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Colunas

Solidariedade é uma palavra plural

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Este é um texto feito no plural. Solidariedade é uma palavra plural, de ação prática coletiva. Ao ficarmos sabendo que muitas famílias dos nossos alunos estavam passando necessidades por estarem sem trabalho e ainda por cima sem a merenda, nós, professores e funcionários da EMEF Anália Franco decidimos nos organizar pra arrecadar dinheiro, comprar e distribuir cestas básicas para as famílias. O trabalho foi coletivo, desde a cotação dos produtos da cesta, arrecadação, ligar para as famílias, organizar os endereços, etc. Contamos com a ajuda do @alessandro_rubens professor da Emef Zacarias que dirigiu sua perua e que já está fazendo este mesmo trabalho na sua escola e também do Marcos, educador popular que nos ajudou na distribuição.

Fomos em pensões, cortiços e comunidades. A maioria das casas são moradias coletivas em situação muito precária. Em nenhum desses lugares haviam casos de pessoas infectadas e espero que o vírus não chegue lá, porque quando chegar, todos vão pegar devido à quantidade de pessoas que moram num mesmo espaço. Tem lugares que eu entrei, que é melhor a quarentena fora do que dentro de casa. A falta de moradia digna no Brasil deveria ser a maior preocupação dos governantes. Seria a hora da construção de milhares de casas populares, junto com os hospitais.

Mas além de refletir sobre a realidade dura da vida de quem vive em condições de extrema vulnerabilidade, vivi toda uma parte afetiva no dia de hoje. Pude reencontrar meus alunos e ficar ainda próxima, conhecendo suas famílias e suas quebradas.

Também estive perto de um povo que mesmo passando apertos, é muito honesto e solidário. Quando paramos a perua na favela do Belém pra perguntar onde achávamos as pessoas, vieram várias pessoas nos ajudar. Elas entravam nas vielas e traziam as mães dos alunos. Ninguém mentia que tinha filho na escola só pra ganhar a cesta. Algumas disseram: aquela mulher não tem filho na escola, mas ela tem 3 filhos e precisa muito. Pra estas oferecemos cestas também, não tinha como dizer não.

Por fim, algumas pessoas podem achar que isso é assistencialismo. Eu digo que não, que é solidariedade! E é extremamente necessária para que possamos ouvir e ser ouvidos!

 

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