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EDITORIAL

Bolsonaro semeia a morte. Os trabalhadores lutam pela vida

Editorial de 07 de maio de 2020
Bolsonaro semeia a morte. Os trabalhadores lutam pela vida

Quase nove mil brasileiros já perderam a vida por covid-19, segundo os registros oficiais. O número de óbitos, que salta a cada dia, é frio; não fala sobre a dor das famílias e amigos que perdem pessoas amadas. O luto, o sofrimento e as lágrimas não cabem nas estatísticas da pandemia.

Somente nos dois últimos dias, mais de 1.200 vidas foram ceifadas. Essa devastação de seres humanos, em sua maioria trabalhadores pobres e negros das periferias das grandes cidades, não é uma fatalidade da natureza.

Poderia ser diferente. Se as medidas necessárias tivessem sido tomadas a tempo, milhares de mortes teriam sido evitadas — muitos filhos ainda teriam a companhia de seus pais; muitos netos ainda brincariam com seus avôs; muitos amigos ainda se encontrariam para conversar.

Porém, o isolamento parcial foi frouxo e não houve testagem em massa. E o mais grave de tudo: o presidente do país é o maior aliado do vírus.

Nesta quinta (7), Bolsonaro foi ao STF com ministros e grandes empresários e fez novo apelo contra as medidas de isolamento social, justamente no momento de maior crescimento da doença no país. Com isso, o governo e a burguesia brasileira, mais uma vez, demonstram que, para eles, o lucro capitalista está acima do direito à vida dos trabalhadores.

Na sua dança macabra, o genocida no Palácio do Planalto trabalha incansavelmente para a morte. Remover Bolsonaro do poder se tornou condição para salvar vidas e evitar o que pode ser tornar a maior tragédia da história do país.

A escalada da pandemia

O Brasil está caminhando a passos largos para se tornar o próximo epicentro mundial da doença. Ultrapassou a marca das 600 mortes por dia. Já é o 9º país do mundo em número de pessoas contaminadas e o 6º em número de mortos pela covid-19.

Os dados oficiais, no entanto, registram apenas uma parte dos casos e das mortes pelo novo coronavírus. A realidade é muito mais cruel do que esses dados subnotificados do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais de Saúde. Quantos brasileiros já não perderam um ente querido ou não conhecem alguém que foi levado por essa terrível doença?

O crescimento exponencial nos registros de óbitos dos cartórios de todo o país nos diz muito mais sobre o real tamanho da tragédia humanitária que se abate sobre o país do que as frias coletivas de imprensa dos técnicos do Ministério da Saúde.

E a tendência, infelizmente, é a situação piorar muito nesse mês de maio. As previsões são terríveis. Já estamos vivenciando em muitas regiões do país o colapso ou a iminência de colapso no atendimento da rede pública de saúde, e, em algumas cidades, como Manaus e Belém, há inclusive o colapso funerário com filas intermináveis nas portas dos IML’s (Institutos Médicos Legais), sobrecarga de trabalho dos legistas, caminhões frigoríficos para armazenamento de corpos e covas sendo abertas durante a noite em cemitérios para atender ao aumento da demanda por sepultamentos.

Entre as categorias de trabalhadores essenciais que mais têm sofrido com a pandemia, estão as trabalhadoras e trabalhadores da saúde. Não é porque estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus que seria inevitável o alto índice de contaminação entre estes profissionais. As várias manifestações e protestos dos profissionais da saúde nas portas da Unidades de Pronto Atendimento e Hospitais de todo o país demonstram que a falta de EPI’s e de testagem em massa são as principais causas do adoecimento e mortes de médicos(as), enfermeiros(as) e técnicos(as) pela covid-19 no Brasil. A fatura dos muitos anos de descaso dos governos com a saúde pública no país está sendo cobrada de forma dramática nesse momento.

A crise econômica e social se agrava

Soma-se à crise sanitária uma forte crise econômico-social que retroalimenta a crise da saúde pública. Com o desemprego em alta, com a diminuição da atividade econômica nas ruas e com a redução de salários e direitos, milhões de trabalhadores não tem como ficar em quarentena, pois o Estado não garante assistência social e renda às famílias que precisam de apoio financeiro para ficar em casa.

Os R$ 600 do auxílio emergencial aprovado no Congresso, embora maior que o valor de 200 reais que o governo pretendia conceder inicialmente, são insuficientes e estão demorando a serem pagos por Bolsonaro. Além disso, a forma caótica como o benefício está sendo gerido coloca em situação de risco de contaminação e de humilhação milhões de pessoas que precisam se aglomerar nas portas das agências da Caixa Econômica Federal.

E mais uma vez vemos que quem mais sofre com os efeitos econômico-sociais e sanitários da crise da pandemia são os segmentos historicamente excluídos e oprimidos – mulheres, negros e negras, LGBT’s, moradores das periferias e sem-tetos, nortistas e nordestinos, indígenas, quilombolas, refugiados etc.

Em resumo, o governo, o Congresso e os grandes empresários despejam o custo principal dessa crise na classe trabalhadora.

Além das demissões em massa, temos redução salarial, perda de direitos e exposição ao risco da doença. Nesta quinta (7), Bolsonaro anunciou que vai vetar o aumento salarial para todas categorias de servidores públicos, incluindo aquelas que estão na linha de frente do combate à pandemia, como enfermeiras, médicos, pesquisadores e professores.

