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BRASIL

Podemos viver sem futebol. Podemos viver sem festa e abraços. Mas é isso que queremos?

Flor Midi, de Belém, PA
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Estando na maior crise humanitária do século XXI, causada pelo alastramento do novo coronavírus em escala global e, sobretudo, pela falta de resposta eficiente de um sistema que é construído para gerar lucros em detrimento de vidas, as mudanças nas rotinas causam desconforto e questionamento sobre o que é realmente essencial para nossa vida e felicidade. O capitalismo, como uma engrenagem que se alimenta dessa geração de mais valor sobre o trabalho, transforma tudo em mercadorias e fetichiza para que ganhem funções mágicas e tornem-se  imprescindíveis e caras.

Mercados inteiros foram profundamente abalados com a intensificação da pandemia. O do entretenimento se adequa e converte grandes espetáculos musicais em lives transmitidas das casas dos artistas. O futebol, tão investido como espetáculo, por mobilizar as massas de parte dos países do planeta, não consegue adequação no novo cenário de isolamento social. Justamente porque sua função ultrapassa qualquer projeção do capital. O futebol é esporte, no sentido de dinâmica e desenvolvimento do corpo e da técnica. É arte, como expressão da criatividade e talento humanos. Mas é como potência de unidade social que revela sua natureza de insubordinação. O futebol só sobrevive no coletivo! Precisa de suor e contato para ter sentido. E não se trata da disputa entre duas equipes de 11 na defesa e ataque ao gol. Falamos da construção entre o jogo e a arte de conviver com as identidades e oposições; com a relação dos conflitos e harmonias com desconhecidos, da intimidade de torcer que conecta e provoca as sensações que revelam quem somos. Somos sujeitos escalados à convivência e para a festa.

Não sairemos dessa crise da mesma forma. Contudo, não há garantias de vitórias nessa partida, a bola está rolando e depende de cada um/a de nós armar a jogada para o gol que representa uma nova relação com tudo que nos cerca. O futebol precisa ser compreendido como direito ao lazer, combatendo a lógica privatista dos clubes, dos patrocínios e dos direitos de transmissão são essenciais à sua democratização. A luta não é para construir mais hospitais e menos estádios. A luta é para construir hospitais, escolas e estádios públicos com acesso para todos e todas! Precisamos de assistência médica pública, gratuita e de qualidade para voltar a abraçar, chorar ou festejar a magia viver uma partida de futebol.

Lutar contra o fascismo e o capitalismo para construir um futuro de abraços é urgente!

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coronavírus / futebol