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BRASIL

Covid-19: um fim de semana trágico no Ceará

É hora de mais atenção, seriedade, consciência e solidariedade

George Pinheiro, de Fortaleza (CE)
Divulgação Governo do Estado

O final de semana no Ceará, especialmente em Fortaleza, foi o pior desde o início da pandemia. Foram 50 mortos contabilizados de sábado para domingo. Provavelmente, os números de domingo para segunda, devem manter a tendência em curso. No total, já são 6.260 casos confirmados de Covid19 no Ceará e 376 mortos.

Porém se levarmos em conta os cálculos do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, formado por cientistas da PUC-RJ, Fiocruz e Instinto D’or, os quais estimam uma subnotificação em 12 vezes dos números oficiais, teríamos cerca de 75 mil pessoas infectadas no Ceará. A ampla maioria em Fortaleza, que concentra quase 90% dos casos e perto de 80% dos óbitos. Em Fortaleza, 98% dos leitos de UTI já estão ocupados e, no estado, esse índice chega a 77%, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

A situação é crítica também em outras cidades. Euzébio, na Grande Fortaleza, figura como a terceira cidade do país, com mais óbitos, proporcionalmente. Eram 11,3 mortes por cada 100 mil habitantes, na quinta-feira, dia 23 de abril, antes desse final de semana trágico.

Neste sentido, uma catástrofe sem dimensões pode estar se desenhando, principalmente nas periferias. No entanto, ela pode ser evitada ou diminuída.

Qualquer afrouxamento na quarentena agora é brincar com fogo.

A não prorrogação na íntegra do decreto estadual de isolamento, caso isso se dê no dia 05 de maio, seria uma medida irresponsável e criminosa, pois estenderia o pico de contaminação por mais tempo, como aconteceu na Itália e Espanha.

Flexibilizar a quarentena, nesse momento, é apostar num cenário com gente morrendo sem ar na porta dos hospitais.

A rigor, um novo decreto estadual, em comum acordo com a prefeitura municipal, restringindo mais atividades, aumentando o isolamento social e garantindo medidas de proteção de renda, deveria também apontar para a redução da frota de ônibus e obrigar as empresas do setor a fornecerem máscaras e álcool em gel para todos motoristas, cobradores e cobradoras.

É preocupante a forma como a COVID 19 avança sobre  os e as trabalhadoras rodoviárias. O Sintro, sindicato que representa o(a)s profissionais do transporte público na Grande Fortaleza, vem cumprindo um papel heróico todos os dias nos terminais. Infelizmente, dois diretores sindicais já desenvolveram a COVID 19.

É importante levar em conta que Fortaleza é a capital brasileira de maior densidade demográfica. São 7.786,52 habitantes por Km2, conforme o último censo de 2010 elaborado pelo IBGE.

A maioria vivendo em domicílios com poucos cômodos localizados nos bairros periféricos da cidade, principalmente nas regionais I, III e V.

A geografia de Fortaleza – com terrenos planos, casas esprimidas umas nas outras e habitadas por muita pessoas – facilita a disseminação do vírus.

A região da Grande Barra do Ceará, um dos bairros mais populosos de Fortaleza, localizada na regional I, é um exemplo do que estamos falando. Lá, levando em conta os números oficiais, a taxa de mortalidade por COVID 19 é de 28,5%, muito acima da média estadual de 6%.

Na contramão da prudência, entidades patronais – como a CDL, Fecomércio e FIEC – elaboraram planos de flexibilização da quarentena. Estão botando muita pressão em cima do governador Camilo Santana.

Esses setores estão preocupados com os lucros, e não com a vida de seus e suas funcionárias.

Existe outro caminho possível. Nossa aposta tem que ser em defesa de todas as vidas.

É hora de exigir agilidade na liberação da renda mínima, a continuação da isenção das contas de água/luz para população de baixa renda, linhas de  crédito para os pequenos e medios negócios, além de  taxar as grandes fortunas dos supermilionários do Brasil.

Precisamos também tentar fazer a nossa parte em cada bairro.

Igrejas, terreiros, grupos de oração, associações de moradores, sindicatos, escolas, grupos de cultura, de jovens, grupos de terceira idade, de mulheres e movimentos populares podem, pelas redes sociais (whatsapp, Facebook e Instagram), ser fundamentais para convencer cada rua e cada quebrada a fazer um isolamento mais sério, redobrar os cuidados com a higiene pessoal, organizar iniciativas de produção de máscaras de pano baratas, ajudar a encaminhar pessoas com  sintomas da COVID 19 para o sistema de saúde e promover ações de solidariedade.

É hora de cuidar de si, do outro, de consciência e ação popular em defesa da vida.

Hora também de conversar e pressionar o governador Camilo Santana pela prorrogação do decreto de isolamento.