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BRASIL

As camisas de futebol de Bolsonaro

Diogo Xavier, de Recife, PE
Wilson Dias / Agência Brasil

Tão comum quanto ouvir asneiras saídas da boca do presidente é vê-lo com camisas de times de futebol. Seja de times populares como Flamengo e Bahia, ou com camisas de times menores, como o Cascavel.

Como quase tudo nesse governo o que parece caótico e sem propósito é na verdade uma forma de propaganda que tem objetivos específicos.

O futebol no Brasil é uma paixão popular, clubes movem multidões e expressões do futebol são extremamente comuns no cotidiano do brasileiro. Por isso atrelar a sua imagem ao futebol gera simpatia ao mesmo tempo em que mostra uma imagem de líder popular que sempre foi o objetivo de Bolsonaro.

Desde a campanha eleitoral em 2018 circulavam imagens do então presidenciável vestindo várias camisas, embora houvesse certa rejeição a essa troca de escudos era muito comum que nos grupos de torcedores aparecesse uma imagem do mesmo com a camisa o que gerava identificação.

No grupo de torcedores do Botafogo circulava uma imagem descontraída do então deputado vestindo a camisa do time, da mesma forma com dezenas de times pelo país. Essa associação de um homem simples que gosta do esporte popular e não tem medo de estar perto do povão foi e é usada abusivamente pelas redes bolsonaristas.

Lucas Figueiredo / CBF

Bolsonaro participando da comemoração do título brasileiro do Palmeiras em 2018

 

É o mesmo cara que come pão com leite condensado no café da manhã.

O futebol chega ao Brasil pelas elites, mas logo se torna popular. Como quase tudo que é popular foi visto por parte da intelectualidade como sendo alienante e o oposto da ciência.

Parafrasear Marx dizendo que o futebol era o ópio do povo era chover no molhado. Essa visão elitista não observou diversos fenômenos sociais que surgiam dentro do futebol ou que se refletiam no futebol. As arquibancadas demonstram boa parte do que há no país e no caso do Brasil as classes populares estão ali representadas, ou estavam até a cheda das arenas pra Copa do Mundo.

A utilização do futebol por lideranças políticas também não é uma novidade, maior exemplo é o do ditador Médici, que costumava freqüentar jogos no Maracanã e soube usar muito bem a vitória Brasileira na Copa de 70 como elemento de valorização nacional.

A reunião com os presidentes do Flamengo e do Vasco na última terça-feira (19/05) foi uma demonstração de como esse governo tenta utilizar a volta do futebol pra passar ares de normalidade no meio de uma pandemia que tem matado por dia mais de mil brasileiros.

Compreender os símbolos que esse governo passa é fundamental pra saber contra quem lutamos se por um lado é um governo apoiado pelas elites toscas desse país existe também uma tentativa de se fazer parecer popular.

Menosprezar esses aspectos é não entender que por diversos momentos na história a classe trabalhadora aderiu à líder de extrema-direita. A simbologia por trás de um líder carismático, como disse a Eliane Brum é o homem mediano, faz com que os mais pobres se sintam representados naquela figura, apoiando assim todos os seus atos.

Não dá pra menosprezar nada nesse governo, pois depois de uma reunião onde projeta acabar com direitos sociais ou mais uma tentativa de fechar o congresso Bolsonaro sai pra comer um espetinho com uma camisa de futebol.

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