As chuvas dos últimos dias foram intensas. Muita água rolou e Esteio está “abaixo d’água”. Na rua Rio Grande, em frente à Morada 1, nem de carro é possível passar e a água invadiu casas e estabelecimentos comerciais. Na ponte da Avenida Claret e da rua Novo Hamburgo, nos bairros São José, 3 Marias e Novo Esteio e em vários outros pontos da cidade a água invadiu casas, bloqueou ruas e inundou estabelecimentos comerciais.
Pessoas perderam móveis, roupas e documentos e muitos não puderam se locomover. Com a chegada do inverno, as enchentes trarão além de prejuízos econômicos, doenças para crianças, idosos e famílias. Alguns acusam São Pedro, outros o próprio povo de Esteio, mas a responsabilidade é de quem?
Um problema nacional que afeta os mais pobres
Alagamentos não são casos isolados ou meros acidentes. Veja-se a última tragédia no Rio de Janeiro, por exemplo, que causou até mortes. São na verdade um problema nacional que deveria ser enfrentado a partir do governo federal com um plano nacional e investimento pesado.
Há casos em que os alagamentos são tão violentos que todos são afetados. Mas a regra é outra: quem é mais pobre sofre mais. Os mais pobres sofrem mais com os alagamentos porque normalmente moram, trabalham e estudam em lugares com menos investimento público, ou até lugares impróprios pra moradia – mas que não tendo outra opção, acabam sendo os lugares possíveis para ter um teto.
Enchentes em Esteio, um problema histórico
Nós vivemos em uma região geográfica de clima subtropical úmido, uma região que chove muito. Isso é parte da natureza e quanto a isso não há o que fazer. A verdade é que pode até piorar com as mudanças climáticas resultado do aquecimento global. Lutar contra as chuvas não dá. Mas enfrentar as enchentes é possível e necessário.
Moradores antigos da cidade, desde antes de Esteio ser emancipado de São Leopoldo, em 1953, já relatavam problemas de alagamentos e enchentes. 12 prefeitos já governaram a cidade e embora uns investiram mais e outros menos, o problema continua.
Por isso, justiça seja feita: não dá pra culpar São Pedro ou a natureza, nem dizer que foi um acidente como se fosse algo casual. Todo ano tem enchente em Esteio/RS, todo ano os trabalhadores têm suas casas e bairros alagados.
VÍDEO – A situação dos moradores de Esteio após as chuvas
A culpa é do povo?
Há aqueles que culpam a própria população pelas enchentes: “O povo é porco e bota lixo no chão”, “o povo não tem consciência e despeja lixo nos arroios” e por aí vai. Embora seja verdade que há casos de descarte inadequado de lixo, não é esse o motivo das enchentes. A culpa não é do povo. Alertamos inclusive sobre esta lógica de culpabilizar a vítima: é assim com a cultura do estupro quando dizem que a culpa da mulher ser estuprada é porque usou saia curta. É assim com o trabalhador que se acidenta quando dizem que ele foi distraído ou preguiçoso.
Responsabilizar a vítima é uma forma dos patrões e dos governos confundir a população: cria falsos culpados para esconder os verdadeiros. Não concordamos.
Mas vamos supor que todo o problema das enchentes estaria resolvido caso o povo descarte o lixo adequadamente. Não parece razoável que ao invés de culpar a população, o papel do poder público deveria ser o de criar programas de educação ambiental para conscientizar a população? Infraestrutura de descarte e coleta adequada? Valorização dos garis e profissionais da limpeza urbana?
A responsabilidade é da especulação imobiliária e do governo municipal
O responsável número 1 pelas enchentes em Esteio é o prefeito Leonardo Pascoal (PP) e a especulação imobiliária. É do prefeito que deve partir as iniciativas, os planos e investimentos para enfrentar esse problema histórico na cidade. Seja prefeito do PP, do PT, do partido que for. Se não cobramos do prefeito, cobramos de quem?
Procuramos no site da prefeitura e não conseguimos descobrir quanto foi investido em políticas de saneamento básico, contenção dos arroios, medidas emergências de gestão de crises, etc.
As construtoras também são responsáveis porque (com o aval da prefeitura e dos órgãos estaduais de fiscalização) constroem empreendimentos e loteamentos em locais impróprios. Locais que são alagados por força da natureza e ou que alteram o curso natural das águas, criando efeitos colaterais terríveis.
Além do mais, Esteio é a terra do Vice-Governador Ranolfo Vieira (PTB). O que ele e Eduardo Leite (PSDB) farão sobre assunto?
Pascoal antes de ser prefeito ia aos locais de enchente fazer populismo. E agora, cadê o Pascoal? Ele que é muito ativo nas redes sociais, até o fim da manhã deste sábado (27/4) não havia publicado nada.
Exigimos do governo municipal que torne público, como manda a Lei de Acesso à Informação, os investimentos relacionados ao enfrentamento às enchentes e quanto e quais empresas recebem benefícios e isenções fiscais. Pois teria que ter dinheiro sobrando pra renunciar arrecadação de impostos. E exigimos que cumpra suas promessas de campanha e enfrente de fato o problema das enchentes na cidade.
A Câmara de Vereadores e o Judiciário não podem se omitir
Após a última enchente no Rio de Janeiro, a Câmara de Vereadores abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), presidida por Tarcísio Motta (PSOL), para investigar. É um bom exemplo de uma entre tantas coisas que os vereadores de Esteio deviam fazer. Até a publicação desta matéria, desconhecemos qualquer iniciativa de Euclides Castro (PP), presidente da Câmara, ou por exemplo de Sandro Severo (PSB) e Felipe Costella (MDB) da base do governo. Também não sabemos de qualquer ação dos vereadores do PT que são da oposição.
Os líderes do judiciário com seus super salários e “auxílios” sem fim tem a obrigação legal de agir. Juízes e promotores podem e devem cobrar providências do governo municipal. Não caberia o Ministério Público ingressar contra o prefeito, por exemplo?
Por um plano de investimentos para enfrentar as enchentes!
Sabemos que é preciso investir em programas de prevenção e mitigação dos efeitos das chuvas, aprimorar as medidas emergenciais de gestão de crises e situações de emergência e revisar os protocolos de atendimento e acolhimento aos atingidos. É preciso, também, garantir políticas de saúde pública e saneamento ambiental voltadas para o enfrentamento dos problemas sanitários relacionados às inundações, bem como priorizar estratégias de prevenção e adaptação às mudanças climáticas.
Como disse o projeto da CPI das enchentes do Rio de Janeiro, não dá para evitar as chuvas, mas dá para evitar os desastres.
Fotos e vídeos: Rodrigo Jankoski
* Graziela é presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Esteio e Lucas é membro do PSOL Esteio.
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