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BRASIL

Marighella vive! Fleury e Ustra estão mortos!

Jean Montezuma, de Salvador, BA
Marcos Musse

Domingo, 17 de abril de 2016. O deputado Federal Jair Bolsonaro vota a favor da farsa processual que foi o impeachment de Dilma. O capitão reformado ainda usou dos seus 15 segundos de microfone para prestar uma homenagem ao Coronel Brilhante Ustra. Segundo ele: “O terror de Dilma Rousseff”.

Segunda-feira, 04 de novembro de 2019, algumas dezenas de militantes se reúnem no cemitério da Quinta dos Lázaros. Era uma manhã de chuva torrencial em Salvador, e o deputado Hilton Coelho, do PSOL, tomou a palavra, diante túmulo feito por Oscar Niemeyer em homenagem a Marighela: “Fleury e Ustra estão mortos, Marighela está vivo!”

Esses dois momentos distintos revelam não apenas opiniões nascidas das referências ideológicas opostas entre um parlamentar socialista, e o capitão fascista que hoje senta na cadeira da Presidência. Revelam um acerto de contas que a nossa geração tem o compromisso de preservar.

Pronunciadas pela boca de um representante direto dos porões sombrios da Ditadura, as palavras de Bolsonaro exalam um odor fétido desagradável, suportável apenas para aqueles que, ruminando ódio, se ressentem pelo regime militar ter, segundo eles, “apenas” torturado. Foi o próprio presidente que disse em entrevista que, além da tortura, era para o regime ter matado “uns 10 mil a mais”.

Já as palavras do socialista Hilton estão preenchidas pela força motriz da História. Ela mesma, a História, que empurrou para a lata do lixo a escória assassina que durante 21 anos sequestrou a democracia, ceifou milhares de vidas e liberdades, mas nunca fez perecer os sonhos de homens e mulheres que se recusaram a deixar de lutar. Uma geração que foi de ferro nos anos de chumbo, que assim como Marighella, não teve tempo de ter medo.

Nos últimos 34 anos desde o fim da Ditadura, o delegado Sérgio Fleury, artífice da emboscada que assassinou Carlos Marighella na Alameda Casa Branca, não foi lembrado e muito menos homenageado. Para ele, e para Ustra, não foram feitas canções e poemas, estátuas e nem monumentos. Seus nomes não batizaram escolas, praças, ruas e avenidas. Estão mortos, e assim permanecerão enquanto o ódio e ressentimento ruminados por Bolsonaro e seus seguidores não prevalecer sobre a coragem e a esperança. Mantê-los entregues ao esquecimento, esse é o compromisso que a nossa geração tem com Marighella e com todas e todos que empenharam suas vidas para que nós tivéssemos um futuro.

Nessa quinta-feira, 07 de novembro, uma Sessão Especial promovida pelo mandato do deputado Hilton Coelho homenageará os 50 anos de imortalidade de Marighella. Na Assembleia Legislativa da Bahia estarão presentes partidos de esquerda como PSOL, PT, PCdoB, Unidade Popular e PCB; o movimento negro por meio do MNU e da CONEN, o MST, a OAB, Anistia Internacional, Grupo Tortura Nunca Mais, Comissão Estadual da Verdade, e vários outros grupos e entidades da sociedade civil. A solenidade é parte de um calendário nacional com atividades em diversas cidades brasileiras para rememorar o legado de luta do baiano, negro, poeta, guerilheiro e socialista, Carlos Augusto Marighella.

Marighella Vive, viva Marighella!