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Cinco questões sobre o debate dos presidenciáveis na Band

Reprodução

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Mais uma vez, a Band realiza o primeiro debate, em TV aberta, entre os candidatos a Presidente da República. Ele acontece hoje, quinta-feira, dia 09 de agosto, às 22h. Oito candidatos estarão presentes: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).

Pelo menos cinco questões merecem destaque neste debate:

1 – Ausência de Lula e do PT
Uma das grandes questões que antecedem este primeiro debate em TV aberta é o impedimento de Lula participar das eleições. O TRF-4 não aceitou o recurso do PT para que Lula pudesse participar, afinal será inscrito como o candidato do PT no dia 15 de agosto, junto ao TSE.

Chegou-se a pedir que ele pudesse participar por teleconferência, afinal ele está preso a mais de quatro meses em Curitiba, mas mesmo assim o pedido não foi aceito pelos desembargadores de uma das turmas deste Tribunal.

Diante da negativa da Justiça, o PT tentou um último recurso junto a Band, solicitando que Fernando Haddad (PT-SP) pudesse representar Lula no Debate. Haddad foi anunciado como uma espécie de vice-provisório de Lula – e um provável substituto dele, caso sua candidatura seja de fato impugnada. Mas, a direção da emissora negou a possibilidade de substituição.

Não apoiamos os governos do PT e nem estamos de acordo com o projeto político da direção petista de manter suas alianças com partidos e políticos da velha direita, inclusive muitos que apoiaram o golpe parlamentar de 2016, comprometendo-se em aplicar um programa que não mexa de verdade nos interesses das grandes empresas e bancos.

Mas, não podemos nos calar diante da condenação sem provas, a prisão política e o impedimento absurdo de sua candidatura a Presidente. O veto a presença de Lula e do PT no Debate da Band é mais um capítulo desse processo jurídico e policial reacionário, fortemente marcado pela seletividade.

2 – Todas as candidaturas deveriam participar
Além do veto a Lula e ao PT, outros quatro candidatos não poderão participar, são eles: João Amoedo (Novo), João Goulart Filho (PPL), José Maria Eymael (DC) e Vera Lúcia (PSTU). O argumento utilizado é que seus partidos e coligações não possuem um mínimo de cinco parlamentares no Congresso Nacional. O que desobriga as emissoras de TV de convidá-los.

Mais um critério antidemocrático. Acreditamos que todos os (as) candidatos (as) deveriam ter o mesmo direito e espaço para apresentar suas ideias, concordando ou não com elas. Essa norma é mais uma herança maldita da famigerada reforma eleitoral, chefiada por Eduardo Cunha, quando ele ainda era presidente da Câmara dos Deputados e antes de ser preso.

Protestamos contra essa atitude arbitrária e lamentamos, principalmente, a ausência da companheira Vera Lúcia, do PSTU, no debate de hoje à noite.

3 – O bloco do golpe e do ajuste
Grande parte dos candidatos presentes no Debate pode ser classificada facilmente numa mesma etiqueta: é o bloco dos candidatos do golpe e do ajuste. Este grupo está por trás da manobra reacionária do impeachment de Dilma, apoiou a posse do presidente ilegítimo – Michel Temer (MDB-SP) e sustenta esse governo, seu ajuste e as contrarreformas que retiram direitos do povo trabalhador.

O grupo do golpe e do ajuste é formado principalmente pelos candidatos: Alckmin (PSDB), Bolsonaro (PSL), Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos). Todos eles são amigos de Temer e inimigos dos trabalhadores, dos oprimidos e da juventude.

Deverão explicar porque eles e seus partidos apoiaram a reforma trabalhista e a ampliação da terceirização da mão de obra – que gera um grande desemprego e subemprego; o congelamento dos investimentos nas áreas sociais – o que vem ampliando ainda mais o caos nos serviços públicos, como na saúde, por exemplo; e a reforma do ensino médio, que visa submeter de forma definitiva os currículos e a educação de nossos filhos aos interesses do mercado.

Entre estes, chama a atenção dois: Bolsonaro – o candidato da extrema-direita, com posições fascistas, que consegue combinar o que tem de pior na política brasileira, como a defesa do “período de chumbo” da ditadura militar e um programa econômico que quer privatizar o que sobrou de patrimônio nacional (inclusive, a Petrobrás) e retirar mais direitos da maioria do povo; E Alckmin – que montou uma aliança com nove partidos, todos que apoiaram Temer, especialmente o chamado “Centrão”, que representa de forma inequívoca o verdadeiro “balcão de negócios” que virou o Congresso Nacional e a política em nosso país.

A vitória de qualquer um destes candidatos é a certeza que uma de suas primeiras medidas é aprovar a reforma da previdência, que quer aumentar ainda mais a idade mínima para se aposentar.

4 – Cuidado com as falsas alternativas de mudança
Existe um perigo adicional: a ausência de Lula e a crise de representação dos partidos da velha (direita que apoiaram o governo ilegítimo de Temer) podem abrir espaço para falsas alternativas de mudança.

Não é verdade que Ciro Gomes (PDT) – com sua vice “moto-serra” ligada ao agronegócio – represente de fato alguma alternativa de esquerda. Seu histórico político ligado aos partidos da velha direita, sua tentativa de fechar com o “Centrão”, seu compromisso com o Mercado, entre outros elementos, transforma seu discurso, muitas vezes de oposição, apenas em promessas mentirosas.

Outra opção perigosa é Marina Silva. Ela busca construir um discurso contra a velha política, mas é parte do jogo da elite política, basta lembrar que ela apoiou Aécio Neves (PSDB), um dos símbolos da corrupção política, no segundo turno das últimas eleições. Marina apóia a idéia de uma reforma da previdência, que na prática seria muito pouco diferente da proposta de Temer.

Estas duas candidaturas no governo vão representar, mais uma vez, a frustração do sentimento de mudança da maioria da população.

5 – A estreia de Guilherme Boulos
Acreditamos que a grande novidade da noite será, sem dúvida nenhuma, a estreia de Guilherme Boulos em debates dos presidenciáveis em TV aberta. Sua candidatura foi lançada por uma frente política e social inédita em nosso país, formada por partidos de esquerda como o PSOL e o PCB e por movimentos sociais combativos como o MTST e a APIB.

Com certeza, a sua presença no Debate da Band fará a diferença. Pois, ele vai poder confrontar diretamente os candidatos do golpe e do ajuste, denunciar a prisão política e o impedimento absurdo da candidatura de Lula, desmascarar as falsas promessas de mudança e apresentar um programa que enfrente de verdade os privilégios dos ricos e poderosos, colocando pela primeira vez o MDB e os golpistas na oposição.

Entre as suas propostas, podemos destacar: a anulação das reformas reacionárias de Temer, o aumento significativo de investimentos sociais, o fim das privatizações e a garantia de uma Petrobras 100% estatal e que todo o petróleo e o pré-sal serão nossos, o aumento de impostos sobre as grandes fortunas e heranças, a auditoria da dívida pública, entre outras propostas que demonstram a idéia inicial de sua campanha: Vamos, sem medo de mudar o Brasil!

Hoje, será uma noite muito importante, porque milhões de pessoas poderão conhecer melhor a candidatura que representa uma nova esperança de esquerda em nosso país. Não deixe de conferir!

Marcado como:
eleições 2018