Na manhã desta sexta-feira, dia 15 de maio, a imprensa informa que o Brasil atingiu a marca de 13.993 mortes pela Covid-19. Entretanto, já é sabido que o país convive com uma grande subnotificação, tanto em número de infectados como no número de mortos pelo novo coronavírus.
A enorme ausência de testes para a confirmação da doença e o atraso na compilação de dados dos cartórios sobre os óbitos são os motivos mais aparentes para essa subnotificação.
Porém, especificamente em relação a subnotificação no número de mortes existe outro fator bem grave: expressivo crescimento dos registros de óbitos com outras causas, como por exemplo, pneumonia e insuficiência respiratória. Um aumento totalmente acima do padrão, que só pode ser explicado pela existência da pandemia da Covid-19 e a sua maior disseminação nos últimos 2 meses.
Os dados publicados no Portal da Transparência – Especial Covid-19, de responsabilidade da Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais), não deixam margem para dúvidas: o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil é muito maior do que as consideradas pelo Ministério da Saúde, podendo superar o dobro dos números oficiais.
Os dados falam por si. Segundo os registros de óbitos, entre os dias 15 de março de 2020 e 15 de maio de 2020, morreram por pneumonia 35.944* brasileiros. Neste mesmo período, em 2019, morreram 29.547 pessoas. Ou seja, houve um crescimento de 6.397 mortes em números absolutos, ou de 21,65%.
Em relação as mortes registradas por insuficiência respiratória o aumento é ainda maior. Nos mesmos 2 meses de 2020, morreram 31.065 pessoas. E, no mesmo período, em 2019, morreram 22.464, um salto de 8.061 mortes, representando um crescimento de 38,29%.
Se somamos apenas o crescimento do número de mortes por pneumonia e insuficiência respiratória, no período indicado, já chegaríamos ao número de 14.998 mortes a mais do que em 2019. Um crescimento desta monta só pode ser explicado pela existência da pandemia e sua gravidade em nosso país.
Admitindo que fosse razoável um crescimento 10% nas mortes por estas duas causas, mesmo assim chegaríamos a um acréscimo de mais de 13 mil mortes, que na verdade tem como causa altamente provável a Covid-19, ou seja, praticamente o dobro do número de mortes apontadas pelos dados oficiais.
É importante frisar também, que se considerarmos os meses de janeiro e fevereiro deste ano em comparação a estes mesmos meses do ano passado, os registros de mortes por pneumonia e insuficiência respiratória, na verdade, vinham caindo levemente (dados também disponíveis no Portal da Transparência – Arpen). O que torna o salto destas mortes nos meses dois meses pesquisados, ainda mais vinculado a existência e a grande extensão da Covid-19 em nosso país.
Lembrando ainda que nesta conta não estão considerados dados de crescimento do número de mortes por outras causas que também podem estar associadas a Covid-19 ou no número de mortes sem causa registrada – classificação que vem crescendo muito também, afinal aumentou significativamente o número de pessoas que estão falecendo nas suas próprias residências, sem o mínimo atendimento médico.
Subnotificação é uma ação consciente para esconder gravidade da pandemia
Diante de uma pandemia de enormes proporções como a que estamos vivendo, é natural a existência de alguma subnotificação, tanto no número de infectados como o número de mortos. Afinal, não se conseguiria testar toda a população ou mesmo não existe um precisão absoluta no registro de óbitos.
Porém, não é isso que acontece de fato no Brasil atualmente. Na verdade, está se utilizando de uma política de subnotificação em larga escala para buscar esconder as graves consequências sociais e humanas da pandemia em nosso país.
Apenas com os dados disponíveis, já se possível concluir que ultrapassamos no Brasil a marca de 25 mil mortes. E, diante da ampla e evidente subnotificação, chama a atenção a não existência de um protocolo do Ministério da Saúde para tornar mais eficiente o registro de óbitos por Covid-19. Ou mesmo, uma política realmente séria de ampliação no número de testes, medida que chegou a ser anunciada, mas foi mais uma promessa enganosa.
No caso de nosso país, a subnotificação está a serviço da política de Bolsonaro e seus aliados de minimizar – a todo o momento – os graves efeitos da pandemia no Brasil.
