Corrupção miliciana

Editorial 20 de dezembro

Na quarta-feira (18), foi realizada uma operação policial a pedido do Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro, que investiga desvios e irregularidades financeiras no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele exercia mandato de deputado estadual.

Segundo o MP, Fabrício Queiroz – amigo íntimo de Jair Bolsonaro desde 1984 e um dos principais assessores de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) — recebeu mais de 2 milhões de reais de 13 funcionários do gabinete do filho “01” de Bolsonaro.

O montante recolhido por Queiroz abastecia o esquema milionário de enriquecimento ilícito de Flávio, que utilizava uma loja de chocolates para “lavar” o dinheiro sujo. Os recursos públicos desviados pela organização criminosa comandada pelo “01” funcionava desde 2007. Além do esquema na Alerj, Flávio é investigado por transações suspeitas que envolvem 37 imóveis no Rio de Janeiro.

O escândalo da “rachadinha” oferece novas evidências das relações carnais entre a família Bolsonaro e as milícias cariocas, assim como demonstra cabalmente que a corrupção patrocinou o rápido enriquecimento da família presidencial.

Queiroz é amigo de miliciano foragido da polícia

O ex-policial militar, Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de ser um dos principais chefes da milícia “Escritório do Crime”, é amigo pessoal de Fabrício Queiroz. Atuaram como policiais na mesma delegacia, onde foram acusados de práticas criminosas em ações que participaram juntos.

Capitão Adriano, como é conhecido, já foi homenageado por Flávio Bolsonaro na ALERJ, quando era acusado de um homicídio. A sua mãe e sua esposa foram por anos funcionárias do gabinete de Flávio. Conversas entre Queiroz e a esposa de Adriano no aplicativo WhatsApp comprovam o elo entre o esquema do gabinete de Flávio e o miliciano.

Queiroz não esconde ser amigo pessoal do miliciano foragido, capitão Adriano. Na verdade, ambos têm relações antigas com a milícia que atua na comunidade de Rio das Pedras, região de Jacarepaguá. Há, por exemplo, fortes suspeitas de que Queiroz manteve um negócio de transporte alternativo em Rio das Pedras, o que só seria possível com o aval da milícia da região.

Segundo a investigação do MP do Rio de Janeiro, Queiroz se utilizou de duas empresas controladas pela milícia de Adriano para lavar dinheiro da operação fraudulenta que dirigia, a partir do gabinete de Flávio Bolsonaro.

Mais de 70 mil reais dos depósitos na conta de Queiroz vieram de dois restaurantes localizados no bairro do Rio Comprido, do qual a mãe de Adriano era uma das sócias, funcionando como “testa de ferro” do miliciano. A agência bancária onde foi feita a maioria dos depósitos na conta de Queiroz fica em frente a um dos restaurantes.

Ainda de acordo com o MP, parte do dinheiro desviado dos salários dos funcionários de Flavio na ALERJ pode ter ido diretamente para Adriano.

Jair Bolsonaro não sabia de nada?

Queiroz era amigo antigo e íntimo do presidente, tanto que depositou R$ 24 mil na conta da atual esposa de Bolsonaro em 2018. Muitos dos funcionários do gabinete de Flávio foram anteriormente funcionários do gabinete de Jair Bolsonaro, quando ele era deputado federal.

Todo mundo sabe que a “família” atuava sempre junta, nas disputas políticas e eleitorais. Por que seria diferente nos esquemas corruptos de financiamento e nas relações que mantinham com as milícias?

Bolsonaro declarou que não sabia nada sobre as atividades do filho e de seu amigo Queiroz. Assim, tenta se esquivar de uma possível futura investigação e sair do foco do escândalo de corrupção.

Ronnie Lessa, o principal suspeito de ter executo Marielle Franco e Anderson, também era ligado à mesma milícia do capitão Adriano. Suspeita-se, ademais, que as relações dos Bolsonaros com Lessa vêm, pelo menos, de 2009, quando a família pode ter ajudado o ex-policial financeiramente, na recuperação de sua saúde, depois de ter sofrido um atentado a bomba, que o fez perder uma das pernas, quando fazia um trabalho de segurança para um contraventor.

O comparsa de Lessa na execução de Marielle, Élcio Queiroz, que dirigiu o carro na noite do crime, visitou o condomínio na Barra, onde moram Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e o próprio Lessa na noite do assassinato.

Por uma investigação séria, profunda e transparente

Todos estes fatos são mais que suficientes para que seja realizada uma investigação séria, profunda e transparente sobre as irregularidades e crimes praticados pela família Bolsonaro. Há evidências significativas que justificam, inclusive, uma prisão preventiva de Flávio Bolsonaro.

Até o momento, vem existindo uma vergonhosa operação abafa para proteger Jair Bolsonaro e seus filhos, envolvendo Ministros do STF, o atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o Procurador Geral da República, Augusto Aras.

Só uma forte campanha que exija apuração total de todas as denúncias em questão, encabeçada pelos movimentos sociais, democráticos e pelas organizações de esquerda, poderá assegurar que as investigações continuem até as ultimas consequências.

Mais do que nunca, queremos saber:

– Qual é a origem do meteórico enriquecimento da família Bolsonaro nos últimos 15 anos?

– Quais são as relações entre Queiroz e a família Bolsonaro com a milícia “escritório do crime” do capitão Adriano e de Ronnie Lessa?

– Quem mandou matar Marielle e Anderson?