Abaixo, divulgamos a carta do Movimento Negro Unificado sobre a base de Alcântara, localizada no Maranhão. De acordo com o movimento, “o projeto em tramitação na Câmara Federal implicará em deslocamentos de comunidades quilombolas e deverá interferir no cotidiano das comunidades”.
Segue carta abaixo:
Em nossa Carta de Princípios de 18 de junho de 1978, estabelecemos que lutaríamos contra :
– A discriminação racial.
– A marginalização racial,política, econômica, social e cultural do povo negro.
– A colonização, descaracterização, esmagamento e comercialização de nossa cultura.
As comunidades quilombolas representam a ancestralidade africana em nosso país.
São a continuidade de uma história de luta e resistência ao poder colonial, escravocrata e racista dos europeus em terras brasileiras. bNos constituímos lutando contra a discriminação racial, a colonização e descaracterização de nossa cultura. Em 1995, não hesitamos em apoiar, participar e ser parte constitutiva do primeiro encontro nacional quilombola. Apoiamos com entusiasmo a criação da Coordenação Nacional Quilombola. O que vem acontecendo nas comunidades quilombolas de Alcântara é o que denunciamos em nossa Carta de Princípios. A Colonização e Descaracterização de Nossa Cultura é fruto do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas e suas implicações às comunidades quilombolas de Alcântara.
O Território Quilombola de Alcântara é um território reconhecido pelo Estado Brasileiro, cujo Relatório Técnico de Identificação e Delimitações ( RTID ) foi publicado no Diário Oficial da União ( D.O.U ) em novembro de 2008, de acordo com o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ( ADCT ) da CF/88. ” O Município de Alcântara, Estado do Maranhão constituiu-se em um dos maiores territórios tradicionais do país, com mais de 200 comunidades distribuídas em três grandes territórios: Território Quilombola de Alcântara, Território de Santa Tereza e Território de Ilha de Cajual, que mantêm entre si relações de interdependência cultural, social e econômica”.
“O projeto em tramitação na câmara federal implicará em deslocamentos de comunidades quilombolas e deverá interferir no cotidiano das comunidades”, gerando o que denunciamos em nossa Carta de Princípios:
“A Colonização e Descaracterização de Nossa Cultura”. Descaracterização configurada pela negativa de acesso ao mar, rios, igarapés, florestas de mangue e áreas de roça. Nós, os remanescentes de quilombos somos grupos étnicos-raciais que tem uma trajetória histórica própria, dotado de relações territoriais específicas ligadas à ancestralidade negra relacionada com a resistência a opressão histórica.
Nosso território é uma concretização das conquistas da comunidade afro-descendente no Brasil, fruto das várias e heróicas resistências ao modelo escravagista e opressor instaurado no Brasil colônia e do reconhecimento dessa injustiça histórica. É nele que cultivamos e mantemos nossa história, saberes e fazeres. É preciso mais do que nunca desfazer a construção folclórica de nossos costumes e tradições, não aceitamos ser o ideário de miséria social e das mazelas do Brasil. O Movimento Negro Unificado exige a imediata titulação dos territórios quilombolas e sua autonomia, autodeterminação e auto governança pelo povo quilombola de Alcântara.
Que a Convenção 169 da OIT seja respeitada pelo governo brasileiro.
Defender, Lutar e Resistir junto as comunidades negras quilombolas é um dever do MNU.
MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO.
Comentários