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Colunas

Bolsonaro: Governo militar ou paramilitar?

Marcelo Camargo/Agência Brasil

O general, durante ocupação militar na Segurança do Rio de Janeiro

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Em um momento onde fica cada vez mais difícil para Bolsonaro esconder as relações estreitas de sua família e de seu projeto político de extrema direita neofascista com ex-policiais que integram – e até chefiam – as milícias do Rio de Janeiro, assistimos a grande possibilidade da ascensão de mais um general para o primeiro escalão do governo, agora para a Casa Civil.

A morte do miliciano Adriano da Nóbrega, suposto chefe de uma antiga milícia, numa ação conjunta das polícias militares da Bahia e do Rio de Janeiro, trouxe a público novamente as relações estreitas de Flávio Bolsonaro, o filho 01 do atual presidente, e do próprio Jair Bolsonaro, com este conhecido criminoso, um espécie de chefe de uma organização de “matadores de aluguel”. É parte desta mesma milícia, conhecida como “escritório do crime”, o também ex-policial e conhecido miliciano Ronnie Lessa, que se encontra preso por ter sido o responsável pelos disparos que executaram brutalmente a Vereadora Marielle Franco (PSOL carioca) e seu motorista Anderson Gomes.

O assunto não vem só ganhando destaque em parte da grande imprensa, mas chegou também na Câmara dos Deputados. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que presidiu a CPI das milícias na Assembleia Legislativa do RJ, fez um forte discurso na tribuna da Casa demonstrando de forma cabal as relações da família Bolsonaro com este nefasto crime organizado.

No mesmo dia, o também deputado federal do PSOL-RJ, Glauber Braga, questionou de forma veemente Sérgio Moro, ministro da Justiça do governo Bolsonaro, durante uma Audiência Pública, sobre a verdadeira blindagem que ele vem promovendo para evitar a investigação das relações da família Bolsonaro com as milícias. A referida comissão terminou seus trabalhos depois que deputados ligados ao bolsonarismo, e apoiadores do ministro, partiram para baixaria contra Glauber, mais uma vez.

Durante o dia, também veio a público a possível troca no importante Ministério da Casa Civil. Sem um anúncio formal, parece praticamente certa a troca do atual Ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS), um antigo político da direita tradicional, pelo General Braga Netto, atual chefe do Estado Maior do Exército, segundo cargo na hierarquia desta força armada.

Um general na Casa Civil?

Braga Netto chefiou recentemente a intervenção federal e militar na área de Segurança Pública do Rio de Janeiro, durante o governo ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP), quando as mortes geradas por agentes de segurança deram um salto. Ele já tinha sido chefe da segurança durante as Olimpíadas de 2016 e adido militar nos EUA. Conhecido como um general “linha dura”, ele é apresentado como um nome que viria para “disciplinar” as ações do governo Bolsonaro.

Além do desatino de ver um general ocupando a Casa Civil de um governo federal, o que não acontece desde os tempos sombrios da ditadura, quando Golbery ocupou o mesmo cargo, caso seja confirmada esta troca de ministros, o fato demonstra mais uma vez o fortalecimento da cúpula das forças armadas, especialmente do Exército, na composição do atual governo.

Dos 22 ministros, ele seria o oitavo com origem direta na área militar. Sem contar outros que em algum momento da vida já passaram pelas forças armadas. Caso confirmada a indicação de Braga Netto para a Casa Civil, todos os ministros da chamada “cozinha do governo”, que despacham diretamente dentro do Palácio do planalto, teriam origem em alguma força militar, seja no Exército, na Marinha ou em uma Polícia Militar.

Se olharmos superficialmente o assunto, pode parecer que eles não guardam nenhuma relação. Mas, um olhar mais de perto, veremos a demonstração nítida de que diante de alguma crise interna de governo ou de dificuldades com temas delicados com a opinião pública, Bolsonaro sempre recorre a sua origem militar e a sua aliança com a alta cúpula das forças armadas, especialmente com o Exército.

Brasil não vive uma normalidade democrática. Qual o papel da esquerda?

Não deveria ser encarado com normalidade o grande peso que a elite das forças armadas possui no atual governo, hegemonizado por um projeto de extrema direita neofascista. Nosso país viveu há pouco mais de três décadas o fim de uma ditadura militar, que marcou de forma profundamente negativa a nossa história recente.

Vários dos Generais e outros militares, que atualmente compõem o governo, são identificados com a defesa do legado autoritário e perverso dos anos de chumbo da ditadura e com os priores crimes deste período. A começar pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que é um assumido adorador do torturador e criminoso Coronel Brilhante Ustra e, também, pelo vice-presidente general Hamilton Mourão.

Diante deste fato, não devemos dar pouca importância as constantes ameaças de expoentes do governo e do bolsonarismo, de usar uma espécie de novo “AI-5” para reprimir violentamente possíveis protestos populares, que assistimos recentemente em vários países latino americanos, que questionem a aplicação de sua agenda econômica neoliberal e seus ataques constantes às liberdades democráticas.

As grandes empresas e bancos, e seus representantes políticos da velha direita, podem até reclamar de exageros autoritários de Bolsonaro e sua turma, mas no fundamental apoiam este governo neofascista, especialmente pela agenda ultra neoliberal de retirada de direitos sociais, privatizações e a desnacionalização da economia. Um grande símbolo deste fato é o apoio esfuziante que a FIESP vem dando a Bolsonaro.

Da mesma forma, a Justiça vem demonstrando seu papel reacionário, atacando de forma sistemática as mobilizações e greves que vêm ocorrendo, como vemos na brutal criminalização da heroica greve dos petroleiros, desferida tanto por ministros do TST como do STF.

Portanto, está fundamentalmente nas mãos do povo trabalhador, dos explorados e oprimidos, a defesa não só dos direitos sociais como também das mínimas liberdades democráticas.

Erram os setores da esquerda que apostam numa nova aliança política com o chamado “centro político”, uma tal frente ampla progressista, repetindo a requentada conciliação de classes, que só prepara novas derrotas.

A luta é agora, é um grave erro esperar meramente as eleições deste ano e de 2022 para fortalecer a oposição a Bolsonaro e seus aliados. Apesar de todas as dificuldades, não existem atalhos: a saída é apostar na organização e mobilização da maioria do povo.

Além de apoiar as greves e mobilizações, Lula, o PT, a CUT e demais entidades sindicais e movimentos sociais devem convocar um encontro nacional da classe trabalhadora, da juventude e dos oprimidos, para armar e fortalecer as lutas de resistência ao governo neofascista: Derrotar o governo Bolsonaro nas ruas.