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BRASIL

Dez medidas para garantir o pagamento da renda emergencial preservando vidas e sem filas

Bancários vão lutar contra muito mais que uma “gripezinha”

Travessia Bancária
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Estamos provavelmente frente à maior crise sanitária e econômica da humanidade desde a 2a Guerra Mundial. Os bancos públicos serão novamente chamados a cumprir seu papel social. Saem de pauta o desmonte e a privatização fatiada da Caixa, do Banco do Brasil e das demais empresas públicas, como os Correios. Derrete a política de Paulo Guedes de liquidação total do patrimônio público. Entra na pauta a pergunta: como salvar vidas e fazer o socorro financeiro chegar a quem de fato precisa?

Paga logo, Bolsonaro!

Enfim houve a sanção do auxílio emergencial no valor de R$ 600 para trabalhadores informais de baixa renda. Embora o valor seja insuficiente, fará muita diferença para estes trabalhadores, que já enfrentam uma situação dramática, lutando todos os dias por sua sobrevivência.

O governo, através do Ministério da Cidadania divulgou que pretende efetuar o pagamento somente a partir do dia 16 de abril. Os trabalhadores não podem esperar tanto tempo. Bolsonaro, que continua subestimando os impactos da pandemia e agindo contra as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e demais autoridades, precisa liberar imediatamente o pagamento da renda emergencial aos trabalhadores.

Para completar, Bolsonaro vetou 3 artigos da lei, 2 dos quais reduzindo o alcance da medida. Isso também não pode servir para postergar ainda mais o pagamento. Que o Congresso derrube os 2 vetos paralelamente ao pagamento de quem já tem seu auxílio aprovado.

Os funcionários da Caixa Econômica Federal aguardam a operacionalização da medida, cientes do importante papel que cumprirão e, ao mesmo tempo, com apreensão. A força dos trabalhadores do Banco do Brasil pode ajudar.

A vida acima de tudo. Ajuda financeira para quem realmente precisa.

A experiência do pagamento das contas inativas do FGTS durante o governo Temer fornece pistas para pensarmos como deve ser feito o pagamento do novo auxílio. Em 2017, foram 25,9 milhões de brasileiros beneficiados, com filas de 3h em média. A previsão é que sejam 100 milhões de beneficiários desta vez. Ou seja, quase o quádruplo. Caso o atendimento seja feito nos mesmos moldes, haverá colapso. A ajuda dos colegas do Banco do Brasil e outras instituições será necessária.

A Caixa é, sem dúvida, o melhor agente financeiro para realizar o pagamento, pela experiência de seus trabalhadores, capacidade sistêmica, capilaridade de rede e tecnologia instalada. Mas desta vez tem que ser diferente e melhor. Criar aglomerações pode ser um tiro pela culatra no combate aos efeitos da epidemia. Neste sentido, nós, bancárias e bancários, gostaríamos de apresentar 10 propostas, considerando a experiência dos funcionários da Caixa que estiveram na linha de frente dos últimos atendimentos massivos:

 

1) O pagamento deve ser feito JÁ via crédito em conta. De qualquer banco. Todos os bancos devem compartilhar, imediatamente, sua base de contas ativas para que realizemos o crédito em conta para o maior número de pessoas. Os bancos devem ser proibidos de descontar, do valor liberado, juros, parcelas de empréstimos ou débitos de qualquer natureza.

2) A biometria capturada pela justiça eleitoral deve ser empregada para o pagamento automático daqueles que não possuírem conta bancária. Para não haver filas nos caixas automáticos da Caixa, sugerimos que a biometria seja usada para pagamento na rede do Banco do Brasil (já existe tecnologia de compartilhamento de rede) e também via Banco24Horas, que possui interligação com a rede bancária.

3) Para aqueles trabalhadores que não se enquadrarem nas alternativas acima, que o cadastramento de senhas sociais seja feito de forma eletrônica, ou, em último caso, na Caixa e no Banco do Brasil, de forma escalonada. Outra possibilidade seria realizar agendamento eletrônico de atendimento para evitar aglomerações ou filas desnecessárias. Teleatendimento, em call centers, já se mostrou ineficiente e perigoso, dada a exposição que este tipo de trabalhador sofre também em seus pontos de atendimento (P.A.’s).

4)A quarentena deve ser a regra até que haja, comprovadamente, o achatamento da curva de contaminação. Neste sentido, não cabe o atendimento de demandas não emergenciais em nenhuma agência bancária, muito menos a cobrança de metas. Realizar o atendimento de serviços não essenciais agora vai impedir que a Caixa, BB e demais bancos cumpram o papel de distribuir as medidas anticrise no futuro breve. Já são inúmeras agências fechadas e funcionários afastados com suspeita ou comprovada infecção. Caso a situação se agrave, quem pagará os benefícios?;

5) Rodízio semanal entre funcionári@s (semana sim, semana não) para reduzir a exposição. Recepcionistas terceirizad@s devem entrar no rodízio semanal também. Garantia de trabalho remoto para colegas em maior risco;

6) Equipamentos de proteção como luvas, máscaras, álcool em gel para funcionári@s e terceirizad@s, barreira de acrílico ou vidro nos guichês de caixa e nas mesas de atendimento e vestimenta com proteção apropriada para quem estiver no auxílio ao autoatendimento.  Nenhum trabalhador deve ser infectado e servir de vetor por prestar atendimento;

7) Massificação dos testes. Até que isso ocorra, deve ser garantida a realização de testes em  bancárias e bancários da Caixa, Banco do Brasil e terceirizad@s. A contaminação entre funcionários também pode inviabilizar o atendimento futuro;

8) Contratação de funcionári@s para a Caixa e Banco do Brasil, com base no último concurso realizado. No caso da Caixa, a contratação de mais 1 funcionário por agência custaria cerca de R$400 milhões anuais, menos de 3% do lucro recorrente anual da instituição. Esses braços serão necessários para a situação emergencial, mas também para a viabilidade dos planos de recuperação da crise econômica. Na Caixa, há R$60bi em capital de giro para socorro a pequenas empresas. Quem cuidará da aprovação e liberação do crédito, adequação de sistemas, atendimento e suporte ao atendimento?;

9) O plano de saúde dos funcionários da Caixa (Saúde Caixa) deve ser garantido para todos os funcionários, de forma igualitária. Funcionári@s recém contratad@s, várias pessoas com deficiência, estão sem cobertura, o que é absurdo. Frente à pandemia, também é necessário que seja abolido o teto de gastos do Saúde Caixa, de 6,5% sobre a folha. Da mesma forma, o plano de saúde dos funcionários do Banco do Brasil (Cassi) deve ser reforçado com cobertura pelo banco dos seus déficits;

10) Dinheiro para os pobres, não para os banqueiros. O pacote com recursos próprios anunciado pela Caixa totaliza R$110 bi, sendo R$60 bi para socorro a pequenas empresas e R$40 bi para a compra de carteiras de bancos em dificuldade. Em vez de comprar carteiras podres de bancos em dificuldade, que a Caixa incorpore esses bancos. Chega de privatizar. As medidas de aprofundamento do capitalismo (neoliberalismo, ultraliberalismo) só levaram ao caos e à falta de amparo aos mais pobres. É hora de estatizar para conter a crise e ampliar o alcance das políticas públicas, como a Europa tem feito com os hospitais. As eventuais perdas da Caixa e do BB decorrentes das medidas anticrise devem ser bancadas pelo tesouro.