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BRASIL

O que fará o PT nas eleições?

Editorial 8 de junho
Manifestantes em Brasília. Foto Lula Marques / Agencia PT

Manifestantes em Brasília. Foto Lula Marques / Agencia PT

Em meio ao agravamento da crise política, incertezas eleitorais e intensa turbulência no mercado, a pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto será lançada oficialmente nesta sexta-feira (8). O evento será em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), e contará com participação de dirigentes, governadores e parlamentares petistas.

Apesar de o ex-presidente seguir preso em Curitiba, a direção do Partido dos Trabalhadores mantém a versão pública de que o lançamento é pra valer. No dia 15 de agosto, a candidatura deve ser registrada. Nos bastidores, porém, os dirigentes da sigla reconhecem que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), muito provavelmente, cassará o registro em base à lei da Ficha Limpa.

O lançamento ocorre na esteira de fortes tensões internas. De um lado, um setor do PT defende a manutenção da candidatura de Lula até o limite, com sua substituição por outro nome do partido (Haddad ou Jacques Wagner) quando ocorrer o impedimento. Do outro, uma ala mais pragmática, vinculada sobretudo aos governadores do Nordeste, quer a aliança com Ciro Gomes (PDT) já no primeiro turno.

 

A escalada do golpe: o principal líder político do País na cadeia
Atrás das grades há dois meses, parece cada vez mais remota a possibilidade de Lula ser solto antes do fim das eleições. Mesmo encarcerado numa espécie de solitária, sem poder se pronunciar publicamente, o petista mantém folgada liderança nas pesquisas, tanto no primeiro como no segundo turno. Assim, a cada dia que passa, fica mais escancarado o caráter político da condenação. Os golpistas precisam de Lula preso para que ele não possa voltar ao governo através do voto popular.

Com o principal candidato da oposição impedido arbitrariamente, caminhamos para uma eleição de forte intensidade antidemocrática, manchada pela prisão política de Lula.

Diante de um cenário de tamanha gravidade, a direção do PT parece refém da situação, não sendo capaz de articular uma defesa efetiva de seu principal líder.  Afinal, não será apenas com discursos inflamados, encenações eleitorais e medidas jurídicas que se reverterá o quadro. A pressão e mobilização popular são fundamentais para deter a ofensiva reacionária e garantir direitos democráticos.

Mas muitos dos dirigentes, parlamentares e governadores do PT se mostram mais preocupados com cálculos eleitorais, visando a manutenção de cargos e poder na máquina estatal, do que com uma luta séria pelas liberdades democráticas, mesmo quando essa pauta diz respeito à sua própria sobrevivência política.

Primeiramente, não construíram um processo de mobilização antes da prisão de Lula. Depois, entregaram o petista à Polícia Federal sem a resistência necessária. Agora, preparam a campanha eleitoral na qual, para muitos parlamentares e governadores petistas, a popularidade de Lula é somente um ativo para se conseguir mais votos nas urnas. Para piorar, um setor do partido, de olho em cargos, quer abandonar a campanha de Lula para apoiar Ciro Gomes já no primeiro turno. Torna-se compreensível, assim, a justa indignação de parcela expressiva de militantes do PT com os rumos do partido.

A direção do PT não apostou nas ruas para derrubar Temer e as reformas
A bem da verdade, o PT perdeu diversas oportunidades de combinar a mobilização social contra o governo Temer com a luta pelas liberdades democráticas. Por exemplo, em 2017, preferiu colocar o pé no freio da mobilização contra as reformas de Temer, depois do forte dia de greve geral de abril e dos escândalos de corrupção da JBS. Nas últimas semanas, com a greve de caminhoneiros, mais uma vez, a direção petista e cutista preferiu não apostar num processo de luta popular, facilitando o trabalho de Jair Bolsonaro, que aumentou sua influência.

Desse modo, em pelos menos duas oportunidades, não se aproveitou a possibilidade de derrubar as medidas reacionárias e o próprio Temer pela força da mobilização dos trabalhadores, o que certamente abriria um cenário mais favorável à liberdade de Lula e à defesa das garantias democráticas.

A direção do PT nada aprendeu com erros estratégicos que prepararam o terreno para o golpe parlamentar em 2016. As prioridades seguem sendo a luta institucional-parlamentar, em detrimento da mobilização nas ruas, e a aliança com partidos da direita – e até mesmo com expoentes do golpismo -, como revela as inúmeras parcerias eleitorais com o MDB, DEM etc. nos estados. Numa palavra: a estratégia da conciliação de classes segue intacta, apesar do descontentamento de setores do partido.

A esquerda precisa de um novo rumo
A quatro meses das eleições, sem ainda uma definição final sobre sua estratégia eleitoral, se vai de candidato próprio ou se apoia Ciro Gomes, o PT tem pouco a oferecer em termos de perspectiva para a esquerda. Mesmo com seus dirigentes históricos presos, mesmo sofrendo brutal perseguição político-judicial, a direção majoritária do partido de Lula não dá sinais de reavaliar seu compromisso com a ordem dominante. Ao invés de apostar na luta dos debaixo, se subordina aos de cima.

É tempo de apostar em novos caminhos, de retomar um projeto anticapitalista de enfrentamento com o sistema. A candidatura de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara, pelo PSOL, é a aposta na construção de uma nova alternativa de esquerda vinculada aos movimentos sociais. Uma alternativa que não se limite ao processo eleitoral, que tenha, isto sim, o potencial de relançar o sonho da transformação social. A militância do PT que mantém essa perspectiva está convidada a somar forças nessa luta.

FOTO: Manifestantes com bandeiras do PT em Brasília. Lula Marques / Agência PT

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