcleo militar — principal pilar de sustentação política do governo — endossa as chantagens autoritárias, em particular às direcionadas ao STF. Na sexta (22), o general Augusto Heleno (GSI), com apoio de Fernando Azevedo e Silva (Ministro da Defesa), fez uma explícita ameaça golpista, afirmando que, se houver determinação judicial de apreensão do celular de Bolsonaro, haverá consequências “imprevisíveis” para a nação.
O que tanto preocupa a cúpula palaciana? O rápido avanço das investigações contra Bolsonaro e seus filhos no Supremo Tribunal Federal (e em outras instâncias) em diversas frentes: sobre a máquina criminosa de fakenews, a interferência ilegal na Polícia Federal, o esquema da “rachadinha”, o caso Queiroz e as relações com a milícias e, não menos importante, o assassinato da Marielle Franco.
Os desdobramentos da publicação do vídeo
É de se esperar que no segmento bolsonarista (cerca de 25% da população) tenha havido pouco ou nenhum efeito negativo para o governo — muitos, entre eles, até comemoram o conteúdo fascista revelado. Contudo, felizmente, esse setor não é majoritário. Segundo a última pesquisa da XP, divulgada em 25 de maio, a parcela da sociedade que considera o governo ruim ou péssimo atingiu, pela primeira vez, 50%. Todas pesquisas indicam tendência de elevação da rejeição do miliciano.
Além disso do desgaste na opinião pública, a publicação do vídeo tem como consequência o aprofundamento da crise política e institucional, na medida em que abre espaço para novas acusações criminais contra Bolsonaro e ministros e também por escalar o conflito do governo com o STF, governadores, prefeitos e diversos setores organizados da sociedade.
Nesse momento, é fundamental ampliar a maioria social contra Bolsonaro. Nesse sentido, o vídeo deve ser utilizado nas mais diversas frentes de batalha: defesa das garantias democráticas, do meio ambiente, da vida, dos bancos públicos, dos povos tradicionais, do funcionalismo público, enfim, dos interesses da ampla maioria do povo brasileiro, que não compartilha da base moral e política do fascismo bolsonarista.
Com a escalada descontrolada da pandemia e da crise econômica e social, fica cada vez mais evidente que a derrubada do governo Bolsonaro é condição necessária para a defesa da vida, dos direitos sociais e das liberdades democráticas.
Não é possível construir nenhuma “trégua” com esse governo genocida, como quer Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Por isso, é hora de aumentar a pressão pela abertura do processo de impeachment no Congresso e por ações efetivas das instituições, partidos e lideranças políticas contra as ameaças golpistas e a política genocida de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, é preciso fortalecer as ações de luta e solidariedade dos trabalhadores e da juventude em defesa da vida, dos direitos democráticos e sociais e de combate ao fascismo.
Para salvar vidas e as liberdades democráticas, Fora Bolsonaro!
Impeachment já!
Mourão não é alternativa!
Golpe não, Ditadura nunca mais!
Eleições presidenciais livres e diretas antecipadas!
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