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OPRESSÕES

A coragem das enfermeiras contra a misoginia do Ministério da Mulher

Sonara Costa, do Rio de Janeiro, RJ
Reprodução / Wikipedia

No Primeiro de Maio, profissionais da saúde do Distrito Federal protagonizaram um emocionante ato que pretendia chamar atenção para as mortes de colegas pelo Covid-19. Durante a manifestação, não por acaso, foram as mulheres que sofreram os ataques mais cruentos, vindos de bolsonaristas cujo trabalho é blindar o presidente, violentamente se necessário.

A misoginia é uma característica das milícias bolsonaristas. O fato de ter vindo a público que Renan Sena – um dos agressores das enfermeiras – trabalhava no Ministério da Mulher, sob a chefia de Damares Alves, é mais um elemento que desnuda a natureza desse governo. 

Apesar da pouca atenção que recebe da imprensa, a ministra Damares Alves cumpre um papel essencial no governo neofascista. Pertencente ao núcleo fundamentalista, sua pasta promove uma guerra permanente contra o avanço das reivindicações feministas. 

Diariamente suas publicações e declarações martelam idéias conservadoras sobre família, sexo, e papeis sociais. Campanhas, como #BrasilAcolhedor, exploram e estimulam o trabalho gratuito de mulheres por meio da filantropia, contrapondo-as as políticas sociais. Peças publicitárias como a #TudoTemSeuTempo buscam criar uma padronização artificial que naturalizam comportamentos masculinos e femininos, atribuindo às mulheres um lugar de subalternidade e passividade. A ultima campanha anunciada pretende aprovar o ensino domiciliar, pauta antiga de obscurantistas, que em meio a pandemia pode se impor. 

Uma pretensa vocação para o cuidado justifica os salários mais baixos, e direitos mais restritos, nas categorias onde as mulheres são maioria. São serviços essenciais, como a crise está demonstrando, mas as horas das jornadas, o reconhecimento e remuneração não devem comprometer a divisão dos lucros. 

O ato em Brasília demonstrou o poder da ação coletiva e da solidariedade. E esta lição pode inspirar outros que todos os dias se arriscam num setor que no ano passado bateu recorde de fusões entre operadoras, hospitais, clínicas, e laboratórios. Um negócio multimilionário, majoritariamente sustentado pelo trabalho feminino.

As agressões contra mulheres que deveriam ser combatidas pelo Ministério são, ao contrário, fruto de sua política. Com a repercussão do caso, Damares Alves busca se desvincular de seu subordinado, no entanto, ele é apenas uma peça que move a engrenagem misógina de seu Ministério. 

 

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