Em meio a uma das maiores crises enfrentadas pela humanidade, o ministro da Educação resolve rifar a vida do(a)s estudantes, professore(a)s e técnico(a)s das universidades públicas, Institutos Federais e Cefet. É a demonstração de que a política genocida do governo Bolsonoro tem que ser seguida à risca pelos seus ministros. Em entrevista no dia 19/04, Weintraub afirmou “as universidades que estão mantendo as atividades serão premiadas”.
Ao afirmar que as universidades, Institutos Federais e Cefet precisam voltar às atividades, Weintraub desconsidera que grande parte dessas instituições de formação não estão paradas, pois inúmeros professore(a)s, pesquisadore(a)s e estudantes têm se dedicado dia e noite na produção de pesquisas, confecção de material e aprofundamento de estudos para o combate ao novo Coronavírus. As universidades públicas continuam com essas atividades que significam acúmulo de anos investidos em ensino, pesquisa e extensão.
A balbúrdia que a universidade pública produz está expressa na formação dos competentes profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate a COVID-19; está nos ilustres pesquisadores que estão no laboratórios estudando o vírus, um tratamento e uma vacina; está ainda nos valorosos estudantes que mesmo em condições adversas têm promovido ações de solidariedade e ajudado na produção de máscaras, álcool em gel e material de limpeza para doação; está ainda nas ações dos professores e professoras que tem continuado o processo educativo levando aos estudantes textos, poesias, reflexões e informações na compreensão de educação no sentido amplo e emancipatório.
O ministro ainda chantageia as universidades com analogia a uma passagem bíblica “há joio e há trigo” para separar as universidades que vão manter a indicação da Organização Mundial de Saúde (OMS) do isolamento social e as que vão manter as aulas e demais atividade e, por isso, serão premiadas.
A declaração do ministro de que as atividades devem ser mantidas nas universidades revela o total desconhecimento sobre a dinâmica das instituições de ensino superior, onde diariamente circulam milhares de estudantes e trabalhadore(a)s. Como exemplo, sou professora de uma universidade estadual no interior do Rio Grande do Norte, a UERN, e nesta universidade circulam por dia cerca de dez mil estudantes. Imaginemos os grandes centros de formação como UFRJ, USP, UnB, Unicamp, pra citar somente alguns. Quantas pessoas estão diariamente nesses espaços?
Ao afirmar a necessidade de retorno às atividades, o ministro põe em risco não somente as(os) estudantes, mas todas as suas famílias, não leva em consideração ainda que para chegar nas universidades esses estudantes enfrentam ônibus e/ou metrô lotados, o que aumentaria ainda mais o risco de contaminação. Ou o senhor ministro acha que todos vão para a universidade de carro próprio?
A preocupação do MEC nesse momento deveria ser em como as universidades poderiam contribuir para salvar vidas e não o contrário, que é levar ao risco a milhares de pessoas. A proposta de premiação para estabelecer um ranking nas universidades não é novidade, mas é assustador que o prêmio agora venha acompanhado da morte. O Ministério da Educação deveria estar mais preocupado nesse momento em ampliar os recursos para a educação pública, em reverter o teto de gastos para a educação e pensar formas de salvar esse grande patrimônio composto pelas universidades públicas, os Institutos Federais e Cefet. É importante lembrar que a partir da EC 95/2016 os recursos para a educação pública foram congelados por 20 anos, além dos constantes contingenciamento e/ou corte de recursos da educação. Inúmeros têm sido os ataques do ministro à Educação que, de modo infundado e grotesco, tentam passar uma imagem de decadência das universidades públicas, Institutos Federais e Cefet. E agora ministro a sua preocupação é com a volta à “normalidade” nas universidades?
Por fim, o ministro afirma que “os estudantes parados devem se organizar e pressionar reitores/diretores por aulas a distância. Vocês são adultos! Lutem pelo seu futuro!” Nós que temos responsabilidade com a formação de novos profissionais e com a vida de todas as pessoas vamos continuar a dizer aos nossos estudantes: lutem por uma educação pública, gratuita e presencial que garanta uma formação ampla e de qualidade; mobilizem suas famílias em defesa da proteção das suas vidas, o que, nesse momento, somente o isolamento social garante.
Propor a substituição das aulas presenciais agora por aulas a distância é um desrespeito às(aos) estudantes e professore(a)s. É um faz de conta para garantir a carga horária sem considerar todas as condições físicas, psicológicas, materiais e tecnológicas do(a)s professore(a)s, estudantes e suas famílias. Ademais, essa lógica produtivista que impõe às universidades o cumprimento de metas quantitativas é radicalmente contrária a essência da educação que é pautada pela produção de conhecimento. Parafraseando Platão “Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida”. Já ficou evidenciado que para o governo Bolsonaro/Mourão e seus ministros o importante é garantir o lucro e, desse modo, se escondem atrás da crise para dizimar a vida.
*Professora da Faculdade de Serviço Social da UERN
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