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BRASIL

Rio de Janeiro: Quantos mais terão que morrer?

Região Metropolitana teve seis mortes de jovens em quatro dias, sendo quatro em operações policiais. Mortes confirmam que o PSOL estava certo: Witzel promove política de extermínio

Gustavo Sixel, da redação
Ribs

No dia 08 de agosto, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), gravou uma mensagem aos deputados estaduais, atacando duramente o PSOL por ter entrado no STF com uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) contra ele. Witzel disse que o partido faz “uma aliança com o terror”. “Essa é a verdade sobre o PSOL, um partido que patrocina interesses do crime organizado e do terrorismo”, acusa. No mesmo dia, o líder do governo na Assembleia Legislativa foi à tribuna, acusando o partido de “defender bandido”.

A ADPF feita pelo PSOL denuncia aos juízes do Supremo que a política de segurança do governo do Rio de Janeiro viola “preceitos fundamentais” e é baseada “no extermínio, abate”. Pede que o governador não participe pessoalmente de nenhuma operação (como fez dentro de um helicóptero, em Angra dos Reis), não estimule a violência policial e apresente um programa de segurança pública.

Nos dias que se seguiram a mais este ataque, a realidade confirmou a denúncia do PSOL. Entre a sexta, 09, e a terça-feira, 13, seis jovens morreram com tiros em comunidades e favelas na Região Metropolitana. E quatro das mortes ocorreram durante operações policiais sendo que nenhum tinha envolvimento com o crime, ou seja, não estavam em confronto com a polícia.

Às 06h05 da sexta-feira, Gabriel Pereira Alves, de 18 anos, morador do Borel, esperava um ônibus na Tijuca para ir para a escola. Morreu com o uniforme da escola, no dia do aniversário do seu pai.

No mesmo dia, à noite, morreram Lucas Monteiro dos Santos Costa, 21, Tiago Freitas, 21, executados por um grupo que invadiu uma festa em Água Santa.

E Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, 19, foi atingido enquanto ocorria uma operação na comunidade Terra Nova, em Magé. Trabalhava em um mercado e estava buscando uma moto em uma oficina. A família nega a acusação de que ele estivesse portando uma arma.

Dyogo Costa Xavier de Brito, de 16 anos, morto na segunda-feira, 12, também foi acusado de criminoso pela polícia. Dyogo, que jogava futebol no América F.C., foi morto com um tiro de fuzil durante uma operação da Polícia, na comunidade da Grota, em Niterói. O O primeiro a chegar ao local foi o seu avô, Cristóvão Xavier, de 63 anos, motorista de ônibus.

— O PM me falou que o meu neto era traficante. Não precisavam ter matado meu garoto. Era só abordar e ver que a mochila do Dyogo carregava a chuteira e o dinheiro da passagem — disse Cristóvão — Eu peguei ele no hospital quando nasceu, e agora peguei ele no colo quando ele morreu, disse, emocionado, à reportagem da TV Globo.

Nesta terça, 13, no início da noite, mais uma tragédia. Margareth Teixeira da Costa, de 17 anos, foi morta com dez tiros durante uma operação na comunidade 48, em Bangu, Zona Oeste do Rio. A jovem negra voltava para casa com seu filho, de 1 ano e 10 meses, que foi atingido de raspão e não corre perigo.

Política de extermínio

Os números mostram que o PSOL estava absolutamente correto na denúncia do governo do estado ao STF. A política de segurança do governo do estado é de fato uma política de extermínio, de matança. O governador foi eleito com o discurso de “atirar na cabecinha”. Desde a posse, tornou a vida do povo negro e de todos os moradores das comunidades um verdadeiro inferno, com incursões frequentes, uso de snipers e alta letalidade. Policiais mataram 434 pessoas de janeiro a março, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Foram quase cinco mortos por dia, recorde em 21 anos.

Recentemente, Witzel protestou contra o Ministério Público Federal, que exige o cumprimento de uma conduta no uso de helicópteros em ações policiais. Ou seja, que as aeronaves não sejam usadas para disparo. A prática tem sido condenada também pela Defensoria Pública e por organizações de Direitos Humanos e dos moradores.

Reprodução
Detalhe da capa do jornal Extra

Nesta semana, logo após uma operação de 72 horas, a ONG Redes da Maré divulgou um relatório das operações policiais e da letalidade. Mais do que os números, o que chamou mais a atenção foram os relatos de crianças, que voltaram a perder aulas e conviver com o medo constante. Um desenho de uma criança foi reproduzido pela Ponte e na capa do jornal Extra, de grande circulação, mostrando a realidade e o cerco ao qual o povo negro está submetido.

A política de guerra e de genocídio do povo negro é parte da ofensiva reacionária e autoritária no país, com o governo Bolsonaro. Não por acaso, ao mesmo tempo em que Witzel ataca o PSOL, o presidente, em agenda oficial nesta quarta-feira, 14, afirmou que irá “acabar com os corruptos e os comunistas”, que irá “varrer essa turma vermelha do Brasil”. Não por acaso, o presidente recebe a viúva do torturador Ustra, que tornou-se ídolo para os agentes das forças de segurança pública, as mesmas que, no Rio de Janeiro, torturam ao menos três presos por dia.

Não é possível aceitar a escalada autoritária e o genocídio do povo negro. Vidas Negras Importam. É preciso resistir, como fizeram os familiares e moradores destas comunidades, que tomaram as ruas em protesto, ou mesmo como foi feito pelos coletivos de estudantes da UFF de Niterói, que realizaram de modo quase relâmpago um ato contra a presença do governador, em uma solenidade nesta quarta-feira, 14, com o prefeito Rodrigo Neves (PDT).