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Hoje somos todas argentinas. Em defesa do aborto legal, seguro e gratuito

Anna Carolina Costa*, do Rio de Janeiro (RJ)
Manifestação em Buenos Aires, no dia 04 de junho. Foto Prensa Obrera

Manifestação em Buenos Aires, no dia 04 de junho. Foto Prensa Obrera

Nesta quarta-feira, 13, o Congresso Nacional da Argentina vota o projeto de lei sobre o aborto e uma grande maré verde de mulheres tomará conta da capital, Buenos Aires. Vamos juntas com nossas hermanas para as ruas no Brasil. A América Latina vai ser toda feminista!

É tempo de resistência em diversas partes do mundo, contra a brutalidade das condições de vida das mulheres trabalhadoras! A ofensiva do capital se traduz concretamente na retirada de direitos trabalhistas, na precarização de serviços públicos de saúde, de educação, no aumento de subempregos e das taxas de desemprego. A carga tão pesada que sempre recaiu sobre as costas das mulheres no capitalismo piorou intensamente e por isso a luta feminista tem que caminhar lado a lado com a luta da classe trabalhadora de conjunto. Entendemos que a legalização do aborto é combinada a luta pela garantia de serviços públicos que garantam, com qualidade, educação sexual nas escolas para conscientizar e decidir, distribuição de anticoncepcionais para não abortar e aborto legal, seguro e gratuito para não morrer.

O aumento do conservadorismo é parte da crise econômica e social que se alastra pelo mundo e a todo momento procura desviar a barbárie causada pelo capital, culpando imigrantes, negros e negras, lgbts, mulheres, oprimidos e oprimidas de forma geral por essa vida miserável que leva a classe trabalhadora.

No Brasil vivemos um verdadeiro extermínio do povo preto e pobre, sob o falso argumento do combate ao tráfico de drogas. É responsabilidade da burguesia e de seus governos, que o aumento do homicídio de negros e negras tenha crescido 23%, contrastando com a queda em 6,8% dos homicídios de pessoas não negras.

Foi assim com Claudia em 2014, quando o camburão da Polícia Militar arrastou seu corpo por vias públicas no Rio de Janeiro. Cláudia, presente! Há poucos dias a grande imprensa brasileira noticiou um crime bárbaro contra uma mulher, moradora de rua em São Paulo, submetida a uma laqueadura e esterilizada compulsoriamente, por ordem do Ministério Público, que justificou o crime pelo fato da mulher ser dependente química e já ter outros filhos.

Jair Bolsonaro, um político fascista, faz declarações misóginas constantemente em espaços públicos. Para ele, mulheres devem ganhar menos porque engravidam e gozam de licença maternidade; para ele, gerar uma filha é sintoma de espermatozóide fraco. A “bancada da Bíblia”, cada vez maior e mais ousada no Congresso, tem como um dos principais alvos de sua fúria moralista a luta feminista pela descriminalização e legalização do aborto. Estão ativos na ofensiva para combater a legislação já tão restrita a interrupção da gravidez no Brasil. Com o projeto escola sem partido tentam criminalizar educadoras e educadores que apresentam o debate de gênero e sexualidade nas escolas, como se fosse doutrinação.

O aborto é uma prática cotidiana na vida das mulheres, a legalidade ou ilegalidade não tem muita interferência sobre nossa decisão. Mas interfere sobre as consequências para a nossa saúde. Hoje, a cada minuto uma mulher aborta no Brasil, sendo cerca de meio milhão de mulheres por ano. Ao todo, 48% dessas mulheres vão parar no hospital devido a abortamentos inseguros. O abortamento inseguro provoca 602 internações diárias por infecção, 25% dos casos de esterilidade e 9% dos óbitos maternos, sendo a terceira causa de mortes maternas no Brasil. Acontece cerca de uma morte a cada 11 minutos por abortamento inseguro.

No mundo são realizados cerca de cinco milhões de abortos ao ano, sendo 97% em países onde o aborto é ilegal. Se consideradas as negras e pardas juntas, elas realizam cerca de três vezes mais abortos que as mulheres brancas, morrem ou sofrem sequelas três vezes mais também.

É tempo de resistência, hermanas! O capitalismo, sob sua face machista e misógina, tenta controlar nossos corpos, um direito elementar de todo ser humano. Dizem que a gravidez não desejada é culpa da mulher, que o estupro é culpa da mulher, que o feminicídio é culpa da mulher. Nós dizemos: a culpa nunca é da vítima! Nos querem belas, recatadas e do lar. Mas somos bravas, da luta e das ruas! Maternidade é uma escolha, o corpo é nosso!

Eles querem nos calar. Mataram Marielle, preta, bissexual, feminista, de esquerda, defensora da legalização do aborto, parlamentar com projetos voltados à saúde da mulher. Mal sabiam que Marielle é semente e sua luta brota em cada uma e em todas nós. Marielle presente, hoje e sempre!

A vitória das nossas companheiras irlandesas, mesmo sob o signo de um forte conservadorismo católico, as mobilizações das chilenas e a vitória tão próxima aí na Argentina, fazem pulsar nosso sangue feminista, oxigenam nosso corpo para a luta, nos fazem crer que a solidariedade feminista internacional é mais forte e mais viva do que nos domesticaram a acreditar! Legalizar o aborto, mais do que possível, é necessário. Pelas que morreram vítimas da clandestinidade, por nós e pelas que virão. Vivas nos queremos e permaneceremos!

Nosso ato aqui no Brasil é um pedaço do ato aí na Argentina. Estamos com nossos lenços verdes, nossas vozes e nossos punhos erguidos juntos aos de vocês. Vamos juntas porque a América Latina vai ser toda feminista! Nenhuma a menos! Viva a Resistência Feminista Latina!

*Anna Carolina é professora no Rio de Janeiro (RJ) e da Comissão de Mulheres da Resistência/PSOL

FOTO: Ato em Buenos Aires, no dia 04 de junho. Prensa Obrera

 

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