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BRASIL

A solidariedade ativa aqueles que mais precisam é nossa resposta à tragédia humana e social que estamos vivendo

Roberto “Che” Mansilla e Thalles Cahon Leopoldo*, do Rio de Janeiro, RJ

Entrega de cestas básicas em ação de solidariedade

Nessa segunda, 18 de maio, tivemos a terrível notícia de que o Brasil, infelizmente, assumiu a terceira posição no terrível ranking dos países dos países com casos confirmados do Covid-19, com 254.220 mil casos e 16.792 mortes, das quais 674 foram registradas de domingo para segunda-feira.

Cumpre dizer que Bolsonaro também é responsável por essa tragédia por não seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) que defende o distanciamento social como medida mais eficaz de evitar uma tragédia ainda maior, já que ainda não existe nem remédio comprovado e nem vacina conhecida. A linha errática do governo não consiste somente no discurso contra o isolamento social e na desumanidade dos “e daí?”, mas também em não garantir as condições para que a população trabalhadora mais vulnerável possa cumprir o isolamento. É responsabilidade de Bolsonaro e seu governo não suspender as demissões nem a garantia de uma renda básica a todas as pessoas na informalidade e uma renda especial para as famílias de desempregados. As vidas devem estar acima dos lucros das empresas. Em vez disso, criou as MP’ 927 e 936 flexibilizando direitos e reduzindo salários.

No Rio de Janeiro esses números também aumentam. Já são 26.665 casos e 2.852 morte, de acordo com o boletim da Secretaria de Saúde, divulgado às 19hs de ontem, 18/05. Significa dizer que o RJ ainda enfrenta os terríveis desafios da crescente disseminação dessa terrível pandemia. Essa situação é mais dramática quando avançamos para o colapso do sistema de saúde pública. Mesmo com diferenças de discurso em relação ao governo federal, Witzel e Crivella não se diferenciam nos seguintes aspectos: na ausência de testes para toda a população, na falta de garantia de um fluxo único da rede hospitalar para o tratamento dos casos de Covid-19 organizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), na garantia condições de trabalho com segurança para os profissionais de saúde. Há a urgência da ampliação do auxílio emergencial pelo governo Witzel e a efetivação do pagamento por Crivella, já que há um mês foi aprovado pelo Legislativo a Renda Básica Carioca e até agora o prefeito não sancionou a lei.

Para agravar esse cenário sabemos que a crise econômica, colapso do sistema de saúde, já afeta com maior gravidade as famílias das favelas e das periferias. Ou seja, a pandemia do Covid-19 está afetando a todos, mas é de modo desigual. A grande parcela da população trabalhadora, ainda enfrenta demissões e a diminuição da renda. O auxílio emergencial do Governo Federal mesmo sendo bastante insuficiente, poderia ser uma saída imediata, ainda não chegou a milhares de beneficiários. As filas dessa espera continuam, colocando ainda muita gente em exposição ao novo Coronavírus. O distanciamento social não foi e ainda não é um direito para a maioria da população precarizada e das favelas.

Só os trabalhadores podem ser consequentes na defesa de suas vidas

Mas ao mesmo tempo precisamos reagir a isso. A solidariedade de classe e a retomada do trabalho de base são fundamentais para superarmos todas as adversidades dessa terrível tragédia humana e social que vivemos. Mesmo no momento em que precisamos manter o distanciamento social, uma rede ativa de apoio àqueles que mais necessitam é uma tarefa que precisamos cumprir.

Nesse sentido, há duas semanas construímos uma campanha de solidariedade. Com a ajuda de Professores da Escola Municipal Herbert Moses (Jardim América), amigos da escola, outros colegas professores, ativistas e petroleiros conseguimos arrecadar R$ 2.220 que ajudaram na compra de 12 cestas básicas para atender famílias de 5 a 6 pessoas por até dois meses, além da distribuição de materiais de higiene pessoal. E, nessa segunda (18/05) fizemos a distribuição. Fomos à tarde, a comunidade da Ficap, na Pavuna, em que vivem famílias muito necessitadas, além de serem excluídas de direitos mínimos (saneamento básico, moradia digna, água encanada) e serem constantemente vítimas de ações violentas do Estado e de seu braço armado: a polícia militar.

O sentimento de cada um que pôde ajudar essas 12 famílias (mas que precisam ser muito mais a serem atendidas) foi de grande alegria, pois buscamos minorar as dificuldades dessa população trabalhadora. Vale dizer que existem inúmeros exemplos positivos no Rio de Janeiro (como em outras partes do país), de associação de moradores, movimentos de luta por moradia, moradores de comunidades, sindicatos, que estão desenvolvendo outras ações importantes de distribuição de alimentos e kits de higiene. Isso deve ser reconhecido e nos servir de incentivo para fazermos novas campanhas e de construirmos laços de solidariedade entre diferentes setores da população trabalhadora.

Podemos vencer essa guerra contra o Coronavírus com muita informação, denúncia dos governos (Bolsonaro, Witzel e Crivela) que não investem em políticas públicas (investimento no SUS, por exemplo) e com muita luta social, afinal “a única luta que se perde é aquela se abandona”.

 

*Roberto “Che” Mansilla é Professor de História e militante da Resistência/PSOL-RJ.

*Thalles Cahon Leopoldo é petroleiro da REDUC.