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BRASIL

Carlos Fogaça: “Devemos cobrar do poder público uma solução para o problema das enchentes em Esteio (RS)”

O Esquerda Online segue realizando reportagens, entrevistas e recebendo artigos de opinião sobre as enchentes na cidade de Esteio, região metropolitana de Porto Alegre, RS. As enchentes são um gravíssimo problema de muitos centros urbanos no Brasil, afetando de forma mais aguda a população pobre e periférica. Nesta entrevista, conversamos com Carlos Fogaça, que é morador de Esteio há 27 anos e estudante de geografia. 

EOL RS
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Esquerda Online: Olá Carlos, obrigado por conversar com o Esquerda Online. Todos os anos há enchentes em Esteio (RS) alagando casas, prédios públicos, vias e comércios. Com frequência fala-se que o responsável é São Pedro por enviar tanta chuva. Outros dizem ainda que a culpa é do próprio povo que joga lixo no chão e nas margens dos córregos, o que dificultaria o escoamento da água. Quais são as reais causas das enchentes na cidade?
Olá. Bom, as enchentes são o resultado de um processo de urbanização na margem do arroio Sapucaia e Esteio, áreas alagadiças baixas. São vários os fatores responsáveis pelos alagamentos urbanos. O que não significa que não existam soluções para os problemas. Quando se identifica o problema pelo viés da educação ambiental, no caso de colocar lixo nos arroios, isto também é uma questão social que a cidade enfrenta, e a Prefeitura de Esteio é quem deve se responsabilizar.

EOL: Em outras cidades da região, como Sapucaia e São Leopoldo também há sucessivos casos de enchentes. Você saberia dizer se os motivos são os mesmos?
Sim, o processo de urbanização da margem da Bacia do Rio dos Sinos e seus afluentes se deram de maneira parecida, gerando problemas bem semelhantes.

EOL: Há quem diga que a construção da BR-448 (Rodovia do Parque) poderia ter agravado o problema das enchentes na cidade. Você vê alguma relação entre esta obra e as inundações?
Acredito que tenha agravado sim. Quando se aterra uma área muito próxima a um rio que tem um período de cheia anual e outros períodos mais espaçados, a água passa a ocupar outros locais quando chega estas épocas, muitos a montante dos afluentes, onde o processo das cidades já transformou áreas baixas em áreas de moradia, sem considerar os regimes de cheias do rio e dos arroios.

O processo de urbanização e o crescimento das cidades geraram a demanda do fluxo, por isso a construção da rodovia BR-448 é essencial como obra e infra estrutura. Acredito ter sido analisado esses fatores na sua construção, porém os reflexos devem ser responsabilidade de todas as esferas do poder publico. Penso que o comitê pró sinos se propõe a fazer este debate mais regionalizado. Nós de Esteio temos que cobrar que nossos representantes se disponham a fazer o debate sobre as soluções para as enchentes. Obras de infraestrutura, educação ambiental, limpeza e dragagem dos arroios, limpeza dos esgotos que transportam a água da chuva são coisas essenciais que devemos cobrar do poder executivo de Esteio.

EOL: Há uma diferença entre as enchentes causadas pela cheia dos rios e as enchentes causadas pelo lento escoamento das água nas vias asfaltadas, certo? Você poderia falar um pouco sobre isso? Porque imaginamos que causas diferentes sugerem soluções diferentes.
São coisas complementares. As que são causadas pelo lento escoamento das vias são mais simples de resolver, com manutenção e limpeza regular, um plano de drenagem pluvial da cidade deve ser suficiente. O grande problema fica nas áreas baixas, onde precisa obras estruturais, e que atinge a maior parte das pessoas. Aí o problema é muito mais complicado. Desde o golpe em 2016 não existe mais politica pública social, muito menos obra estrutural. Este ano o presidente acabou com o ministério das cidades, que pensava o desenvolvimento estrutural das cidades. Cabe ao nosso prefeito ir atrás de alternativas, cobrar investimento em obras estruturais para solucionar esse problema de Esteio.

A avenida Beira Arroio foi uma obra estrutural que resolveu uma parte do problema. Agora, para alagar na rua Rio Grande e Navegantes precisa chover muito mais. Porém faltam obras. No bairro Três Marias está alagando quando escorre a água, uma área mais periférica da cidade.

A prefeitura deve assumir essa responsabilidade, deve participar do debate em outras esferas para solucionar essa demanda da cidade.

EOL: Bem, perante todo esse complexo e histórico cenário de enchentes em Esteio, o que fazer? Quais são as soluções de curto, médio e longo prazo? As enchentes poderiam ser evitadas?
Bom, acredito que sim. É necessário um estudo de drenagem pluvial da cidade. Salvo engano, este estudo existe, precisa ser analisado e uma força tarefa para executar, seguir as obras da rua Bento Gonçalves e Três Marias, onde uma área já foi indicada para a construção das bacias de alagamento. Participar dos fóruns regionais de debate sobre a mancha de alagamento do Rio dos Sinos, buscar recursos para obras de infraestrutura e ter compromisso e vontade politica com esta pauta que é central da nossa cidade.

EOL: Por fim, uma questão bem importante. Salvo se estiver enganado, todos são prejudicados pelas enchentes, não há quem lucre diretamente com elas. Mas os mais pobres são muito mais prejudicados, certo? Por que?
Sim, pois no processo de urbanização de Esteio as áreas baixas das margens dos arroios também passaram por processos de ocupação concomitantes ao dos loteamentos. Hoje a área mais vulnerável às enchentes é a mais periférica da cidade.

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