Muita confusão e mentira no debate Lênin e a Revolução Russa. Resolvemos elevar o nível da discussão. Hitler era de direita, anticomunista. As direitas, para fugir dessa ligação, tentam igualar comunismo e nazismo, quando são justamente opostos.
A Revolução Russa não é obra de um só homem. Foi um acontecimento histórico que marcou o século XX. A Rússia concentrava enormes contradições. Mantinha um regime absolutista com um Czar, se industrializava e criava uma classe operária e uma enorme massa de camponeses famintos.
Em fevereiro de 1905, após a reação ao massacre de manifestação pacífica (domingo sangrento), o Czar faz concessões. Instala um parlamento (Duma), permite partidos e põe fim à guerra com o Japão. Surgem os Soviets (Conselhos Populares). Estava plantada a semente da revolução.
Em 1914, a Rússia entra na I Guerra Mundial, perde metade das tropas e a fome se alastra. Declarada a guerra, a maioria do movimento socialista internacional adere ao nacionalismo e à guerra. Rosa Luxemburgo, Lênin, Alexandra Kollontai, Trotsky e outros se mantêm contra a guerra.
Em fevereiro de 1917, eclode a Revolução na Rússia. A greve das mulheres tecelãs foi o estopim para o que foi chamada de Revolução de Fevereiro. Os soldados se recusam a reprimir as manifestações e no final de fevereiro um mar de trabalhadores e soldados ocupam a Duma.
Sem apoio, o Czar é substituído por um Governo Provisório, liberal-burguês, que mantém o país na Guerra. Do outro lado, os Soviets passam a se considerar o poder legítimo que emana do povo, forma uma Guarda Vermelha e emite ordens para as tropas. Vigora uma dualidade de poderes.
Lênin volta à Rússia do exílio com as “Teses de Abril”, defendendo todo poder para os Soviets e como lema: PAZ, PÃO E TERRA. Em outubro, as teses de Lênin se tornam majoritárias e no dia 25 um grande movimento cerca a capital e o governo provisório cai, com pouquíssimas baixas.
As primeiras medidas foram o controle das fábricas pelos operários em regime de autogestão, a divulgação de todos os tratados secretos, a distribuição de terras aos camponeses, o pedido imediato de paz e o armistício, a declaração dos direitos nacionais dos povos minoritários.
As mulheres da Revolução foram responsáveis por inúmeros avanços na igualdade de gênero do país. Em 17, foi decretada a igualdade entre todos os cidadãos, o divórcio foi legalizado e mulheres tiveram o direito à terra. A Rússia foi o primeiro país do mundo a legalizar o aborto.
A Revolução era emancipatória, aprofundava liberdades existentes e criava outras. O Congresso dos Soviets, após a Revolução, talvez seja o parlamento mais democrático da história. No livro “O Estado e a Revolução”, escrito em 1917, Lênin mira o fim do Estado e a democracia plena.
A Revolução foi cercada pela aliança das potências capitalistas, os czaristas e latifundiários: o Exército Branco. Começa a Guerra Civil, milhares de pessoas morrem de ambos os lados. O Exército Vermelho, liderado por Trotsky, vence e abre caminho para a República dos Soviets.
Há erros na trajetória de Lênin e Trotsky? Claro. Houve episódios de violência excessiva, Trotsky iria reconhecer que sim, mais tarde. Mas é mentira o massacre de milhões, os confrontos principais eram episódios de guerra, que lamentavelmente a resistência czarista impôs ao país.
Muita gente fez confusão de Lênin com Stálin. Lênin morreu em 1924, não existiam Gulags, por exemplo. A partir de 1926 cria-se uma Oposição Unificada no Partido Comunista da URSS, em que participava Krupskaia, companheira de Lênin, contestando a direção de Stálin.
Eu sou da IV Internacional, fundada em 1938. Stálin fecharia a III Internacional, de Rosa e Lênin, em 1942, para entrar na II Guerra. Em 1956, revelaram-se os expurgos e execuções ocorridos nos anos 30. A revolução foi traída e todo o Comitê Central bolchevique assassinado.
Pra quem quiser conhecer um pouco mais, sugiro a leitura de “Os dez dias que abalaram o mundo” do jornalista estadunidense John Reed. Há também o filme “Reds”, que concorreu a três Oscar, incluindo o de melhor filme, que conta um pouco da vivência desse jornalista na Revolução.
Absurdo comparar Lênin a Hitler. Lênin está na história por declarar a paz, Hitler pela guerra. Lênin pelas obras de política e filosofia, Hitler pelo panfleto antissemita. Não faz sentido comparar a URSS com a Alemanha Nazista, pois foram os soviéticos que derrotaram o Nazismo.
Homenagear Lênin não é culto à personalidade, ele repudiava isso. Seguimos o pedido de Krupskaia, sua companheira, em seu velório: “não deixem que o luto por Ilítch se transforme em veneração exterior à sua pessoa. Ele dava muito pouca importância pra tudo isso em vida”.
Sou militante ecossocialista. Lênin e a Revolução Russa ocupam lugar especial na tradição dos que lutam pela revolução da liberdade, igualdade, justiça e paz. Não aceitaremos a narrativa que criminaliza o comunismo. “Os comunistas guardam sonhos”. Os comunistas enxotam fascistas.
* Artigo publicado originalmente no site do PSOL nacional.
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