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Travestis e mulheres trans morreram assassinadas dez vezes mais do que de Covid-19 entre janeiro e abril

Travesti Socialista

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Travesti socialista que adora debates polêmicos, programação e encher o saco de quem discorda (sem gulags nem paredões pelo amor de Inanna). Faz debates sobre feminismo, diversidade de gênero, cultura e outros assuntos. Confira o canal no Youtube.

Segundo boletim da Antra divulgado em 4 de maio, de janeiro a abril, foram notificados 64 assassinatos de travestis e mulheres trans, um aumento de 49% em relação ao mesmo período de 2019. Mesmo no período de isolamento social, entre março e abril desse ano, houve 26 assassinatos, contra 23 entre março e abril do ano passado. No país com maior número de assassinatos documentados de pessoas trans, os crimes fatais de ódio ainda foram dez vezes mais letais que a Covid-19 até abril – ainda segundo a Antra, entre as mortes de Covid-19, apenas 6 foram de pessoas trans (p. 3).

Comparando os dados de janeiro a abril de 2018 com os do mesmo período de 2019, houve uma queda relativa no número de assassinatos documentados. Este ano, apesar do isolamento social, o número de assassinatos documentados cresceu novamente, voltando ao patamar de 2018. Além dos assassinatos, o boletim relata também que foram notificadas 22 tentativas de homicídio, 11 suicídios e 21 violações de direitos humanos de pessoas trans.

Vale destacar também que, uma vez que a maioria das travestis e das mulheres trans são profissionais do sexo, elas têm um risco de contaminação por Covid-19 maior que a média da população, uma vez que não podem permanecer em isolamento.

O governo continua lavando as mãos

Não é de hoje que o governo federal simplesmente ignora a triste realidade de marginalização e violência que atinge a população trans, particularmente as travestis e as mulheres trans profissionais do sexo. O governo Bolsonaro não só não toma as medidas necessárias, como ainda se vale de um discurso cínico afirmando que não existe “homofobia” (sic).

Nesse país, centenas de travestis e mulheres trans são assassinadas por ano e a expectativa de vida de uma pessoa trans é de cerca de 35 anos. Apesar de nós, pessoas trans, sermos cerca de 1% da população LGBTI do Brasil, somos vítimas de metade dos crimes de ódio fatais. Pesquisas indicam também que entre 30 e 40% de nós já tentou cometer suicídio alguma vez na vida devido às terríveis condições de vida a que somos submetidas.

Bolsonaro continua a enganar as pessoas, confundindo uma política educacional que inclua gênero e sexualidade com ‘incentivar a promiscuidade’, promover a ‘ideologia de gênero’, entre outras bobagens. Não é aceitável que um beijo gay seja censurado numa revista em quadrinhos enquanto beijos héteros são exibidos a rodo por todos os meios de comunicação. Não é permissível que um comercial do Banco do Brasil seja censurado apenas por exibir jovens LGBTI.

Ao afirmar que está combatendo uma suposta ‘ideologia de gênero’, Bolsonaro e seus asseclas estão mentindo para a população para impedir qualquer política de inclusão e de combate à discriminação.

É preciso que o governo deixe de lavar as mãos e comece a aplicar uma política de educação de gênero e sexualidade nas escolas, para que se aprenda, desde criança, a respeitar a diversidade de gênero e sexual. Entretanto, enquanto Bolsonaro permanecer no poder, nada disso vai ser feito. Por isso e por muitos outros motivos que Jair Bolsonaro tem que ser derrubado.