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CULTURA

Vida longa ao Olodum! Um salve aos seus 40 anos de História

Por: Jean Montezuma, de Salvador, BA

Fundado em abril de 1979, o bloco afro Olodum surgiu como uma alternativa para dar aos moradores do Maciel-pelourinho a oportunidade de brincar o Carnaval de forma mais organizada. Naquele momento,  o Pelourinho e seus moradores – de absoluta maioria negra – sofriam de forma aguda com o abandono e a marginalização  por parte do poder público.

O Olodum nasce como um grito de protesto e afirmação de um povo que tem direito à vida, e o direito a viver plenamente sua cultura, suas festas, seus valores. Logo em seu primeiro Carnaval, em 1980, o Olodum levou às ruas mais de dois mil associados.

Nos anos seguintes, o Olodum seguiu sua trajetória de afirmação da cultura negra e valorização das nossas raízes africanas. Em 1981, o tema do Carnaval foi “A festa do rei Oyo da Nigéria”. Em 82, “Guiné-Bissau: estrela da revolução africana”. Nos anos seguintes, homenageou Tanzânia, Moçambique e celebrou a caribenha ilha de Cuba.

Egito-Madagáscar 

Em 1987, um ano histórico. O Olodum lançou o seu primeiro disco, Egito-Madagáscar, marco fundacional do genuíno samba-reggae, gênero musical criado pelo genial Neguinho do Samba. Ao ritmo pulsante, vivo e apaixonante da percussão, se unem letras carregadas de tradição e poderoso significado.

Na música ‘Faraó divindade do Egito’, os versos nos transmitem o orgulho dos laços do Olodum com o seu berço, o Pelourinho, e a sua sintonia com a luta negra por liberdade e igualdade:

“Pelourinho
Uma pequena comunidade
Que porém Olodum uniu
Em laço de confraternidade (…)

E nas cabeças
Enchei-se de liberdade
O povo negro pede igualdade
Deixando de lado as separações”

O Olodum ganhou o mundo. Lançou um DVD,  15 discos, vendeu cinco milhões de cópias. Se apresentou em mais de 35 países, para 20 milhões de pessoas. É um dos grupos artísticos  brasileiros mais reconhecidos internacionalmente e já fez parcerias com ícones como Spike Lee, Michael Jackson, Paul Simon, Jimmy Cliff, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil,  Caetano Veloso, e uma longa lista.

Mais que um bloco

A contribuição do Olodum vai muito além do Carnaval, que por si só já teria valor imensurável. É  uma organização que é parte da história do movimento negro brasileiro. Em 1984, criou no pelourinho o projeto Rufar dos Tambores, que viria a se tornar a Escola do Olodum. Um projeto até hoje referência nacional e internacional de educação numa perspectiva de valorização da pluralidade cultural.

Em 1990, é criado o Bando de Teatro Olodum. Mais conhecido popularmente apenas como “O Bando”, este projeto, que teve como inspiração o Teatro Experimental do Negro,  desenvolveu uma linguagem e estética própria com peças aclamadas como “Ó pai Ó”, que mais tarde ganharia adaptação para o cinema. O Bando foi o berço de grandes artistas, como Lázaro Ramos.

O Olodum promove também o FEMADUM – Festival de Música e Artes do Olodum – que de uma iniciativa voltada para escolha dos temas dos carnavais do bloco, tornou-se atualmente o maior festival de música e artes Afro do Brasil.

Na língua yorubá Olodum significa “Deus dos deuses” ou “Deus maior”, uma referência a Olodumaré, Deus criador do Universo. Um nome digno de um bloco que em 40 anos de História tanto criou, tanto fez pelo resgate e a reafirmação da nossa História e nossa cultura. Olodum é criação, Olodum é afirmação, Olodum é Resistência.

Salve ao Olodum!

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