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CULTURA

107 anos de Luiz Gonzaga

Lucas Scaldaferri, de São Paulo (SP), e Paula Farias, de Fortaleza (CE)

Exu é um pequeno município pernambucano na Serra do Araripe. A cidadezinha é famosa por seu filho mais ilustre e um dos poucos monarcas cultuados pelo povo brasileiro. Exu é o berço do “Rei do Baião” Luiz Gonzaga. 

Foi numa sexta-feira no dia 13 de dezembro de 1912 que o menino Luiz veio ao mundo. O Luiz foi uma homenagem a Santa Luzia, padroeira da visão, que tem sua festa na mesma data. 

O Nordeste sofrido veria, nos anos seguinte a sua vinda ao mundo, uma grave seca e a política dos coronéis que tanto castigava os que tiravam o sustento na lida. Era a seca de 1915 e a marcha de retirantes famintos e maltrapilhos viraram o terror de uma elite mandonista que começava a implementar políticas higienistas nas grandes cidades da região. Raquel de Queiroz em seu livro “O Quinze” descreve o que ocorria em Fortaleza: “campos de concentração: acampamento, atravancamento de gente imunda, latas velhas, trapos sujos, local de promiscuidade e mau cheiro”. 

Em 1929, Luiz apaixona-se por uma das filhas de um fazendeiro de Exu, que proíbe o namoro por ele ser um “mulato sem futuro”. Com uma faca, vai tomar satisfação com o coronel, que o deixa escapar por respeito à sua mãe. Após uma surra dos pais, foge de casa. Passa 15 dias no mato. Depois, vai para Fortaleza e Recife. Só voltaria a Exu 16 anos mais tarde. Em 1930 Gonzaga decide entrar para o Exército. Era um modo de ter comida, moradia e uns trocados. Sem jamais ter disparado um tiro, chegou a ser detido por perder uma bota e outra por sair do quartel para comprar uma sanfona. O jovem, que aprendera os encantos da sanfona com seu pai, já toca pela região e ganhou as estradas. 

Foi no Rio de Janeiro, pelas ondas do rádio, que Luiz levou ao centro-sul, como diria o saudoso Chico de Oliveira, o ritmo do Nordeste. Ganha prêmio no programa de Ary Barroso, conhece Humberto Teixeira que escuta suas histórias sobre Exu, a miséria e todo o drama do sertanejo. Em 1946 escrevem juntos “Asa Branca” que se tornaria um hino do sertanejo nordestino. Asa Branca é uma das músicas do rei do baião que está entre as dez músicas mais importantes da história do Brasil.

Luiz Gonzaga sofre um grave acidente de carro, junto com seus músicos, em 1951 e sua recuperação comove o país. Canta para o papa João Paulo II em Fortaleza na ocasião de sua visita ao Brasil em 1980. Fez turnê com o filho Gonzaguinha pelo Brasil, ocasião que mantiveram aproximação e onde ele recebe a alcunha de Gonzagão. Morre em 1989, em 02 de agosto, aos 76 anos, em razão das complicações de um câncer.

Exu celebra todos os anos o nascimento de seu filho mais célebre com muito forró, muita sanfona. Dominguinhos, seu afilhado, participou ativamente destas celebrações enquanto vivo. O rei do baião hoje é patrimônio de todo o Brasil ainda que vivamos no país que despreza a arte, a cultura popular e que mata ou aprisiona a “asa branca”.

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luiz gonzaga / nordeste