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Muito além do futebol: Mo Salah, o Rei do Egito

Por: Gabriel Santos, para o Lateral Esquerda

Nas ruas do Cairo, capital do Egito, ele está por todos os lados. Seu rosto enfeita as paredes e muros da cidade. Seu nome é carregado orgulhosamente por inúmeros fãs na parte de trás das camisas da seleção egípcia e do Liverpool. Nas lojas da cidade, ao lado de tapetes, tecidos, televisões, é fácil achar o nome e o rosto de Mohamad Salah em canecas, canetas, pôster e os mais variados tipos de materiais. O craque de 25 anos, da seleção egípcia e do Liverpool é a mais nova obsessão nacional. Uma Salahmania toma conta do país, assim como se espalhou como gripe pelas ruas da cidade dos Beatles, desde que chegou à Inglaterra.

O Egito sofre com uma grave crise econômica, desemprego, desvalorização de sua moeda, e de ataques a direitos sociais e democráticos. O governo atual é fruto do golpe militar de 2013. Dessa forma, a população encontrou em Mo Salah um motivo de orgulho. O jovem atacante, que ter como marca registrada o largo sorriso e seus cabelos encaracolados, marcou 44 gols em 52 jogos na sua temporada de estréia pelo Liverpool e foi o principal nome da equipe que chegou a final da Liga dos campões. Soma-se a isso o fato dele ter marcado aos 50 minutos do segundo tempo o gol que colocou o Egito de volta à Copa do Mundo depois de 18 anos e pronto, ele se tornou praticamente um Faraó de chuteiras.

Adorado tanto no Egito, quanto na Inglaterra, Salah tem ultrapassado as barreiras do futebol. De certa forma, seus gols e dribles têm sido capazes de diminuir a intolerância religiosa e a hostilidade cultural existentes no Reino Unido. A cada gol, Mo Salah se ajoelha, aponta para os céus e agradece. Esse pequeno gesto tem grande valor para os 28 mil egípcios e os 4 milhões de muçulmanos que vivem no Reino Unido. Com o número de fãs que assistem no estádio e na televisão, seus gols, com os cerca de 5,3 milhões de seguidores no Twitter e os mais de 12 milhões no Instagram, Salah tem sido visto como um embaixador e com suas ações tem pregado a multidiversidade, respeito, tolerância e igualdade.

A torcida do Liverpool, um dentre, se não o maior clube da Inglaterra, é apaixonada pelo atacante. Dentre diversas músicas cantadas no estádio de Anfield, muitas são homenagens ao egípcio, que é chamado carinhosamente de Faraó. Um das canções fala diretamente sobre a religião do craque: “Se ele é bom o bastante para você, ele é bom o bastante para mim. Se ele marcar mais alguns, serei muçulmano também. Ele está sentado na mesquita, é lá que eu quero estar”. No mês de meio, o Museu Britânico anunciou que colocara as chuteiras de Salah ao lado das estátuas de Faraós do Egito Antigo, como Ramsés 2º e Amenhotep 3º. Em seu país natal, o ídolo chegou a ser tema de formatura de uma turma da faculdade de Engenharia da universidade de Port Said.

Em seu país natal, mesmo aqueles que não eram acostumados a acompanhar futebol, hoje conhecem o atacante, e param um pouco de seu dia para sentar em frente à TV e ver os jogos do Liverpool. Durante a final da Liga dos Campões da Europa, as tradicionais cafeterias do Cairo estavam lotadas, e entre goles de chá e baforadas de narguilé, canções homenageando o jogador que é orgulho nacional. Quando Mo Salah saiu de campo chorando, após entrada do espanhol Sergio Ramos, o povo egípcio chorou junto. O advogado Bassem Wahba anunciou em um programa da TV local que daria uma entrada em um processo na FIFA contra o defensor do Real Madrid, pelo dano físico e psicológico que causou ao povo egípcio e a Salah, pedindo uma compensação no valor de R$4,5 bilhões.

Em preparação para a Copa, já na Rússia, mesmo sem entrar em campo por conta de sua lesão, a mera presença de Salah no estádio durante um treino do Egito, em Grozni na Tchetchenia, levou 8 mil pessoas ao local, aos gritos de “Mo Salah Rei do Egito”.

Apesar de todo seu talento e habilidade, para os egípcios e para os outros milhares de fãs espalhados pelo mundo árabe o futebol é a parte que menos importa em Mo Salah. São em especial as atitudes do atacante do Liverpool fora de campo que fazem com que ele ganhe cada vez mais admiradores.

Uma das histórias envolvendo Mo Salah foi quando, no dia do jogo contra o Congo, que classificou o Egito para a Copa da Rússia, a casa em que sua família morava foi assaltada. O assaltante foi encontrado, porém Salah pediu que ele não fosse preso, e ainda doou dinheiro e conseguiu um emprego para o mesmo.

Após a classificação da Copa, um famoso empresário egípcio ofereceu a Salah uma casa de luxo como um prêmio pelo gol marcado. O jogador recusou e pediu que o dinheiro fosse investido em casas e doações para as famílias de sua cidade natal, Nagrig. Além disso, costuma fazer constantes doações a centros de reabilitação e escolas de seu país. Por diversas vezes comprou máquinas para o hospital da região em  nasceu.

A imagem de Mo Salah é tão respeitada que a mera aparição dele em uma propaganda do governo contra as drogas, fez com que em três dias o número de pessoas que buscassem algum centro de reabilitação quadruplicasse.

O craque foi lembrado por milhares de pessoas nas recentes eleições de seu país, que, como forma de protesto contra a farsa eleitoral e contra o governo, colocaram o nome do jogador na célula. Resultado: Salah ficou em segundo lugar.

Se antes percorria nove horas diárias de sua casa ao centro de treinamento de seu primeiro clube, na época aos 14 anos, hoje Mo Salah tem ganhado o mundo. O atacante é um dos principais nomes da Copa da Rússia e um dos melhores jogadores da atualidade. Seus gols e dribles dão esperança e alegria para milhares de egípcios e para africanos espalhados pelo continente. Mo Salah tem ultrapassado as quatro linhas e se tornado um símbolo contra a intolerância religiosa. Em tempos de preconceito e crescimento da xenofobia na Europa, o futebol é responsável por aproximar culturas e fazer de um mulçumano egípcio uma das pessoas mais queridas do Reino Unido.

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Lateral Esquerda

Foto: Reprodução Youtube

Marcado como:
copa do mundo