Os números oficiais de mortes por Covid-19 no Brasil já são muito altos. Mas, se os dados oficiais refletissem de fato a realidade – ou seja, que as mortes pelo novo coronavírus são mais que o dobro em nosso país – seria mais difícil para a Bolsonaro defender sua política criminosa e irresponsável de flexibilizar ainda mais as medidas de distanciamento social, que já são atualmente muito parciais.
Para salvar vidas #ForaBolsonaro
Bolsonaro segue sua campanha sórdida e genocida contra a política de distanciamento social.
Apenas nesta quinta-feira, 14, o atual presidente voltou a defender em entrevista a flexibilização das medidas de distanciamento social; se reuniu com grandes empresários, ligados a Fiesp, propondo uma pressão sobre os governadores e prefeitos para a abertura ainda maior de setores não essenciais da economia; e editou uma medida provisória que tenta isentar os agentes públicos de punição por conta de possíveis erros no combate a pandemia, um medida totalmente inconstitucional e que visa em última instância a sua autoproteção.
Diante da gravíssima situação que enfrentamos em nosso país, o agora ex-ministro Nelson Teich, grande empresário do ramo da saúde privada, não resistiu sequer um mês no atual desgoverno de Bolsonaro”
Em apenas um dia, o neofascista Bolsonaro demonstra novamente e de forma cabal que é impossível defender a vida da maioria dos brasileiros com a manutenção deste governo criminoso.
Os movimentos sociais e os partidos de esquerda devem seguir e estar ainda mais empenhados na luta pela defesa da vida da maioria, em especial dos trabalhadores, dos negros e negras, dos desempregados, dos subempregados, dos moradores das periferias das grandes cidades, enfim, dos explorados e oprimidos, que são os que mais estão sofrendo com as consequências sociais e humanas da pandemia.
Devemos defender uma “quarentena total”, especialmente nas principais regiões metropolitanas das capitais brasileiras, onde existe maior contágio da Covid-19 e uma situação de colapso (ou próxima disso) no sistema público de saúde, gerando uma grande fila para atendimento médico, principalmente em Unidade de Tratamento Intensivos (UTI’s).
E, para que seja realmente possível uma quarentena ampla, que seja ampliada a renda mínima para 1 salário mínimo, sendo paga sem os entraves burocráticos atuais e pelo menos durante a existência da política de distanciamento social. Além de ser urgente, uma campanha mais efetiva de conscientização da população sobre a necessidade de ficar em casa, punindo os governantes, grandes empresários, Bolsonaro e seus apoiadores, por sua campanha sórdida contra a necessidade de distanciamento social.
Devemos defender ainda a aberturas das UTI´s do setor privado para o atendimento de toda a população. Com a criação de uma fila única de atendimento de UTI´s para a Covid-19, controlada diretamente pelo SUS, como já propôs o PSOL em seu recurso ao STF.
A cada dia fica mais evidente que a luta por salvar vidas, defender direitos sociais e às liberdades democráticas é inseparável da luta por acabar com o governo Bolsonaro.
Uma tarefa que não é fácil, até porque estamos impedidos de realizar grandes manifestações de rua. E, devido também ao apoio que Bolsonaro mantém em setores das grandes empresas e bancos, na cúpula dos militares, em parte do judiciário e do Congresso Nacional. Entretanto, a luta por acabar com este governo é inadiável.
Portanto, é urgente que a esquerda e os movimentos sociais se unifiquem em torno da luta pelo Fora Bolsonaro, exigindo do Congresso Nacional a abertura imediata de um processo de Impeachment e de uma CPI para apurar os crimes do governo Bolsonaro.
Da mesma forma, devemos lutar contra uma eventual posse do vice-presidente, general Hamilton Mourão, que é cúmplice de Bolsonaro em todos os crimes contra a vida e às liberdades democráticas. Como mais uma vez ficou demonstrado por seu artigo, na última quinta-feira, publicado no Estadão. A luta pelo Fora Bolsonaro deve estar combinada com a defesa da antecipação das eleições presidenciais, realmente livres e democráticas.
*Dados consultados no Portal da Transparência – Arpen, em 15 de maio de 2020, às 10h50.
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