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Fiesp e Bolsonaro: uma aliança contra o Brasil e o povo trabalhador

Os movimentos sociais e a esquerda não devem acreditar mais uma vez na existência de setores progressivos na burguesia brasileira

Isac Nóbrega/Divulgação Presidência da República

Paulo Skaf, em jantar com Bolsonaro, em outubro de 2019

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

O apoio esfuziante e acrítico de Paulo Skaf, há 16 anos presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), ao governo de Jair Bolsonaro não chega a gerar surpresa, mas merece uma reflexão, principalmente diante do atual momento político com o início do segundo ano deste governo ultra neoliberal e radicalmente autoritário.

Ele expressa o apoio absolutamente majoritário da elite empresarial do país ao governo neofascista e sua agenda reacionária de retirada de direitos sociais, ataque ao meio ambiente, entrega da soberania, privatizações, entre tantos outros ataques aos explorados e oprimidos.

Para o grosso dos grandes empresários e banqueiros não existe contradição entre a aplicação deste neoliberalismo extremado e destruidor da economia nacional, bem expresso pela figura sinistra do ministro da Economia, Paulo Guedes, com a escalada autoritária contra as liberdades democráticas desferida pelo projeto de extrema direita neofascista que hegemoniza o atual governo.

Outra demonstração desta aliança da burguesia com o projeto político mais reacionário existente no país é a promoção e ascensão na direção da Fiesp de representantes diretos da alta cúpula das forças armadas, defensora, na sua maioria, do legado dos anos de chumbo da ditadura militar.

Para que não reste nenhuma dúvida desta verdadeira aliança contra o povo trabalhador brasileiro, Paulo Skaf já está preparando para o dia 03 de fevereiro, na sede da Fiesp, um almoço de gala, para levar o apoio de grandes representantes desta elite empresarial privilegiada brasileira ao presidente deles: Jair Bolsonaro.

Sem ilusões

Durante o ano passado, setores políticos de oposição, inclusive da esquerda, chegaram a acreditar que diante do evidente projeto autoritário de Bolsonaro, importantes setores da burguesia – que chegaram a colaborar com os governos petistas de conciliação de classes, depois apoiaram o golpe do impeachment de Dilma e estiveram na sua maioria no apoio da candidatura tucana de Alckmin no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 – poderiam se colocar em oposição ao atual governo.

Esta hipótese definitivamente não se confirmou na realidade. Skaf expressa como ninguém o apoio das grandes empresas e bancos ao atual governo e sua agenda econômica. Inclusive, a tímida reação contrária de setores importantes do empresariado ao movimento político do presidente da Fiesp de apoio ao governo, inclusive com sua aproximação com a dita Aliança pelo Brasil – partido que está sendo construído pelo bolsonarismo, demonstra que existe hoje uma aliança consolidada da esmagadora maioria da burguesia brasileira com o projeto que está sendo aplicado pelo governo neofascista de Bolsonaro.

Em alguns momentos, é até possível até identificar um desconforto em setores da burguesia com as medidas e declarações mais absurdamente autoritárias e até fascistas do “capitão” e alguns expoentes de seu governo. Mas, diante deste possível desconforto, o máximo que se observa é alguma declaração tímida, que não consegue esconder que no fundamental o que prevalece é o apoio ao governo.

Ou seja, para os ricos e poderosos, se os ataques às mínimas liberdades democráticas é o preço a ser pago pela maioria da população para aplicação das medidas econômicas de cunho duramente neoliberal, que destrói os direitos sociais e garante os seus lucros exorbitantes, que seja feito então. De fato, o andar de cima já se decidiu: para garantir seus privilégios, todos perfilados atrás do “capitão” e de seu fiel escudeiro Paulo Guedes.

Acreditar que nossa saída é apostar novamente numa aliança com o centro político dos partidos da velha direita, expresso em figuras como do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), ou se aproximando politicamente do artista da Globo e aspirante a presidente Luciano Huck, como vem defendendo o atual governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é repetir os mesmo erros cometidos pelos governos de conciliação de classes do PT.

Frente Única dos explorados e oprimidos

Objetivamente, está nas mãos do conjunto do povo trabalhador, da juventude e dos mais oprimidos a tarefa de construir uma contundente oposição ao projeto neofascista que se instalou no governo. A saída do andar de baixo é apostar na organização e na mobilização, para derrotar o governo Bolsonaro nas ruas.

Essa tarefa não é fácil, como vimos em 2019. Mas, não existem atalhos. Não serão as grandes empresas e bancos, ou a maioria corrupta e reacionária do Congresso Nacional e do Poder Judiciário, que vão fazer parar a escalada autoritária do bolsonarismo e aplicação de sua agenda econômica neoliberal de destruição dos direitos sociais.

O que precisamos fazer é aprofundar e fortalecer o que já fizemos no 15M e 30M, manifestações nacionais que tiveram como principal bandeira a defesa da educação pública, e que foram o ponto alto em 2019 da resistência nas ruas ao projeto bolsonarista.

Neste processo de retomada das mobilizações, devemos estar dispostos a construir toda e qualquer unidade de ação contra os ataques do bolsonarismo às liberdades democráticas, com todos aqueles que de fato, e como medidas concretas, de oponham ao projeto neofascista que governo o país.

Mas, a prioridade deve ser cada vez mais organizar e mobilizar a maioria do povo. Precisamos de uma verdadeira Frente única de luta dos explorados e oprimidos, que una os movimentos sociais, as centrais sindicais e sindicatos, os movimentos de luta contra as opressões, a juventude, os partidos de esquerda, para lutarmos conjuntamente para inverter a atual correlação de forças desfavorável.

Uma informação positiva é a indicação de um novo dia nacional de luta em defesa da educação, para o próximo dia 18 de março, apontado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Esta data deve ser encarada como uma referência para a retomada de uma agenda nacional e unificada de mobilizações.