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Muito além da CPI da Fake News

Joice Hasselmann

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

A única grande utilidade até agora da chamada CPI das Fake News foi mostrar como os parlamentares que se elegeram na onda de Bolsonaro estão divididos. As brigas entre aqueles que ainda apoiam o presidente e aqueles que romperam deram o tom dos depoimentos.

A ex-líder do governo, Joyce Hasselman, mostrou um dossiê com supostas provas de uma rede estruturada de espalhar notícias falsas contra desafetos da família presidencial. De acordo com a deputada, existem mais de 2 milhões de perfis falsos em favor do que ela chama de “gabinete do ódio”. O deputado recém-saído do PSL Alexandre Frota falou sobre pessoas empregadas no gabinete do Presidente responsáveis pelo que ele chama de milícia virtual.

Até agora o depoimento que mais chamou atenção foi o de Joyce. Ela citou uma rede de oito milhões de perfis que é bem organizada. No comando desta rede estariam perfil bem conhecidos como o Terça Livre, do jornalista Alan dos Santos. Eles usariam táticas como postar algo, esperar que o conteúdo se espalhe e depois apagar a postagem inicial, apagar perfis para depois recria-los, entre outros. Esta rede teria sido estruturada durante a campanha presidencial de 2018.

Ainda sabemos muito pouco sobre a rede de desinformação formada pelo bolsonarismo. E não podemos ter muitas esperanças nessa CPI das Fake News. A maioria dos deputados apoiaram o atual presidente e, apesar de não terem cargos no governo, dependem de verbas para suas bases eleitorais.

Por, exemplo, o grande articulador internacional da direita nas redes sociais, Steve Bannon, sequer foi citado nesta CPI. Bannon tem relações diretas com a família presidencial e participou da campanha de Donald Trump em 2016. Ele é investigado por supostamente ter participado de coleta ilegal de dados de eleitores, entre outras práticas obscuras.  Sem ajuda internacional, seria impossível que a milícia digital da família Bolsonaro fosse formada.

Uma coisa temos certeza: a milícia digital da direita é grande, organizada e perigosa. Foi quem fez ameaças de morte e descobriu placas dos carros de familiares do ex-deputado Jean Willis, fato que o obrigou a se exilar do país. Foi quem espalhou calúnias sobre Marielle Franco, morta e março do ano passado por milicianos próximos à família Bolsonaro. Não se trata apenas de jovens sustentados pelos pais que destilam suas frustrações na internet. É uma rede profissional, com conhecimento de tecnologia e também de psicologia.

Essa rede consegue despertar os medos e os ódios mais obscuros de uma parte da população brasileira. Ao menos oito milhões de pessoas foram convencidas a receber e distribuir constantemente conteúdo da milícia digital. Não é algo que será desmontado de maneira rápida e fácil, nem mesmo se Bolsonaro perder as eleições de 2022.

E eles se aprimoram a cada dia. São bem mais profissionais que, por exemplo o MBL, que usaram o auge de popularidade do Facebook para montar uma rede de páginas para espalhar memes contra o PT. O que se sabe é que eles usaram o “Voxer”, aplicativo que permite usar o perfil de outras pessoas para divulgar conteúdo.

Brincadeira de criança se comparado ao sofisticado mecanismo que Steve Bannon usou em 2016 na campanha de Trump. Com a posse de dados de milhões de pessoas, ele conseguiu traçar o perfil psicológico dos eleitores. Com isto, foi possível identificar os mais traumatizados, frustrados, preconceituosos e com tendência à agressividade e falta de empatia. E jorrar na cabeça destas pessoas uma propaganda que estimula o que existe de pior nestas pessoas. Um trabalho de engenharia social e psicológico inédito.

Prestemos atenção na CPI das Fake News. Cobremos as investigações que essa CPI pode fazer, algo interessante pode ser descoberto. Mas não confiemos nos trabalhos do parlamentares. A Gestapo bolsonarista será derrotada com mobilização e militância, tanto no mundo virtual e quanto no mundo real.

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fake news / psl