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Colunas

Profe, meu amigo morreu em Paraisópolis

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Na hora em que fiquei sabendo dos 9 jovens que haviam morrido no baile da DZ7, pensei imediatamente nos meus alunos que frequentam os bailes funks da cidade.

Pra quem não sabe, onde há juventude, há música funk, principalmente se forem jovens das periferias e da escola pública.

Não tem nenhuma sala de aula que eu entre que não tenham estudantes com os fones ouvindo funk, o que gera um grande trabalho de convencimento pra que eles guardem os fones e passem a participar das aulas de história.

Foi nesse trabalho de convencimento que eu comecei a ouvir as músicas com eles, debater os estilos e as letras, saber os bailes que eles frequentavam e até levei funks “politizados” falando de feminismo e história do Brasil pra ajudar nas aulas.

Hoje quando cheguei na escola, o assunto das aulas foi o que tinha acontecido em Paraisópolis. Um dos meus alunos estava lá. Ele contou que ouviu que “moiou” e saiu pulando os muros.

Outra aluna, com lágrima nos olhos, disse que um amigo dela havia morrido, o Dennis Guilherme.

O que aconteceu em Paraisópolis ultrapassou a geografia da segunda maior favela de São Paulo, pois os jovens atravessam a cidade à procura dos bailes. Poderia ter acontecido com algum dos meus alunos ou de qualquer escola pública de São Paulo.

Eles estavam muito bravos com o que tinha ocorrido. Os vídeos já tinham circulado nos grupos de zap que eles participam.

Conversei com os estudantes sobre como as manifestações culturais da população negra e pobre sempre foram criminalizadas no Brasil. Acabamos de estudar sobre a Consciência Negra do mês de novembro, em que a capoeira e o samba foram discriminados e perseguidos e por isso foi fácil fazer a ponte sobre o “tratamento” dado à população que curte o Funk, pelos órgãos de repressão, mas também pela sociedade.

Eles mesmos falaram sobre as baladas dos ricos e da classe média, onde rolam as mesmas coisas que num baile funk (drogas e sexo), e que nao tem repressão, ao contrário, a prefeitura até fecha a rua e a PM vem pra proteger a festa.

Eu disse pra eles que a PM não pode fazer o que eles fizeram, que é ilegal. Que é contra os direitos que estão em nossa Constituição. Mas infelizmente eles não acreditaram muito nesta história de direitos, pois é uma geração que já nasceu com direitos negados.
Por fim, pedi um trabalho: produzir um Slam sobre o que aconteceu.

Apesar de ter os direitos negados, também é uma geração que ainda não perdeu a esperança e enquanto houver esperança, há luta!

Marcado como:
genocídio negro