A burguesia e o governo colocam a espada sob a cabeça dos trabalhadores: morrer de vírus ou de fome? A classe trabalhadora deve responder: de nenhum dos dois!

O presidente genocida tem as mãos sujas de sangue

Como se já não bastassem a crise sanitária e a crise econômico-social, o presidente da República promove, com ameaças golpistas, uma crise política e institucional para agravar ainda mais a situação. Enquanto o povo brasileiro luta para sobreviver, conseguir atendimento médico, ter EPI para trabalhar, enterrar um ente querido, Jair Bolsonaro dedica a maior parte do seu tempo a combater as recomendações das autoridades científicas e sanitárias sobre a necessidade do isolamento social.

Combate não só com discurso, mas com ações odiosas: participando de manifestações antidemocráticas que pedem a volta da ditadura e o fechamento do Congresso Nacional e do STF, saindo às ruas sem máscara, cumprimentando apoiadores, xingando jornalistas e atacando ministros, deputados, governadores e prefeitos, a maioria dos quais ex-aliados, com o objetivo de proteger a si próprio e sua família das investigações e suspeitas de crimes cometidos nos últimos anos.

Bolsonaro e suas ideias fascistas são muito piores que o vírus que estamos enfrentando. Seu governo é o principal responsável pela tragédia humanitária em curso e, ao mesmo tempo, é o principal obstáculo para derrotarmos essas múltiplas crises. Desse modo, o enfrentamento a Bolsonaro e o combate ao coronavírus são a mesma luta.

Medidas emergenciais necessárias

Nesse momento, em primeiro lugar, nossa batalha é para salvar vidas. E, para salvá-las, é urgente adotar no mínimo quatro medidas emergenciais:

1. Que seja decretado lockdown (bloqueio rigoroso das atividades econômicas e da circulação de pessoas ao mínimo, ao estritamente essencial) na maioria das cidades para achatar a curva de contaminação e óbitos;
2. Leitos de UTI da rede privada devem obedecer fila única do SUS frente à pandemia.
3. Que haja pesados investimentos em saúde pública para aquisição de insumos, equipamentos, EPI’s, testes em massa, contratação de pessoal, compra de medicamentos, construção de hospitais de campanha;
4. Que o Estado garanta renda mínima digna (1 salário mínimo) para todas as famílias que estão sendo afetadas pela crise econômica para que possam ficar de quarentena. Além disso, as demissões deveriam ser proibidas no país e os direitos trabalhistas preservados. Os lucros dos grandes empresários e banqueiros deveriam ser colocados a serviço da manutenção dos empregos e salários. E o governo deveria socorrer os todos pequenos empresários em crise, para garantir os empregos nos pequenos estabelecimentos.

Os recursos para garantir esse plano emergencial podem e devem vir da taxação das grandes fortunas, dos bancos e da suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes credores. Os podres de rico, isto é, o 1% da população, é que devem pagar pela crise, e não o povo pobre e trabalhador com seus baixos salários e poucos direitos.

A luta pelo Fora Bolsonaro

Mas, para essas medidas se concretizarem, é preciso intensificar, de todos os modos, a luta pelo Fora Bolsonaro. Os partidos de esquerda e os movimentos sociais devem atuar de modo unificado para pressionar o Congresso Nacional e o presidente da Câmara Rodrigo Maia para que pautem o impeachment e instaurem uma CPI mista para investigar as muitas denúncias que pesam sobre ele.

Na sexta (8), a Frente Povo Sem Medo e a UNE farão um dia pelo Fora Bolsonaro. O movimento propõe uma ação ao final do dia que será estender um tecido preto nas janelas simbolizando o repúdio à política genocida de Bolsonaro, repúdio à escalada golpista e de luto pelas vítimas do COVID-19.

Para construir uma alternativa política da classe trabalhadora do Brasil, capaz de implementar este programa emergencial para salvar o país, é fundamental lutar pela antecipação das eleições presidenciais – livres e diretas — e não para que o vice- presidente, General Mourão, assuma. A cúpula das Forças Armadas são um dos principais sustentáculos do governo Bolsonaro e já demonstraram que defendem o mesmo projeto autoritário e neoliberal do atual governo, sendo conivente com as provocações golpistas do presidente.

A alternativa, portanto, não são os militares amantes da ditadura, nem a direita neoliberal que está na oposição. A alternativa tem que ser da e para a maioria do povo brasileiro, que são as trabalhadoras e trabalhadores. A esquerda (PT, PSOL, PCdoB, PCB, UP, PSTU), os sindicatos e centrais, movimentos sociais e de luta contra as opressões, as entidades do movimento estudantil, precisam se unificar em uma Frente Única para lutar juntos pela derrubada de Bolsonaro e Mourão; por um plano emergencial de salvamento do povo; para impulsionar lutas de resistência e ações conjuntas de solidariedade; pela convocação de novas eleições presidenciais antecipadas; e por um governo da classe trabalhadora e da esquerda, com um programa anticapitalista e sem alianças com a direita.

A coragem das enfermeiras, que no ato do 1o de maio em Brasília enfrentaram e derrotaram os agressores bolsonaristas, deve inspirar a todos. Novas ações como essa precisam se espalhar pelo país. A força das trabalhadoras e trabalhadores que estão na linha de frente e as ações de solidariedade em tantos lugares constróem a esperança em tempos sombrios. Vamos à luta, pela vida!

 

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