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MOVIMENTO

Petroleiros iniciam greve em 10 estados contra demissões em massa e intransigência da Petrobrás

Heleno de Freitas, de Santo André (SP)
Carol Burgos / EOL

Greve petroleira na Reduc, em Duque de Caxias (RJ).

Exatamente às 00h01 deste sábado (01),  petroleiros de dez estados iniciaram a greve chamada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa 13 sindicatos da categoria, na REPAR (Araucária/ PR), SIX (São Mateus do Sul/ PR), FAFEN-PR/ ANSA (Araucária/ PR) , TEPAR (Paranaguá/ PR), TEFRAN (São Francisco do Sul/ SC), RECAP (Mauá/ SP), REPLAN (Paulínia/ SP), REDUC (Duque de Caxias/ RJ), REGAP (Betim/ MG), RLAM (São Francisco do Conde/ BA), RNEST (Ipojuca/ PE), Terminal Aquaviário de Suape (Ipojuca/ PE), LUBNOR (Fortaleza/ CE) e REMAN (Manaus/ AM). Às 08h, os trabalhadores da REFAP (Canoas/ RS) não entraram para trabalhar e às 07h, estava prevista a entrada em greve das bases do Espírito Santo e Rio Grande do Norte. Além disso, há um acampamento no Edifício Sede da Petrobrás (EDISE), no Rio de Janeiro, com a participação dos movimentos sociais.

A pauta da greve exige a suspensão das demissões em massa dos empregados da Araucária Nitrogenados devido ao anúncio de fechamento da Fábrica de Fertilizantes de Araucária/ PR (FAFEN-PR/ ANSA), previsto para 14 de fevereiro, a suspensão da alteração unilateral da tabela de turno nas refinarias, além de denunciar as transferências de trabalhadores sem negociação com os sindicatos, as alterações no plano de saúde e PLR sem qualquer processo negocial efetivo, e exigências por parte da empresa de que os trabalhadores abram mão de direitos como condição prévia para o início das negociações.

Esse conjunto de ataques está diretamente relacionado ao projeto de desmonte da Petrobrás, que foi iniciado em 2015, ainda durante o governo Dilma, mas que alcançou um patamar de tentativa de destruição da empresa, que é um dos principais patrimônios construídos pelo povo brasileiro, desde o golpe parlamentar que levou Temer à Presidência da República, aprofundado ainda mais pelo governo Bolsonaro e seu preposto na empresa: Roberto Castello Branco. O objetivo da direção da empresa é livrar-se de passivos trabalhistas provocados por decisões erradas da gestão da empresa em períodos anteriores, de forma a tornar as refinarias ainda mais atraentes aos compradores e a Petrobrás, como um todo, mais adequada aos interesses do mercado financeiro, em detrimento dos interesses do povo brasileiro.

Desde 2018, todo o país tem sentido o impacto destruidor dessa política, que atende aos interesses do mercado financeiro por lucro rápido às custas da disparada do preço da gasolina, diesel, gás de cozinha, influenciando até mesmo no aumento do preço do etanol, devido à equiparação do preço dos combustíveis no Brasil com os preços internacionais.Isso ocorre mesmo a Petrobrás tendo refinarias capazes de produzir a maior parte dos combustíveis consumidos no país, mas que estão sendo mantidas operando abaixo de sua capacidade, por orientação da direção da empresa e do governo federal. Esse foi o motivo da greve dos caminhoneiros, que paralisou o país em maio daquele ano.

O processo de venda de oito refinarias da Petrobrás, que já está em curso, pode fazer com que o país perca o controle sobre metade de sua capacidade produtiva de combustíveis, o que nos tornaria ainda mais vulneráveis às variações do preço internacional, como ocorre nesse momento, devido à crise entre os Estados Unidos da América e o Irã, no Oriente Médio.

Por isso é tão importante que os petroleiros consigam impedir o avanço desse projeto, que traz danos imediatos à grande maioria da população e provoca prejuízos irreversíveis à soberania do país e ao futuro da economia e do meio ambiente no Brasil. Para isso, é fundamental que a greve se fortaleça e ganhe dimensão nacional, com um comando unificado que permita que as 18 bases da categoria nacionalmente posam definir os rumos do movimento. Também é fundamental a solidariedade de todas as organizações da classe trabalhadora, sindicatos, federações, centrais sindicais e movimentos sociais.

 

VÍDEO | GREVE NA REDUC

A Petrobras está tentando tornar a greve ilegal, o que pode tornar o quadro mais difícil caso o judiciário também se coloque contra o justo direito de greve dos trabalhadores. Além disso, a greve enfrenta um governo neofascista, que tem como um dos seus objetivos a destruição dos instrumentos de organização da classe trabalhadora, com destaque para os sindicatos. Também pesa contra o movimento o fato de não haver no país, nesse momento, uma situação política marcada por lutas generalizadas. Tampouco na categoria petroleira o retrospecto recente é positivo, haja vista o desmonte da greve nacional da categoria pelo Acordo Coletivo de Trabalho, em Outubro de 2019.

Também é por esse motivo que uma vitória da categoria, ainda que parcial, que seja capaz de mobilizar os petroleiros nacionalmente e impor à direção da Petrobrás e ao governo um recuo, pode ajudar a impulsionar a luta mais geral contra a venda das refinarias, somando-se a outras categorias de empresas públicas e estatais, como os Correios e a Dataprev, o que também pode favorecer o ânimo para a construção de um calendário mais geral de luta da classe trabalhadora do país contra o projeto de destruição impulsionado pelo governo Bolsonaro.

A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que representa outros cinco sindicatos petroleiros, votou no início do ano realizar uma jornada de lutas em fevereiro deste ano. Porém, com o anúncio da greve pela FUP a partir de 01/02, a FNP votou realizar assembleias para se incorporar ao movimento através de greves e mobilizações.

Até o momento, a greve começou muito forte nas bases onde já houve corte de rendição (trabalhadores da operação não entraram para trabalhar), e o fortalecimento do movimento ao longo do final de semana será muito importante para que, a partir de segunda-feira (03), a greve possa se expandir para a totalidade das bases, demonstrando a força de uma das categorias mais importantes e mais organizadas do país.