Diante das câmeras, para todo mundo ver, abriu-se uma crise importante no PSL e no governo Bolsonaro. Aparentemente o estopim foi a resposta de Bolsonaro para um apoiador dizendo que o presidente do próprio partido estava “queimado” e que a sigla “já era”. Depois disso o fogo cruzado entre Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, e Jair Bolsonaro tomou proporções gigantescas.
O PSL praticamente atua em dois polos. De um lado estão os aliados de Bolsonaro, seus filhos (figuras importantes nesta crise) e aliados, e do outro aqueles que se opõem (ou se incomodam) ao crescimento de poder ininterrupto que os filhos do presidente vêm tendo. Acusações, baixaria, xingamentos, termos chulos, tentativa de obstrução de pautas do interesse do Executivo por parte do grupo de Bivar, pedidos de abertura de contas do partido por parte do clã Bolsonaro, sendo respondida com pedido de abertura das contas da campanha eleitoral, novamente pelo grupo de Bivar. Uma crise que parece hoje não ter fim.
Diante disso, fica a pergunta: e o que nós temos a ver com isso? Qual é a forma que a esquerda revolucionária deve se portar diante dessa crise do PSL? Obviamente que não se tem resposta para tudo, caso tivéssemos seria muito mais fácil. Portanto esse texto busca fazer apenas alguns apontamentos, para servir de reflexão.
Existia a preocupação de que o PSL fosse dar origem a um verdadeiro partido bolsonarista no Brasil. Um partido com viés e caráter neofascista, uma espelho daquilo que é Jair Bolsonaro. Com essa crise, essa possibilidade diminui. O PSL se mostra mais um partido de aluguel, recheado de oportunistas e insanos, do que uma espécie de gênese deste partido fascistóide.
Já sabíamos e elaborávamos sobre o fato de o governo Bolsonaro ser formado por diversas frações políticas distintas: capital financeiro, a ala ideológica olavista, os fundamentalistas religiosos, os apaixonados pela lava-jato, as milícias e o clã Bolsonaro. Os parlamentares do PSL são expressão desse bloco no poder heterogêneo, diverso e que entra em conflito entre si para pôr seu projeto de poder. Dessa forma as disputas já se davam há mais tempo do que a atual crise deixa expor, e essas dispostas ora eram abertas, ora se davam às escondidas. Porém, depois que uma fratura como a atual foi exposta, parece que mais questões irão ser desenvolvidas, e a crise entre PSL e o clã Bolsonaro vai continuar. Muita água vai passar por debaixo da ponte.
Diante disso, a total atenção da esquerda para os futuros acontecimentos é fundamental. Nada está descartado hoje por hoje. Porém, atitudes que não podemos ter é a memetização do debate, ou sua ridicularização. A crise do PSL é séria e coloca em jogo os rumos de um governo dos mais perigosos de nossa história. Não podemos agir como se o que acontece no partido do presidente neofascista não nos interesse e fosse um problema do andar de cima.
É importante colocar que o desenvolver da atual crise pode significar uma bonapartização do governo. O governo Bolsonaro pode sair fortalecido ou enfraquecido deste confronto com o PSL, e isto não é questão menor. Algumas hipóteses são:
1) O clã Bolsonaro se porta como anti-sistêmico, lutadores contra a corrupção, saí do PSL e criar seu próprio partido ou vai para uma nova legenda de aluguel, fortalece seu exército de “bolsonaristas militante”. Aumenta seu caráter bonapartista, sua independência sobre as instituições democráticas do Estado, e seu projeto ganha força, cada vez mais se aprofunda o caráter de mudança de regime e um bonapartismo é uma probabilidade cada vez mais atual, com um governo tendo seu caráter fascista aprofundado.
2) Gera-se uma crise entre o Executivo e o parlamento que enfraquece Bolsonaro e gera um crescimento das forças de oposição. O governo passa a ter minoria no parlamento, não consegue mais governar com tranquilidade. Crescem nas ruas movimentos contrários às medidas neoliberais e a retirada de direitos democráticos.
3) Essa crise entre Executivo e parlamento se resolve de outra forma, ou seja, pela pior das hipóteses. A crise das instituições democráticas se aprofunda com a disputa clã Bolsonaro x Bivar. O primeiro setor aumenta o controle sobre o governo e sobre o Estado de forma geral, e parte para ações mais radicais. Uma intervenção de Bolsonaro apoiado no Exército fecha o Congresso, o movimento de massas não consegue ter forças para impedir e uma completa mudança de regime acontece no país.
Estas são três variantes da possibilidade que o fim da briga entre o clã Bolsonaro e PSL pode ter. Obviamente que existem outras hipóteses que se desdobram dessas três principais a cima. A esquerda radical precisa ficar atenta nos próximos dias. Nossa tarefa central nestes tempos nebulosos é impedir uma derrota histórica e a mudança de regime por parte de Bolsonaro. Assim temos que entender o quanto é importante as briga que acontece no andar de cima, elas são de extrema importância para nós.
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