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“Pedaladas fiscais” de Bolsonaro chegam a R$ 55 bilhões, mas nada acontece

Justificativa golpista para o Impeachment de Dilma, quando praticada pelo atual governo sequer mereceu atenção relevante da imprensa e do Congresso Nacional. A esquerda precisa tirar conclusões deste fato

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Há quase quatro anos, a grande imprensa, os partidos da velha direita e o chamado “mercado”, com o PSDB do corrupto Aécio Neves a frente, faziam um grande alarde sobre as ditas “pedaladas fiscais” da ex-presidenta Dilma (PT), apresentando este fato como a grande justificativa para o processo de impeachment, que acabou sendo consumado.

As ditas “pedaladas fiscais” de Dilma foram chamadas de manobras contábeis na execução orçamentária de empresas estatais e do próprio governo. Segundo a acusação, no governo da ex-presidenta ela teria sido praticada nos anos de 2013 e 2014, com os valores de 36,07 bilhões de reais e 52 bilhões de reais respectivamente.

Entretanto, nesta semana, veio a público que Bolsonaro, em 2019, seu primeiro ano de governo, utilizou da mesma prática, num valor de 55 bilhões de reais, montante ainda superior a acusação contra Dilma e superior também ao limite permitido.

É incrível, e um verdadeiro absurdo, que a prática das tais “pedaladas fiscais” por Bolsonaro não tenha tido uma repercussão relevante na mídia, no “mercado” e no chamado mundo político, especialmente no Congresso Nacional. Afinal, ela foi considerada um crime político, motivação jurídica e política principal para justificar o processo golpista do Impeachment de Dilma.

O absurdo é tanto, que o Jornal Valor, ligado as organizações Globo, um veículo que deu a notícia de forma tímida, chamou a “pedalada fiscal” de Bolsonaro de “drible”, em flagrante tentativa de dar algum sentido positivo a ação do governo, minorando as repercussões do fato.

O pouco caso dos ricos e poderosos diante das “pedaladas fiscais” de Bolsonaro não chegam a surpreender. Afinal, é apenas mais uma expressão do apoio que o dito “mercado” vem dando ao atual governo.

As grandes empresas e os bancos podem até fazer algumas reclamações pontuais em relação ao atual governo, de seus exageros autoritários, mas de fato estão comprometidos com a sua sustentação: apoiando, principalmente, sua  agenda econômica de retirada de direitos sociais, privatizações e entrega da nossa economia para as empresas transnacionais.

Para que ninguém tenha dúvida do apoio das grandes empresas e bancos ao governo Bolsonaro, basta assistir a euforia com que Paulo Guedes é tratado pela burguesia brasileira (e pela imprensa) e pelo apoio que a Fiesp vem dando ao neofascista Bolsonaro.

Também nesta semana, o Bradesco comemorou seu lucro recorde, em 2019, de nada mais nada menos 25,9 bilhões de reais, um crescimento de 20% comprado ao ano anterior. Demonstrando quem de fato vem ganhando, e muito, durante o governo do neofascista Bolsonaro.

A esquerda e os movimentos sociais precisam tirar conclusões

Seria uma tolice acreditar que o Congresso Nacional, com sua maioria corrupta e reacionária, vai tomar alguma atitude diante das “pedaladas fiscais” de Bolsonaro. Sequer está colocada, de forma séria, a possibilidade de abertura de um processo de Impeachment. Mas, o assunto merece uma reflexão.

A esquerda e os movimentos sociais devem tirar conclusões deste fato. Seguir acreditando ser possível a construção de uma frente política contra Bolsonaro com os representantes das grandes empresas e bancos, como Rodrigo Maia (DEM) e Luciano Huck (ligado a Globo), com vem defendendo o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é cair no mesmo erro cometido durante os 13 anos dos governos petistas de conciliação com os partidos da velha direita. Ninguém deve esquecer que o golpista Temer era o vice de Dilma.

Da mesma forma, é um grande erro esperar as eleições deste ano ou, ainda pior, as de 2022 para intensificar um movimento de oposição ao neofascista Bolsonaro. Não há atalhos, a única forma de enfrentar o atual projeto ultra reacionário que governa o país é apostar todas as nossas fichas na organização e nas mobilizações contra este governo neofascista e seus terríveis ataques aos direitos sociais e às liberdades democráticas. Precisamos construir e fortalecer uma verdadeira frente única de luta que una todos explorados e oprimidos.

Erra os setores da oposição que defendem uma postura moderada e de negociação com o atual governo. Pior ainda é a verdadeira traição cometida por governadores do PT e de outros partidos de oposição, que estão aplicando reformas das previdências estaduais que são cópias da aplicada por Guedes e Bolsonaro a nível nacional.

O momento exige que as centrais sindicais, os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos de esquerda convoquem uma jornada nacional de lutas contra este governo e seus ataques, preparada de fato e pela base. Inclusive, o ex-presidente Lula deveria usar o apoio que possui entre os trabalhadores para estar a frente da convocação de mobilizações de ruas, nacionais e unitárias.

A luta é agora. Derrotar o governo Bolsonaro nas ruas.

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